Economia
Micro e pequenas empresas t�m vida curta no Brasil

FÁTIMA ALMEIDA O sonho de muitos brasileiros de ter seu próprio negócio e trabalhar por conta própria não é muito fácil de concretizar. O medo de se arriscar, de deixar o emprego e investir no que é seu emperra a iniciativa de muitos trabalhadores, que preferem a segurança do vínculo empregatício, com a garantia de férias, décimo terceiro salário, aviso prévio, FGTS e seguro-desemprego em caso de demissão, ao risco de investir numa pequena empresa que pode não dar certo. Para os que se arriscam, a iniciativa pode representar a independência financeira e a liberdade funcional, mas também para esses não é fácil alimentar esse sonho. Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostra que do total de 457.990 empresas brasileiras que fecharam as portas em 2000, 93% eram pequenas empresas com até quatro funcionários. A mesma pesquisa mostra que esse segmento representava, no período, 82,1% do total de empresas do País, o que mostra que as pequenas são maioria no Brasil, mas também em sua maioria têm vida curta. Segundo o presidente da Associação das Micro e Pequenas Empresas de Alagoas, Cícero Berto, um dos fatores responsáveis pela morte precoce de micro e pequenas empresas é a falta de preparação dos empresários, sobretudo nos Estados do Nordeste, onde o desinteresse é ainda maior. ?Muita gente não gosta do que faz, abre um mercadinho hoje e daqui a três meses já quer ter um carro na garagem, sem observar o fluxo de caixa, não faz uma avaliação de mercado e não participa de cursos de gestão, enfim, não se capacita. Aí não tem como permanecer no mercado que se torna cada vez mais competitivo?, diz. Soma-se a essas falhas os impostos que são pagos no Brasil, pesados mesmo para quem desconta pelo Simples. ?Imagine você ter um mercadinho e pagar 6% de sua arrecadação só de impostos federais, sem contar os municipais e estaduais, os encargos trabalhistas e outros custos?, observa. Segundo Berto, não há números seguros sobre a quantidade de empresas que abrem e fecham em Alagoas, mas ele calcula, por amostragem, que o número das que nascem é maior que o número das que fecham a cada ano. Ele acha que os índices de fechamento em Alagoas ficam em torno de 40% das micro e pequenas empresas existentes e atenta para um fato: as dificuldades e a taxação para se dar baixa em uma empresa são tantas, que muitas ficam ativas durante anos, mas de portas fechadas. ?Existem 3 milhões e 700 mil empresas nessa situação no País inteiro?, afirma Cícero Berto. Os micro e pequenos empresários se reuniram, esta semana, em Brasília, na II Convenção Nacional da categoria, para discutir as reformas da Previdência, Trabalhista e Tributária. Segundo Cícero Berto, uma das propostas que serão encaminhadas ao governo e ao Congresso é de que essas empresas que fecharam e continuam constando como ativas fossem encerradas sem ônus. Números da pesquisa Ainda de acordo com a pesquisa do IBGE, em 2000, do total de 710.258 novas empresas criadas, 93% tinham até quatro funcionários. Para cada 10 novas empresas criadas no País, outras 6,45 foram fechadas. As pequenas empresas, embora sendo maioria, pagaram apenas 2,5% do total de salários e outras remunerações e ocuparam somente 4,5% do pessoal assalariado. Outra característica da pequena empresa é a participação de proprietários e sócios no pessoal ocupado. Do total de 5.556.510 sócios e proprietários de empresas levantados na pesquisa, 74,1% atuam em unidades que ocupam até quatro pessoas. Apenas 0,6% dos sócios está nas grandes empresas. A Região Sudeste concentra 51,3% das empresas do País. Dessas, 58,6% localizam-se no Estado de São Paulo. A Região Sul conta com 23,4% das empresas. A Região Nordeste possui 15,1%, a Centro-Oeste, 7,0%, e a Norte, 3,3%.