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Nº 5692
Economia Daniela e Ângela Seabra retratam drama financeiro diante da pandemia da Covid-19

PIZZARIA FAZ CARTA PARA O GOVERNADOR IMPLORANDO POR AJUDA

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Por Clariza Santos | Edição do dia 17/04/2021 - Matéria atualizada em 17/04/2021 às 04h00

A manutenção das restrições para a abertura de bares e restaurantes, impostas pelo decreto do Governo do Estado que mantém Alagoas na fase vermelha de distanciamento social controlado, tem feito com que muitos empresários do setor fiquem prestes a fechar as portas de seus estabelecimentos.

As dificuldades para manter os compromissos financeiros em dia só crescem, indo na contramão do movimento de clientes e do faturamento. A permissão para funcionamento no sistema de Pague e Leve e Delivery não tem feito os negócios alavancarem. É o caso da Pizzaria Del Popollo, tradicional casa de massas situada na Serraria, na parte alta de Maceió. Ângela Seabra, fundadora e proprietária do empreendimento há 30 anos, relata o drama vivido por ela nos últimos dias. Após ter demitido 17 funcionários desde o início da pandemia do novo coronavírus, no ano passado, ela agora se vê na difícil missão de ter que dispensar mais 12 trabalhadores que atuavam no salão da pizzaria. Com o empreendimento fechado, eles estão sem “função” e ela, sem recursos para mantê-los empregados. Se as coisas continuarem como estão, a tendência, inevitavelmente, é que a pizzaria feche as portas.

Nessa sexta-feira (16), Ângela e a filha, Daniela Seabra, procuraram a Gazeta para contar um pouco da situação e se emocionaram ao citar as dificuldades financeiras pelas quais os funcionários da pizzaria estão passando, sem que elas possam ajudar. Também citaram a inércia do governo do estado, que impôs o fechamento, por meio do decreto, mas não apontou uma solução e nem sinalizou com uma ajuda para os empresários do setor. Elas elaboraram uma carta para ser entregue ao governador Renan Filho (MDB) e ao Ministério Público Estadual (MPAL), clamando por ajuda. “O governador manda fechar e diz: se vira! Nós fomos a área que mais tomou cuidado com o protocolo da Covid. Diminuímos 50% das mesas, treinamos funcionários, colocamos álcool em todas as mesas, reduzimos o horário de atendimento e, mesmo assim, ele fechou tudo. Estamos quebrando e pensando em não reabrir mais a Del Popollo”, afirmou Ângela.

“A gente tá perdendo tudo simplesmente porque o governo impõe uma medida, mas não dá uma ajuda. O governador não se pronuncia. Ele decretou fecha, mas ele não falou fecha, mas nós vamos dar um respaldo. Não adianta diminuir o ICMS da conta de luz se meu restaurante está fechado e não tem conta de luz. O governador não sabe que tá acontecendo isso? Não sou só eu. Tem um monte de gente já nessa situação. O estado deveria estar preocupado em manter emprego”, completa a empresária.

Na carta, ela clama por um auxílio por parte do governo do estado e diz que precisa de ajuda, inclusive, para renegociar os empréstimos com o Banco do Nordeste, adquiridos durante a pandemia para honrar com os compromissos. “Pedimos também a reabertura dos restaurantes, pois sempre seguimos todas as recomendações da Vigilância Sanitária quanto à higiene na manipulação dos alimentos e de vossa excelência, quanto ao distanciamento social, cuidados com higienização com álcool em todas as mesas e espalhe pelo salão, limitação de pessoas dentro do salão, horário reduzido e orientação de todos os nossos colaboradores diariamente quanto a todos esses aspectos”, diz trecho da carta. Com lágrimas nos olhos, Ângela diz que se sente impotente vendo os clientes a procurarem para doar cestas básicas e outros itens essenciais para os garçons e funcionários da pizzaria, tendo em vista a situação financeira de cada um. Atualmente, o empreendimento conta com 32 colaboradores. A empresária lembra que os dias de maior movimento na pizzaria são no fim de semana e que o decreto proíbe a abertura do estabelecimento aos sábados e domingos. Quanto ao delivery, a procura tem sido pequena, em comparação ao grande volume de contas para pagar, inclusive os salários dos funcionários.

A pizzaria completou 30 anos este ano e é conhecida por ficar situada em um imóvel que lembra um verdadeiro castelo. Além de um ambiente aconchegante, palco de muitos encontros e comemorações de momentos especiais, o empreendimento tem um cardápio variado e que agrada aos mais variados gostos.

Tradicional, a pizzaria mantém o emprego, até hoje, do primeiro funcionário contratado há três décadas, mas que pode perder o emprego diante da crise. “Em Alagoas, nós quase não temos mão de obra especializada e os restaurantes são quem absorvem essas pessoas. Tem muita gente que trabalhou ou que trabalha com a gente que não sabe nem ler e nem escrever o próprio nome. Cerca de 70% do nosso quadro de funcionários são mulheres. São pessoas que lavavam roupa, que cortavam cana. Muitas pessoas que trabalham com a gente nós que formamos. E tivemos que colocar vários para fora. O que eles vão fazer agora? O primeiro funcionário da gente tá lá até hoje. É um garçom. Vimos ele criar o filho dele. Hoje, trabalhamos com mães e filhos. Somos uma família, mas podemos fechar as portas”, destaca.

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