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Nº 5759
Economia

Desertifica��o reduz a p� trecho da BR-316

ROBERTO VILANOVA Mata Grande (AL) e Inajá (PE) - O trecho da BR-316 na divisa de Alagoas  com Pernambuco, no extremo oeste,  virou pó branco – areia que interditou a  rodovia e levou as empresas Boa Esperança e Progresso a mudarem a rota do  ônibus qu

Por | Edição do dia 14/04/2002 - Matéria atualizada em 14/04/2002 às 00h00

ROBERTO VILANOVA Mata Grande (AL) e Inajá (PE) - O trecho da BR-316 na divisa de Alagoas  com Pernambuco, no extremo oeste,  virou pó branco – areia que interditou a  rodovia e levou as empresas Boa Esperança e Progresso a mudarem a rota do  ônibus que faz a linha Maceió- Crato -  Juazeiro. O fenômeno, previsto pelo geólogo José Santino de Assis, é conseqüência do avanço do Raso da Catarina, o deserto brasileiro localizado na Bahia e que vem crescendo um quilômetro por ano na direção norte, ou seja, para o Rio São Francisco. Professor do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e o primeiro a detectar o fenômeno, o geólogo  explicou que o Raso da Catarina se expandiu na forma de arco, para as duas  margens do São Francisco, atingindo  terras de Pernambuco, Alagoas e Sergipe. O primeiro impacto foi registrado no  município pernambucano de Petrolândia, onde as terras do povoado Craibeiras viraram areia; o segundo foi detectado agora e atingiu o trecho da BR-316 entre a divisa alagoana, no alto sertão, até o povoado do Peba, pertencente a Inajá. Santino disse que o fenômeno já era esperado. Degradação O geólogo José Santino vem estudando a região e acompanha as alterações registradas nos últimos dez anos; além dos efeitos naturais causados pelas massas de ar, o professor registrou a ação predatória do homem que desmata, queima e faz caieiras para produzir carvão. A degradação causada pelo homem abrevia os efeitos da desertificação e o professor adverte: só o reflorestamento pode conter os estragos – e ainda assim, em áreas restritas, pois a devastação é irreversível na maior parte do terreno. Santino já subiu duas vezes a Serra do Parafuso, marco da divisa de Alagoas com Pernambuco, no extremo oeste, e que tem 800 metros de altura. “A Serra do Parafuso já foi uma floresta, isto há cerca de sete milhões de ano, no fim do período terciário. Mas o material orgânico existente na serra foi arrastado e veio formar os nossos tabuleiros litorâneos”, explicou. O professor encontrou resquícios que comprovam a época em que a Serra do Parafuso, no semi-árido alagoano, foi uma floresta tão fechada quanto a Mata Atlântica. Devido à altura - são mais de 800 metros acima do nível do mar - no topo da serra as noites são orvalhadas. Ainda hoje a população só consegue sobreviver na serra – há uma comunidade morando lá – porque recolhe as gotas de orvalho que escorrem das palmeiras (ouricuri). “Durante a noite eles colocam um tonel embaixo da palmeira e recolhem na manhã cedo”, explicou. Água subterrânea Santino advertiu que a tendência da desertificação na divisa de Alagoas com Pernambuco, no semi-árido, é se agravar. O solo na região sofre a influência direta do Raso da Catarina, que se projeta na forma de arco atingindo terras nas duas margens do Rio São Francisco. Na margem esquerda (Alagoas e Pernambuco) a área sob efeito de desertificação começa em Petrolândia e se estende até Mata Grande, até o limite da Serra do Parafuso. Mas o professor garante que, apesar do deserto e da degradação do solo, há água subterrânea na região. Citou o exemplo de Inajá, cidade de cinco mil habitantes, abastecida com água retirada de uma profundidade superior a 400 metros. Ele lamenta apenas que o Estado de Alagoas não tenha sido incluído no cadastro de desertos elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente. “Na região da Serra do Parafuso, onde a desertificação atingiu o trecho de uma rodovia, existem todas as características de desertos. Por exemplo: são 300 dias de seca por ano e a chuva, quando se precipita, vem de uma vez, dura no máximo doze dias. Além disso, as noites frias contrastam com os dias quentes, característica das regiões desérticas”, acrescentou. Há também amostras de fósseis de florestas petrificadas; outro detalhe destacado pelo pesquisador da Ufal são os vegetais que sobreviveram às transformações climáticas. “Observa que a vegetação é rasteira, atinge no máximo dois metros de altura; o solo é raso, no máximo meio metro. Com isto, a água penetra no subsolo com mais facilidade”, completou. Para chegar à região atingida pelo fenômeno o caminho é por Mata Grande, a 266 quilômetro de Maceió, com rodovia pavimentada seguindo-se por Inhapi. Até a Serra do Parafuso, na divisa com Inajá-PE, são 35 quilômetros de estrada piçarrada. É a BR-316.

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