Pandemia
MAIS DE 80% DOS ALAGOANOS NÃO TÊM SANEAMENTO BÁSICO, DIZ CNI
Falta de água tratada e coleta de esgoto em áreas pobres favorecem a proliferação de doenças


Alagoas aplica apenas um terço do investimento médio do País em saneamento básico adequado. Os recursos em esgotamento sanitário por habitante, entre 2014 e 2016, foram de R$ 61,82. A média nacional foi de R$ 188,17. Hoje, menos de 20% da população conta com sistema eficiente de esgoto, aponta estudo da Confederação Nacional das Indústrias (CNI). Em Maceió, 35% dos 1,1 milhão de habitantes tem saneamento, admite a própria Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal). A situação é pior em áreas de vulnerabilidade, que favorecem a proliferação das doenças infectocontagiosas, entre elas a Covid-19. Por outro lado, a pandemia comprometeu o andamento das obras, justifica a companhia. A maioria das 102 prefeituras do estado, neste momento, monta barreiras sanitárias para conter a proliferação do coronavírus, as síndromes gripais, tuberculose, leptospirose (transmitida pela urina de roedores), dengue, zika e chikungunya, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti - todas ligadas à carência de saneamento adequado. Conforme estudos técnicos, apenas 19% dos alagoanos têm acesso à rede de coleta de esgoto, o que também fica abaixo da média nacional, que é de pouco mais de 50%.
Ainda de acordo com a pesquisa da CNI, 58 cidades registram doenças relacionadas à ausência de saneamento básico como diarreia, verminoses e as transmitidas pelo Aedes aegypti . Outro dado chama a atenção: somente 12 dos 102 municípios têm políticas de saneamento, o que corresponde a 11% das localidades, indica os levantamentos publicados pelo G1 AL no último dia 05.
Os pesquisadores em saneamento, abastecimento de água, empresários do trade turístico e prefeitos como o médico Fernando Sérgio Lyra, de Maragogi, recentemente cobraram investimentos da Casal para a maioria dos municípios que tem no turismo a principal fonte de emprego e renda. “Água e esgoto são dois problemas sérios em Alagoas”, disse o prefeito de Maragogi, em reportagem na TV Mar e jornal Gazeta de Alagoas, antes da pandemia. O governo do estado e a Casal afirmam que foram feitos investimentos de R$ 170 milhões em serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário nos 77 municípios onde a Casal detém a concessão, beneficiando 1,8 milhão de pessoas. Revelam detalhes de outros investimentos feitos na capital e interior. Porém, nenhuma cidade de Alagoas aparece com cenário positivo nos estudos da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), feitos com base nos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). O estudo avalia percentual de pessoas atendidas pelos serviços de abastecimento de água, coleta de esgoto e de resíduos sólidos, além de aferir o quantitativo de esgoto que recebe tratamento e se os resíduos recebem destinação adequada. Quanto aos resíduos sólidos, pressões do Ministério Público Estadual acabaram com lixões. O Brasil registrou mais de 40 mil internações causadas por doenças relacionadas a falhas de saneamento básico no primeiro trimestre deste ano, aponta estudo da Abes. Com o agravamento da pandemia da Covid-19, os mapas epidemiológicos incluindo estados pobres como Alagoas mostram que o vírus contamina todas as classes sociais e avança para as áreas de vulnerabilidade social, onde são precários os sistemas de esgoto e abastecimento de água. Para contabilizar as internações, o estudo considera Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI) de transmissão feco-oral: cólera, febres tifoide e paratifoide, shiguelose, amebíase, diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível, entre outras enfermidades infecciosas intestinais. Pacientes com algumas dessas doenças foram tratados no Hospital Hélvio Auto, de referência em casos infectocontagiosos típicos de ambientes precários, sem saneamento ou com saneamento inadequado.