Economia
Alagoas tem �20% da sua �rea inclu�da no deserto

ROBERTO VILANOVA Mata Grande ? Depois dos municípios pernambucanos, agora é a vez de Alagoas sofrer os efeitos da expansão do deserto do Raso da Catarina. O fenômeno registrado primeiro em Petrolândia-PE se repete em série do lado alagoano, comprometendo 20% do território do Estado e tornando estéril terras que já tiveram alta produtividade. No município pernambucano a população do povoado Craibeiras abandonou suas casas ? a terra irrigada compactou ou salinizou; outras áreas viraram um areal improdutivo. O mesmo está ocorrendo do lado de Alagoas, segundo o geólogo José Santino de Assis, professor do Departamento de Geologia e Meio Ambiente da Universidade Federal de Alagoas ? Ufal. Há cinco anos ele vem pesquisando a região e se surpreendeu com a rapidez das alterações. Preocupados Localizado no oeste da Bahia, o Raso da Catarina se expandiu para o norte, na forma de arco, atingindo terras de Pernambuco e Alagoas, na divisa do Alto Sertão ? o professor Santino acompanhou o fenômeno. Do lado alagoano, os municípios atingidos pela desertificação sofreram alterações climáticas que agravaram ainda mais as distorções nos níveis de precipitação pluviométrica. No povoado Morro Vermelho, pertencente à Mata Grande, a população está preocupada porque a chuva se precipitou distante, em pontos isolados da região, e também pela barragem, inaugurada em 1971, e que, pela primeira vez, está secando. ?Eu nasci no mesmo ano que inauguraram a barragem; tenho a mesma idade, mas nunca vi uma situação dessas?, afirmou Antônio Luiz, dono do único mercadinho do lugar. Desertificação O professor Santino localizou as áreas mais degradadas nos municípios de Delmiro Gouveia (Barragem Leste e Jardim Tropical), Pariconha (Volta do Moxotó), Água Branca (caatinga), Mata Grande (Santa Cruz do Deserto, Poço Branco, Serra do Parafuso e Morro Vermelho) e Canapi (divisa com Mata Grande). Mas ele adverte: se o governo do Estado não agir rapidamente os estragos serão incalculáveis. Santino denunciou que Alagoas, mesmo com área incluída no Polígono das Secas, não consta na relação do Ministério do Meio Ambiente como sob a influência ou risco de desertificação. ?Isto é um absurdo, basta verificar o que está se passando na divisa com Pernambuco, no Sertão. É preciso que o governo estadual cobre esse reconhecimento do Ministério do Meio Ambiente, porque ainda é possível recuperar parte dessa área?, reagiu, sugerindo, em seguida, a adoção de uma política séria de reflorestamento, emprego rural e de educação ambiental para a comunidade parar de devastar o ecossistema. Do orvalho Há cinco anos, o geólogo e professor da Ufal leva as turmas de formandos em Geografia para estudar o fenômeno e conhecer a região que, há sete milhões de anos (Era Terciária) foi uma floresta. E numa dessas viagens o professor testemunhou a luta do homem para obter água e mitigar a sede. ?As famílias que habitam o entorno da Serra do Parafuso colocam baldes no pé do ouricuri para recolher o orvalho. Os baldes são colocados logo que a noite começa e são retirados pela manhã antes de o sol esquentar. Eles bebem essa água?, contou. Secando Na área atingida pela desertificação não há mais atividade econômica. O fazendeiro João Neto, de Mata Grande, dono de uma fazenda no pé da Serra do Parafuso, retirou o gado da propriedade para não vê-lo morrer de fome, como ocorreu no ano passado. Antes, a barragem do Morro Vermelho sangrava e aliviava a situação; hoje, para surpresa dos moradores da região, a barragem está secando.