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Nº 5810
Economia

Negros ganham R$ 1.318 a menos que brancos em Maceió, diz IBGE

Em Alagoas, trabalhadores brancos recebem, em média, 14% a mais que pretos ou pardos

Por Hebert Borges | Edição do dia 14/11/2019 - Matéria atualizada em 14/11/2019 às 06h22

No mês em que se comemora o dia da Consciência Negra, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um compilado de dados ligados à raça que revelam a disparidade entre brancos e negros. Os números mostram, entre outras coisas, que em Maceió, após um mês inteiro de trabalho, o salário recebido por brancos é 47% maior do que o pago a negros. Em Alagoas, brancos recebem, em média, 14% a mais que pretos ou pardos.

Trabalhadores negros e pardos da capital alagoana recebem 53% a menos do que trabalhadores brancos, diz IBGE
Trabalhadores negros e pardos da capital alagoana recebem 53% a menos do que trabalhadores brancos, diz IBGE -
 

Enquanto os trabalhadores brancos da capital alagoana podem contar com R$ 2.815 média após o fim da jornada mensal de trabalho, ao negro é pago apenas R$ 1.497. O estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, foi divulgado nesta quarta-feira, 13. Alagoas é o sexto estado do País com o menor percentual de negros na população.

Ainda segundo o IBGE, a desocupação tem atingido com mais força as pessoas pretas ou pardas em Alagoas, que, inclusive, passou a ser o segundo do País com a maior taxa de pretos ou pardos que estão desocupados entre as pessoas com 14 anos ou mais de idade, perdendo apenas para o Amapá. A desocupação atinge 17,8% da população negra de Alagoas.

Na capital alagoana o cenário é ainda pior, são 19,1% da população negra desocupada. Maceió é também a segunda pior capital do país em empregabilidade para negros, ficando atrás apenas de Macapá, capital do Amapá. O cenário ruim para pardos e negros em Alagoas fica mais evidente quando os dados mostram que diminuiu a participação de pretos ou pardos entre os 10% mais ricos. O número passou de 60,8% em 2012 para 48,1% em 2018.

Enquanto isso, aumentou o número de negros entre os 10% mais pobres, passando de 80,2% em 2012 para 82% em 2018. Outro número alarmante é que cresceu em Alagoas o número de pretos ou pardos no grupo dos que estão abaixo da linha da pobreza. Levando-se em conta o rendimento mensal real domiciliar per capita, os dados revelam que a população branca vivendo com até 1,9 dólares por dia passou de 9,5% em 2012 para 11,8% em 2018, enquanto entre as pessoas pretas ou pardas saltou de 12,1% para 19,2%.

HISTÓRICO

A economista Luciana Caetano avalia que para compreender as desigualdades de renda relacionadas a gênero e raça é necessário “mirar o retrovisor da história”. Ela pondera que as bases econômicas do País estão plantadas na concentração fundiária e na mão de obra escrava negra. “A miscigenação deu origem aos pardos, jogando sobre os de maior concentração de pigmentação o mesmo fardo. Esse preconceito é tão forte que os religiosos ocidentais pintaram Jesus Cristo com uma estampa branca, olhos azuis e cabelo loiro, repetindo a mesma arte com sua mãe. No dia a dia, frases preconceituosas estabelecem uma relação entre o preto e coisas negativas, demonstrando a força da cultura como um fio condutor dessa subjetividade, mesmo em uma país de predominância negra”, pontua.

Luciana Caetano comenta que mulheres e pessoas negras assumem as ocupações de rendimentos mais baixos como trabalho doméstico, professores dos ensinos médio e fundamental, enfermeiras, vigilantes e uma infinidade de atividades informais. “O preconceito é tão grande que uma parte de negros e pardos nega sua raça, identificando-se como brancos. Um país de maioria negra/parda que elege 75,6% de parlamentares brancos demonstra que essa população abre mão da possibilidade de reverter esse jogo na esfera política, único lugar possível de vencer essa guerra”, comenta.

A economista lembra que até o início do século XX, mulheres e negros nem exerciam o direito pleno de cidadania. “A abolição da escravatura no Brasil, no final do século XIX, não eliminou as práticas abusivas contra negro na esfera do trabalho e nas relações sociais. A sociedade brasileira precisa fazer esse debate com urgência, posto que o Brasil é um país de predominância negra, com uma legislação trabalhista que proíbe diferenças de salário por gênero ou raça, porém, com desigualdades de renda muito bem demarcadas a partir dessas duas variáveis”, frisa Luciana Caetano avalia como positivo se a população brasileira, numa tomada de consciência, revolucionasse as eleições de 2020 e 2022, elegendo mais negros e mulheres. “Viva o povo brasileiro, viva a diversidade, viva a democracia”, finaliza.

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