Economia
PE impõe restrição a produtor alagoano

Maikel Marques Repórter Palmeira dos Índios, AL; Bom Conselho, PE - A Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro) deve publicar no dia 31 deste mês portaria impondo uma série de restrições ao agronegócio alagoano, que pode sofrer conseqüências irreversíveis. A exportação de bovinos para abate ou para produção de leite e derivados só será permitida aos criadores alagoanos que concordarem e pagarem a conta do confinamento de seus animais durante 15 dias em território pernambucano, antes da concretização da venda. Principal produto da Bacia Leiteira alagoana, o leite cru só será aceito mediante envio prévio de informações sobre vacinação e origem da vaca produtora do alimento. O principal revés à frágil economia sertaneja pode ser imposto aos produtores de coalho, que exportam 75 toneladas/mês para o Estado vizinho. Só permitiremos a importação do queijo de coalho que tiver o Serviço de Inspeção Federal (SIF), avisa o agrônomo Jair Virgínio, diretor da Agência pernambucana. O diretor da Adagro confirmou que as novas regras entram em vigor no dia 1º de fevereiro. As restrições fazem parte das exigências do Ministério da Agricultura, que promoveu inspeção e elevou a classificação de Pernambuco de zona de risco desconhecido para zona de risco médio no que se refere ao combate à febre aftosa, doença que ataca principalmente o rebanho bovino. Com a vigência das novas regras, a exportação de carne bovina, suína, caprina ou bubalina, além do leite e de seus derivados, terá que seguir viagem pela única cancela de acesso dos produtos alagoanos. O corredor sanitário de Alagoas para Pernambuco funcionará em Bom Conselho. A exportação de qualquer produto passará obrigatoriamente pela divisa com Palmeira, avisa Jair Virgínio. Diante da preocupação dos exportadores, ele diz estar analisando com carinho a proposta de abertura de uma segunda cancela na Zona da Mata ou Litoral Norte. O recado aos produtores que tentarem driblar a fiscalização é claro: o queijo ilegal será destruído, o transportador multado, e o animal será sacrificado. ### Tecnologia para barrar clandestinos A reportagem da Gazeta percorreu a divisa entre Alagoas e Pernambuco. No início da Serra das Pias, à margem da BR 316, em Alagoas, o posto de fiscalização agropecuária funciona num imóvel velho e sem qualquer estrutura de comunicação. Com exceção de um telefone celular, não temos estrutura de comunicação por meio de computador ou Internet, afirmou José Wilson, funcionário da Secretaria de Estado da Agricultura que dá plantão no posto duas vezes por semana. Em Pernambuco, o posto da Adagro funciona equipado com duas viaturas e computador conectado à Internet. Se um veículo com produto animal furar o cerco, temos como manter contato com o posto seguinte para contê-lo com rapidez, explica o engenheiro agrônomo José Nelson de Oliveira. A Adagro foi implantada em dezembro de 2003, quando, Naquela época, Pernambuco só vacinou 32% do seu rebanho, a pressão dos produtores foi muito grande. Tínhamos chegado ao fundo do poço. O Governo pernambucano não teve outra alternativa senão tomar a decisão política de investir pesado [R$ 11 milhões] na criação e estruturação da Adagro, explica o diretor da Adagro, Jair Virgínio. Em novembro de 2005, Pernambuco recebeu os técnicos do Governo Federal. Aprovado na inspeção, o Estado conseguiu mudar sua classificação. Como forma de retribuir a visita de uma comissão de Alagoas à sede da Adagro em Recife, a diretoria da agência pernambucana virá a Alagoas auxiliar a Secretaria Estadual de Agricultura na consolidação da Agência de Defesa Agropecuária de Alagoas (Adeal), cujo projeto de criação acaba de ser aprovado pela Assembléia Legislativa de Alagoas. |MM ### Presidente de Associação diz que Alagoas está ilhada Arapiraca - A mudança de classificação de zona de risco desconhecido para zona de risco médio de Pernambuco pode ter deixado o agronegócio de Alagoas ilhado em território Nordestino. A avaliação é da Associação dos Criadores de Alagoas (ACA). Isso porque Sergipe [zona de risco médio] e Bahia [zona livre da aftosa] já fecharam suas divisas aos produtos de Alagoas. Estamos praticamente ilhados. Qual é o produtor que vai arcar, por exemplo, com os custos do confinamento por 15 dias de um animal em território pernambucano para só depois do fim desse prazo concretizar seu negócio?, questiona o pecuarista Edílson Maia, diretor da Associação dos Criadores de Alagoas (ACA). A preocupação é grande. As novas regras podem inviabilizar o negócio da venda do gado para Pernambuco, completa. CONSEQÜÊNCIAS Alagoas tem pouco mais de 950 mil cabeças de gado. De acordo com o representante dos criadores, o Estado tem uma das melhores genéticas bovinas do País, mas pode sofrer drásticas conseqüências econômicas em virtude da demora da classe política em fazer o dever de casa e cumprir as exigências do Governo Federal para elevar sua classificação quanto ao combate à febre aftosa. Há mais