Economia
Subdesenvolvimento é barreira para AL

| NIVIANE RODRIGUES Repórter Apesar do crescimento econômico e social experimentado por Alagoas nos últimos seis anos, o Estado não conseguiu sair da condição de subdesenvolvimento em que permanece até hoje, e que o coloca no chamado terceiro mundo brasileiro. Uma situação que só se reverte com investimentos maciços em educação, apoio à pequena e micro empresa, desenvolvimento de atividades econômicas que sejam competitivas nos mercados nacional e internacional. A constatação é do professor e chefe do Departamento de Economia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Luiz Antonio Palmeira Cabral e consta de sua tese de mestrado intitulada Planos de desenvolvimento de Alagoas - 1960/2000, que virou tema de livro. No trabalho, que durou três anos para ser concluído, o economista realizou um minucioso estudo, que incluiu o resgate de documentos históricos. O objetivo do pesquisador foi delinear a visão política e estratégica adotada a partir do primeiro plano de desenvolvimento posto em prática em Alagoas no ano de 1960, no governo de Muniz Falcão, até o último, no governo de Ronaldo Lessa, em 2000, e mostrar até que ponto essas políticas públicas contribuíram para o desenvolvimento estadual. As raízes profundas da crise são antigas e difíceis de transpor, segundo constata o economista. Datam do período colonial, que tem como características o latifúndio, as relações baseadas na escravidão, o modelo econômico agroexportador, centrado na monucultura da cana-de-açúcar e as relações sociais desenvolvidas a partir do coronelismo e que ainda hoje se refletem na economia e sociedade alagoanas. Ele vai além e mostra que apesar do potencial de recursos materiais e humanos existente em Alagoas, o Estado situa-se nas últimas posições de todos os indicadores socioeconômicos do Brasil e do Nordeste, principalmente nas áreas sociais, como educação, saúde, habitação e segurança pública. ConcentraçãO de renda Alagoas também supera os demais estados no quesito concentração de renda. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 80% da riqueza alagoana está concentrada na mão de cerca de 30 famílias, e 70% da força de trabalho atua no mercado informal, recebendo menos de um salário mínimo mensal. Na opinião dele, o modelo econômico e social na formação alagoana deixou uma alta fatura a pagar: um frágil processo de industrialização; uma urbanização gerada não pela atração das oportunidades nas pequenas e médias cidades, mas pela inviabilização da vida do homem do campo. ### Alagoas só inicia planejamento em 60 O estudo do professor Luiz Cabral divide Alagoas em três fases. A primeira, que vai de 1960 a 1974, marcou a elaboração do primeiro plano de desenvolvimento do Estado, realizado no governo Muniz Falcão, quando se deu o início do processo de planejamento com a criação da Comissão de Desenvolvimento Econômico de Alagoas (Codeal). A última fase data de 2000, com o lançamento pelo governo Ronaldo Lessa do Plano Plurianual 2000-2003. Durante esse período de 40 anos, Alagoas teve 18 governadores e foram elaborados 12 planos estaduais de desenvolvimento, lembra Luiz Cabral. O chamado Plano de Desenvolvimento de Alagoas, elaborado durante a primeira fase, tinha como propostas a formação da infra-estrutura econômica e estruturação do setor público estadual, revela Luiz Cabral. A segunda fase, considerada de crescimento econômico, vai de 1975 a 1985. Já a terceira e última fase segue de 1986 a 1999, quando Alagoas registra um período de crise e estagnação, segundo constata o economista Luiz Cabral. Convenções e Aeroporto A partir de 2000 o Estado saiu da crise, mas ainda não se encontra em processo de crescimento econômico, lembra o professor. Algumas medidas e ações governamentais têm sido importantes para alavancar o desenvolvimento, como a construção do Centro de Convenções e do Aeroporto internacional, que trouxe avanços para o setor turístico, diz. Luiz Cabral cita ainda os arranjos produtivos locais [APLs] implementados pela Secretaria de Planejamento de Alagoas e pelo Serviço de Apoio às Pequenas e Micro Empresas (Sebrae), que também são de fundamental importância. |NR ### Planos esquecem questões sociais Os três períodos de desenvolvimento de Alagoas, segundo o professor Luiz Cabral, coincidem, mas sempre de forma tardia, com as etapas nacionais diferenciadas. O primeiro período (1960/1974) reflete em Alagoas o desenvolvimento do governo de Juscelino Kubitschek (1956/1961), bem como a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), em 1959, revela Luiz Cabral. Milagre econômico Já o segundo período (1975/1985), de crescimento econômico, coincide com o chamado milagre econômico brasileiro (1968/1973) e os investimentos do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND). O terceiro e último período (1986/1999), diz Luiz Cabral, reproduz no plano regional a crise do modelo de desenvolvimento adotada pelos militares. Para o pesquisador, é essa sintonia, mas nem sempre perfeita sincronia, que explica o excessivo direcionamento das ações estaduais nos últimos 40 anos, para o campo econômico, com pouca preocupação com a problemática social e um verdadeiro descaso com a questão ambiental, fazendo com que Alagoas não incorporasse, principalmente nos anos 80, os elementos de uma agenda moderna, como fizeram outros estados. Realizações O economista cita, ainda, os destaques de cada plano. No primeiro, durante o governo de Luiz Cavalcante (1963/1965), foi estruturada a base do desenvolvimento do Estado com ações importantes, como: a criação do Banco da Produção, posteriormente Produban; ampliação da rede rodoviária e de energia elétrica; reformulação da Codeal e criação da Secretaria da Indústria e Comércio. Foi no segundo plano de ação, durante o primeiro governo de Divaldo Suruagy (1976/1979), que Alagoas implantou o Pólo Cloroquímico; criou a Coordenação do Meio Ambiente e o planejamento sistemático do Estado, revela Luiz Cabral. No terceiro plano de ação, o Plurianual, desenvolvido no primeiro governo de Ronaldo Lessa (2000/2003), adotou-se pela primeira vez em Alagoas os princípios do desenvolvimento sustentável, destinando mais de 65% dos recursos para as questões sociais. No entanto, na opinião do professor, o Estado não aproveitou adequadamente nem mesmo o ciclo de crescimento econômico brasileiro ocorrido na década de 70, correspondendo à época ao chamado milagre econômico e perdeu sua grande oportunidade de avançar principalmente nas questões sociais. Os futuros planos, compreende o economista Luiz Cabral, deverão priorizar as questões sociais, com investimentos na educação para levar o Estado a um processo maior de desenvolvimento. Livro é relançado A primeira edição do livro Planos de desenvolvimento de Alagoas foi lançada durante a Bienal de Alagoas, realizada pela Ufal, no Clube Fênix Alagoana, em outubro de 2005. Em novembro, a Secretaria de Planejamento, a Ufal e a Fundação Manoel Lisboa realizaram um seminário para lançamento do livro nos municípios de Santana do Ipanema e Viçosa. No próximo dia 26, às 11 horas e às 20h30, no auditório do CCSA, no campus da Ufal, durante um seminário sobre conjuntura a ser realizado pela Faculdade de Economia, Contabilidade e Administração da Ufal, o livro será relançado.|NR