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Nº 5822
Economia

As confiss�es de um lenhador voraz

Canapi - No Sertão, quem não serve para vaqueiro e recusa o cabo da enxada, vai para São Paulo – ou cortar cana nas usinas. Com o Lourival Vieira foi diferente, ele optou por ser lenhador e hoje perdeu as contas das baraúnas, pereiros, angicos e juazeiros

Por | Edição do dia 21/04/2002 - Matéria atualizada em 21/04/2002 às 00h00

Canapi - No Sertão, quem não serve para vaqueiro e recusa o cabo da enxada, vai para São Paulo – ou cortar cana nas usinas. Com o Lourival Vieira foi diferente, ele optou por ser lenhador e hoje perdeu as contas das baraúnas, pereiros, angicos e juazeiros que botou no chão a golpes de machado. Mais conhecido como Louro Marceneiro, ele traz no nome a vocação – louro é uma espécie  de madeira de lei; e também  perdeu a conta das cancelas, portas, cadeiras, camas, mesas, carrocerias e carros de boi que  construiu. Louro conta, com receio, o que fez nas matas em torno de Canapi – e não era só ele. Na Serra do Parafuso, apontou o alto, chegou ao cume, pois onde havia uma baraúna ele tinha de estar junto – é madeira disputada na região. Hoje, contempla o deserto, não há sequer as palmeiras (ouricuri) para concentrar o orvalho que matava a sede dos nativos. Façanhas Com a mesma naturalidade com que conta as façanhas de lenhador, Louro faz a indagação que, embora não justifique o crime ambiental, cala os ecologistas: “Eu ia viver de quê, meu amigo, se no Sertão não tem emprego?” Hoje ele aposentou o machado e não corta mais as árvores, até porque não existem, e garante que desmatou antes pela necessidade de sobreviver, e porque não tinha noção dos estragos. “Ninguém nunca me disse nada. A gente precisa comer, vestir e educar os filhos. A única maneira que encontrei foi na marcenaria”, justificou. Desmatamento Mas o pior é que o desmatamento continua, agora para extrair lenhas, mourões e estacas para cercados. As atividades predatórias no Semi-árido são antigas e não se restringem a Alagoas – o sertanejo imita os índios quando tocam fogo para fundar as lavouras; para cozinhar os alimentos, usam a lenha. O professor Santino conheceu muitos nativos, obrigados a devastar a biodiversidade para sobreviver. A degradação é responsável por outro dado negativo: 180 mil hectares de terra, dos 600 mil irrigados, apresentaram problemas de compactação do solo ou salinização.

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