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Nº 5797
Economia

“Estamos prestes a perder a Reluznor para PE”

EDIVALDO JUNIOR Há 20 anos, Manoel Carnaúba era uma das chaves na construção do “eldorado químico” que prometia alavancar o desenvolvimento alagoano a partir do pólo de Marechal Deodoro. O “filé” do Nordeste se preparava para receber grandes indústri

Por | Edição do dia 29/02/2004 - Matéria atualizada em 29/02/2004 às 00h00

EDIVALDO JUNIOR Há 20 anos, Manoel Carnaúba era uma das chaves na construção do “eldorado químico” que prometia alavancar o desenvolvimento alagoano a partir do pólo de Marechal Deodoro. O “filé” do Nordeste se preparava para receber grandes indústrias. Hoje ele lamenta: foi quase tudo por água abaixo. Numa sexta-feira, 26 de setembro de 2003, o governador Ronaldo Lessa anunciou, em solenidade no Palácio do Governo, a instalação da Reluznor – um investimento de R$ 4,3 milhões no pólo de Marechal Deodoro. As obras começariam no mês seguinte e a indústria começaria a operar até junho deste ano. O negócio marcaria a “ressurreição” do eixo químico no desenvolvimento de Alagoas. “Passados cinco meses, tudo continua no papel”, diz Carnaúba. As obras da Reluznor não começaram até hoje porque o governo alagoano ainda não fez a única coisa que prometeu: doar o terreno. Agora, o empresário quer levar a indústria para Pernambuco”. A advertência é do mesmo Manoel Carnaúba que, duas décadas depois, aos 44 anos, está no centro das decisões do setor químico em Alagoas. Hoje ele comanda, como diretor industrial da Unidade de Negócios de Vinílicos da Braskem, um orçamento de R$ 1 bilhão e cinco grandes indústrias – entre elas a Unidade de Cloro-Soda de Maceió (antiga Salgema), uma das maiores do mundo no setor. - O que deu errado na primeira tentativa de emplacar o polo químico de Alagoas? - Estávamos construindo a Cinal, que seria uma central de utilidades e tratamento de efluentes para oito outras empresas. Era Alclor, CPC, uma de PVC do grupo OAS, uma de vitamina C e outras que não lembro. Submetemos os pedidos de licença ambiental a partir de 1983. E tudo parou em Alagoas. Em 86, foi que saiu a licença da CPC e da Cinal. Tinha mais um terminal químico, fundamental para que as empresas pudessem movimentar seus produtos. A licença não saiu e as outras empresas foram se instalar em outros lugares. - Então, esse foi o motivo? - Alagoas ficou naquela indecisão se queria continuar sem desenvolvimento ou se dava as licenças de instalação exigindo das indústrias os meios de operar com segurança. Perdemos uma grande oportunidade e essa foi a história. - Existiam outros complicadores? - O governo não fez a parte dele. Os empresários tiveram que comprar terrenos e montar a infra-estrutura. Não tinha energia elétrica. Sabe como foi feita aquela subestação lá (no pólo)? As indústrias deram o dinheiro para a Ceal e a Ceal acabou de pagar agora. Nem todos acreditaram em Alagoas como a CPC e a Alclor. E se deram mal. Os custos ficaram altíssimos e as empresas ficaram pouco competitivas na época. A Cinal, com 21 anos de história, deu prejuízo durante 18 anos. - O que faltou? Faltou vontade política. Não sei se você lembra. Era uma questão de paixão e ódio. Uns poucos a favor e a maioria contra. O peixe foi vendido mal. Os ambientalistas diziam que ia acabar o turismo, poluir tudo. E no fim o que teve foi uma grande poluição, a da miséria que está aí nas margens da lagoa e a lagoa (Mundaú) está morrendo é por causa da poluição da miséria e n a do desenvolvimento. - E hoje, existe espaço para o crescimento da indústria química em Alagoas? - Temos aqui a maior produtora de soda cáustica da América Latina, mas não temos nenhum grande consumidor de soda em Alagoas... a gente tinha que junto com o governo, com os outros empresários, com federação das Indústrias, com todo mundo dar as mãos e buscar um grande cliente da Braskem de soda cáustica para se instalar aqui. Meus grandes clientes de soda cáustica na área de sabão e higiene pessoal são Gessy Lever, Colgate, Palmolive, Minuano... vamos uma trazer essas empresas para cá. - E a história das indústrias química e petroquímica, vai sair? - A Reluznor não saiu do papel. A única coisa que o governo ficou de fazer foi doar o terreno para o empresário que já tinha isso em Pernambuco. Já estamos no fim de fevereiro e governo ainda não conseguiu doar o terreno. - Alagoas tem uma boa Lei de Incentivos, a Braskem como parceiro e o governo diz ter vontade política. O que falta? - Precisa ainda do governo uma maior agilidade, um maior comprometimento. Estamos prestes a perder a Reluznor e não podemos deixar isso acontecer. - Então, o empresário vem a Alagoas, gosta, mas não consegue dar o passo seguinte. É isso? - Quando alguém elege uma prioridade, tem de trabalhá-la até o fim. Se o que se quer é industrializar o Estado, tem que o governador, o secretário, a Assembléia, todo mundo tem de estar junto, atento, trabalhando no mesmo sentido. Isso é uma corrente. Basta um elo quebrar e a corrente não anda. É o que está acontecendo com a Reluznor. Se fosse uma prioridade, isso já teria sido resolvido. Você concorda comigo? - Nesse meio tempo, o governo ficou de anunciar novas indústrias no pólo. Mas se fez um silêncio... - Acho que um passo importante foi a publicação do decreto do APL (pacote de incentivos do arranjo produtivo local químico e plástico publicado em janeiro de 2004 no Diário Oficial do Estado). Estamos trabalhando junto a nossos clientes e acho que em mais uns 45 dias alguns deles vão estar anunciando que vem para Alagoas. - Mesmo faltando agilidade? - Tenho certeza que o governo do Estado vai trabalhar no sentido de ganhar agilidade nesses pontos fracos, para que efetivamente a Reluznor comece obra lá (no pólo) e os outros clientes venham se instalar. E é muito importante esse investimento da Braskem (R$ 90 milhões para ampliação da produção de PVC na unidade do pólo) na expansão de capacidade. Com isso, temos condição de criar um efeito de demonstração e podemos quebrar esse ciclo de que não vem indústria para Alagoas. - A Braskem poderia investir na Bahia ou em São Paulo. Por que Alagoas? - Dentre os estados em que a Braskem está presente, Alagoas é o menos desenvolvido. O corpo diretivo da Braskem ficou sensibilizado com o pleito do governo e foi importante a ida do governador Ronaldo Lessa para aquela feira de plásticos em São Paulo (Brasilplast, março de 2003). Ele conversou mais com José Carlos Grubisich e Bernardo Gradin (presidente e vice de vinílicos da Braskem). Isso sensibilizou e passou uma orientação mais forte para a Braskem trabalhar em Alagoas. - Se o governo der 100% de prioridade ao setor, que cenário você vê nos próximos dez anos? - Vou falar de um cenário mais curto, de três a quatro anos. Dá para ter umas 20 indústrias, de pequeno a médio portes. Empresas entre R$ 50 milhões a R$ 100 milhões anuais. Essa lei do APL é muito boa. Estamos fazendo um trabalho forte junto aos clientes. E empresários do Estado também devem estar anunciando projetos de ampliação, breve, breve. - E mesmo com a lei boa, se o governo não der prioridade, qual o cenário? - Sei lá... uma, duas empresas. Nada vai acontecer.

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