As repercussões das 800 demissões de trabalhadores e a possível paralisação total do trecho quatro do Canal do Sertão, como promete a Odebrecht se não receber dívida orçada em R$ 16 milhões, já apresenta efeitos devastadores nos municípios de Senador Rui Palmeira, São José da Tapera, Olho D’água das Flores, Carneiros, Santana do Ipanema, Pão de Açúcar, Delmiro Gouveia, Piranhas, entre outros. O presidente da Associação dos Municípios, prefeito de Cacimbinhas Hugo Wanderley (MDB), não esconde a preocupação com a crise social do desemprego. O presidente da AMA tem informações de que o comércio das cidades praticamente parou e não existe alternativa de emprego para tanta gente demitida da construção do Canal do Sertão. Apesar do desespero dos prefeitos, o assunto é tratado discretamente no governo do Estado, que até o ano passado não acreditava na paralisação da obra. Nas cidades do Sertão, a crise na construção do canal provoca efeito em cadeia em outros setores. A comerciária Patrícia dos Santos confirmou que os estabelecimentos comerciais da região registraram queda no faturamento superior a 30%. “Esses operários que ficaram desempregados deixaram de comprar, de fazer investimentos, não conseguem voltar ao mercado de trabalho e muitos hoje vivem com ajuda da família. Se eles não têm dinheiro para comprar o comércio sente o efeito e também é obrigado a se adequar, isto quer dizer: demitir também”. A comerciária confirmou que as demissões da construção do canal provocou demissões em outros setores do comércio das cidades. “Com a queda do faturamento, todo mundo teve que reduzir custos com mão de obra”. A situação afetou inclusive as atividades informais. Os mototaxistas das cidades como Manoel Carmelito de Jesus, que faz ponto em senador Rui Palmeira, reclama da queda no faturamento. “Muitos desses trabalhadores demitidos não tinham meio de transporte para as famílias deles. Dai contratavam o nosso trabalho para ir ao posto de saúde ou se deslocar para os sítios. Sem dinheiro, as pessoas passaram a andar a pé”, lamentou.
Outro mototaxista, Lindauro Barros, de São José da Tapera, disse que as demissões da Odebrecht afetou todo mundo no Sertão. “Quem nesta região vai empregar mais de mil trabalhadores? Não tem emprego para tanta gente assim. A continuação da obra é esperança da economia local. Quando o Canal do Sertão ficar pronto, os governos do estado e das prefeituras usarão a água para as lavouras, criação de animais e ai voltará a oportunidade de trabalho na zona rural. Sem o canal, fica tudo muito difícil”, avaliou.