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Nº 5692
Economia No recorte mensal, o IPCA desacelerou para 0,73% em dezembro, aponta os dados do IBGE

INFLAÇÃO ESTOURA A META E FECHA 2021 EM 10,06%, MAIOR ALTA EM 6 ANOS

O resultado do índice do ano passado veio acima das expectativas de 3,75% do mercado financeiro

Por Folhapress | Edição do dia 12/01/2022 - Matéria atualizada em 12/01/2022 às 04h00

Rio de Janeiro, RJ – Em 2021, o poder de compra do brasileiro voltou a ser assombrado por uma inflação de dois dígitos. Nos 12 meses do ano passado, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou variação de 10,06%. A alta é a maior para o período de janeiro a dezembro desde 2015 (10,67%), informou nesta terça-feira (11) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). À época, a economia nacional atravessava período de recessão no governo Dilma Rousseff (PT). O resultado de 2021 veio acima das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 9,96% no acumulado. O IPCA é o indicador oficial de inflação no país. Com o resultado, o índice estourou com folga a meta perseguida pelo BC (Banco Central). A meta de inflação era de 3,75% no ano passado, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, podendo chegar até a máxima de 5,25%. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá de escrever uma carta explicando o avanço do IPCA acima do intervalo de referência. Será a sexta desde a criação do sistema de metas para a inflação, em 1999. A carta mais recente foi escrita pelo antecessor de Campos Neto, Ilan Goldfajn, em janeiro de 2018. O texto era relativo à inflação de 2017, mas, na ocasião, o então presidente do BC se justificava por resultado ligeiramente inferior ao limite mínimo estabelecido. No ano passado, a disparada do IPCA foi impulsionada por uma combinação de fatores díspares. Houve carestia de preços administrados, como combustíveis e energia elétrica, aumento de itens básicos para as famílias, como alimentos, inclusive por alterações climáticas que afetaram plantio e colheita de diferentes produtos, além de persistente ruptura na cadeia global de abastecimento de insumos industriais, especialmente chips. “Uma inflação acumulada na faixa de 10% não estava no radar de ninguém no começo do ano passado. Ela se desgarrou de um padrão normal”, afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. “A inflação ainda não dá sinais de tranquilidade. O cenário é preocupante no início de 2022. Não vai ser fácil trazer a inflação de volta para a meta”, completa.

DEZEMBRO

No recorte mensal, o IPCA desacelerou para 0,73% em dezembro, após taxa de 0,95% em novembro, informou o IBGE nesta terça-feira. Mesmo com a perda de fôlego, o resultado veio acima das expectativas do mercado. Analistas consultados pela Bloomberg projetavam variação de 0,64% nessa base de comparação. Outro dado que chamou atenção no recorte mensal foi o avanço do índice de difusão. Esse indicador mede a proporção de bens e serviços com aumento de preços. Em dezembro, o índice de difusão alcançou a marca de 75%. No mês anterior, havia sido de 63%. O gerente da pesquisa do IPCA, Pedro Kislanov, relatou que componentes sazonais ajudam a explicar uma parte da inflação mais difusa. Segundo ele, a procura por itens e serviços característicos da reta final do ano pressionou maior volume de preços. Além disso, houve uma recomposição de valores que haviam recuado com promoções na Black Friday, em novembro, indicou o analista.

TRANSPORTES

Segundo o IBGE, o acumulado de 2021 foi influenciado principalmente pelo grupo de transportes. O segmento apresentou a maior variação (21,03%) e o principal impacto (4,19 pontos percentuais) no ano. Em seguida, vieram os grupos de habitação (13,05%), que contribuiu com 2,05 pontos percentuais, e alimentação e bebidas (7,94%), com impacto de 1,68 ponto percentual. Juntos, os três responderam por cerca de 79% do IPCA de 2021. “O grupo dos transportes foi afetado principalmente pelos combustíveis”, afirmou Kislanov. Com os reajustes nas bombas, a gasolina acumulou alta de 47,49% em 2021. O etanol, por sua vez, disparou 62,23%. Outros destaques nos transportes foram os preços dos automóveis novos (16,16%) e usados (15,05%). Segundo Kislanov, os aumentos dos veículos estão relacionados ao desarranjo nas cadeias produtivas do setor automotivo. No grupo habitação, a principal contribuição (0,98 ponto percentual) veio da energia elétrica (21,21%), que ficou mais cara com a crise hídrica. Em alimentação e bebidas, a variação de 7,94% foi menor do que a do ano anterior (14,09%). Mesmo assim, houve fortes aumentos em parte dos itens, como café moído, que subiu 50,24%, e açúcar refinado, que teve elevação de 47,87%. “A alta do café ocorreu principalmente no segundo semestre, pois a produção foi prejudicada pelas geadas no inverno. Já o preço do açúcar foi influenciado por uma oferta menor e pela competição pela matéria-prima para produção do etanol”, diz Kislanov. O avanço generalizado dos preços penaliza sobretudo os mais pobres. Em 2021, o Brasil passou a ter uma sucessão de casos de pessoas em busca de doações e até de restos de comida para alimentação. Ionara Jesus Santos, 40, moradora de uma comunidade na zona sul de São Paulo, conta que atravessou o ano sofrendo com a escalada dos preços de itens básicos. Quase tudo foi ficando mais caro. Ao mesmo tempo, ela amargou perda de renda.

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