de seis anos não registramos foco da doença. Como não tivemos habilidade para seguir a burocracia federal, estamos ilhados e agora precisamos correr contra o tempo. Se não houver união da classe política para que tenhamos inspeção do Ministério da Agricultura, será o caos econômico do agronegócio alagoano, avisa Edílson, que acredita numa inspeção federal dentro de no máximo 60 dias. Esse cenário de hoje era previsível desde 2003 [quando PE criou a Adagro], diz Maia. Ainda de acordo com o presidente da Associação dos Criadores de Alagoas, o prejuízo econômico que pode vir por causa do chamado efeito dominó poderá ter conseqüências irreversíveis a curto prazo. No agronegócio é assim: vacilou, perdeu. Alagoas não absorve toda a produção de queijo, leite e carne. Se não houver exportação, é desemprego do motorista, do veterinário, do vaqueiro, do tirador de leite e até do vendedor de ração, resume o presidente da ACA, ao comentar o que seria um cenário sombrio para o agronegócio alagoano. |MM ### Alagoas corre o risco de não exportar mais queijo Major Isidoro - Batizado de capital alagoana do leite, com produção diária de 125 mil litros, Major Isidoro responde por 68% da produção de queijo de coalho em Alagoas. Dos 200 fabricantes cadastrados no Estado, 80 estão no município, que também é campeão em produção clandestina do produto. Apenas 14 queijarias têm o selo do Serviço de Inspeção Estadual, confirma Geadna Guimarães, secretária municipal de Agricultura. De acordo com dados do Programa de Arranjo Produtivo (APL) de Laticínios, o município produz 120 toneladas de queijo por mês. Desse total, 75 toneladas, em média, abastecem o mercado consumidor pernambucano. A partir de fevereiro, caso a Adagro cumpra as determinações do Governo Federal, a exportação legalizada do queijo da Bacia Leiteira de Alagoas será reduzida a zero. Só permitiremos o queijo que tiver o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF). São exigências do Governo Federal, explicou Jair Virgínio, diretor da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro). Segundo Gaspar Abreu Vanderlei, gestor do APL/Laticínios, dos 200 fabricantes da Bacia Leiteira, apenas um laticínio de Batalha e outro de Cacimbinhas têm o SIF. Dados da Secretaria de Agricultura de Major indicam que dos 80 fabricantes de queijo do município, apenas 14 têm o selo do Serviço de Inspeção Estadual (SIE), requisito necessário à comercialização do produto apenas no território alagoano. A reportagem da Gazeta apurou que, embora não tenham o SIE, diversos produtores revendem seu produto em Pernambuco. Salvação é o SIF A salvação dos produtores de queijo de Major é a formação de uma cooperativa com apoio do governo para que consigamos o SIF. Temos qualidade, mas perderemos mercado para Estados onde o queijo é ruim, mas tem o SIF, alerta José Simão, que fabrica queijo no povoado Capelinha, em Major Isidoro. Proprietário de fábrica detentora do SIE, José Simão atua no mercado alagoano. Ele exporta principalmente para Arapiraca e Maceió, mas também revende o produto em Santana do Ipanema. Só não amplio o negócio por causa dos custos para manter os padrões de higiene, explica o produtor, que fabrica 220 quilos de queijo coalho por dia. MM ### Criador pleiteia renegociação de débitos Questionado sobre as restrições ao agronegócio da Bacia Leiteira, o produtor Maxwell Faustino [atual presidente da Associação dos Produtores do Semi-Árido - Apressa] resume numa frase o drama de quem depende da ordenha para sobreviver no Sertão das Alagoas. O pequeno produtor é pobre e quem industrializa o leite dele está simplesmente milionário. Enquanto a lógica for essa, não haverá solução para a crise no setor, diz Faustino. Para Faustino, que já foi secretário de Agricultura de Batalha, a solução das dificuldades do agronegócio da região passa pela decisão política. Há seis anos a gente alerta para o que está acontecendo agora. Quando todos estão à beira do afogamento, é que houve consenso e criação da Agência de Defesa Agropecuária. Só não há agilidade para incentivar os pequenos produtores de leite e de queijo. Estes estão quase mortos, critica Faustino. O presidente da Apressa também encabeça a luta pela renegociação das dívidas de 34 mil produtores rurais de Alagoas. Eles continuam sem crédito porque não conseguem honrar os débitos de financiamentos bancários. A questão está no Senado Federal e deve ser votada ainda em fevereiro. Se houver aprovação, resolveremos parte do problema porque temos agora a perspectiva de fechamento parcial da fronteira com Pernambuco, alerta. Guerra dos centavos Para sobreviver à falta de incentivo estatal, os pequenos produtores de leite ou queijo travam verdadeira guerra pelos centavos oriundos da produção. O lucro de um quilo de queijo é de R$ 0,50, diz José Simão, de Major Isidoro. O preço do litro de leite pago pelos industriais aos produtores é de no máximo R$ 0,40 centavos. A busca pelo lucro é a guerra pelos centavos, resume Geadna Guimarães. |MM