Governo de Alagoas admite dificuldades para concluir obras
Para a conclusão do último trecho do Canal do Sertão, a Secretaria Estadual de Infraestrutura prevê gastar mais R$ 2,5 bilhões
Por arnaldo ferreira | Edição do dia 11/10/2019 - Matéria atualizada em 12/10/2019 às 07h53
Em recente entrevista publicada nos sites do estado, o secretário estadual de Infraestrutura, Maurício Quintela, admitiu que o governo de Alagoas terá dificuldade para continuar as obras do canal por conta da crise econômica do governo federal. A obra é tocada com recursos federais. Os repasses são feitos pelo Ministério do Desenvolvimento Regional. Até o ano passado, quando a família Calheiros comandava o Senado da República e o governo de Alagoas, estava com força política suficiente para manter a obra andando. A paralisação não era sequer cogitada. Agora, as férias coletivas passam a ser vista como demonstração a falta de prestígio dos Calheiros junto ao governo federal. A primeira e mais importante obra hídrica do País é a da transposição do Rio São Francisco, que promete amenizar o drama da seca no Nordeste por meio de dois canais que levam água do Rio São Francisco para o semiárido de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. O Canal do Sertão de Alagoas é a segunda maior obra hídrica do Brasil e começou a ser idealizado no então governo de Geraldo Bulhões, em 1990. Inicialmente, se esperava gastar algo em torno de R$ 600 milhões na construção de 250 quilômetros de canal entre Delmiro Gouveia até Arapiraca. De lá para cá, o canal já engoliu cerca de R$ 2,5 bilhões e andou 113 quilômetros. Para a conclusão, a Secretaria Estadual de Infraestrutura prevê gastar mais R$ 2,5 bilhões. Hoje, o governo de Alagoas retira água no braço do rio que fica na região do Moxotó, no município de Delmiro Gouveia (distante 294 quilômetros da Maceió) e leva até o município de Pão de Açúcar, distante 236 quilômetros da capital. Neste momento do início de estiagem no Sertão, os projetos de irrigação e de usos múltiplos do canal ainda não saíram do papel.
ELEFANTE BRANCO
Uma das obras mais caras do País, que estava em andamento, hoje praticamente não serve a nenhum projeto de desenvolvimento no semiárido, reclamam parlamentares e prefeitos da região. A obra não chegou nem na metade dos 250 quilômetros, não tem data definida para terminar e desde julho espera repasse de R$ 60 milhões cobrados pela construtora Odebrecht, responsável pelo trecho quatro.
Depois de concluído, o canal promete ser a redenção do desenvolvimento do Sertão e Agreste. Reduzirá os prejuízos causados aos cofres públicos pela indústria da seca. Mas se transformou em um símbolo da ineficiência da política estadual na gestão dos recursos hídricos.
Mais de mil pedidos de outorgas (permissão) para o uso da água do rio São Francisco, que correm pelo canal, teriam sido encaminhados à Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh). Nenhum deles recebeu autorização. A obra do Canal do Sertão é vista como um elefante branco, devido ao subaproveitamento.