Riquezas
PIB CRESCE 2,9% EM 2022 E FECHA O ANO EM R$ 9,9 TRILHÕES, DIZ IBGE
Crescimento da economia do País em 2022 foi puxado pelas altas nos serviços (4,2%) e na indústria (1,6%)


Rio de Janeiro, RJ – A economia brasileira fechou o ano de 2022 com crescimento acumulado de 2,9%, conforme dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados nesta quinta-feira (2) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado veio ligeiramente abaixo da mediana das estimativas do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 3%. No recorte do quarto trimestre de 2022, o PIB ficou negativo após cinco avanços consecutivos. O recuo foi de 0,2% em relação aos três meses imediatamente anteriores, o que reflete um cenário de desaceleração da atividade econômica. A perda de ritmo era aguardada por analistas em razão do efeito defasado da elevação dos juros. A variação negativa veio em linha com as projeções de economistas consultados pela Bloomberg, que também apontavam baixa de 0,2%. "O aumento contínuo dos juros tem um certo delay [atraso]. Então, já era esperado que a economia, com essas taxas de juros elevadas, fosse para a desaceleração", disse Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. O crescimento de 2,9% em 2022 é o segundo consecutivo, após alta de 5% em 2021. A economia havia amargado queda de 3,3% em 2020, período inicial da pandemia. Com o resultado, o crescimento médio anual da economia no governo Jair Bolsonaro (PL) foi de 1,45%, segundo dados preliminares (os números de 2021 e 2022 ainda podem ser revisados). Nos governos FHC (1995-2002), houve expansão de 2,44% na média. Nas duas primeiras gestões Lula (2003-2010), de 4,09%. No período Dilma Rousseff-Michel Temer (2011-2018), de 0,71%. O PIB totalizou R$ 9,9 trilhões em 2022. O PIB per capita, que divide a riqueza pelo número de habitantes, alcançou R$ 46.154, avanço real de 2,2% ante 2021. O ano passado foi marcado pelo fim das restrições da Covid-19, o que estimulou a circulação de pessoas e o consumo de serviços. Também houve sinais de retomada do mercado de trabalho. Além disso, o governo Jair Bolsonaro (PL) adotou medidas de estímulo à atividade econômica às vésperas das eleições. Ampliação do Auxílio Brasil e cortes tributários sobre combustíveis fazem parte da lista. Por outro lado, a elevação dos juros para conter a inflação criou uma trava ao crescimento econômico, sobretudo no segundo semestre, já que o crédito ficou mais caro para famílias e empresas. Nesse cenário, analistas passaram a prever uma desaceleração mais forte do PIB na reta final do ano passado. O movimento, dizem, tende a prosseguir em 2023, o primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Apesar do bom desempenho no ano, o resultado do 4º trimestre (-0,2%) confirma nossa leitura de que a desaceleração da atividade já está em curso", afirmou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank. No acumulado de 2023, a alta esperada para a economia brasileira é de 0,84%, conforme a mediana da edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC (Banco Central) na segunda-feira (27). A publicação reúne estimativas de instituições financeiras. Em fevereiro, a decisão do BC de manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano motivou uma ofensiva de Lula contra o presidente da instituição, Roberto Campos Neto. O petista chegou a dizer que o patamar da Selic é uma "vergonha". Pelo lado da oferta, o crescimento do PIB em 2022 foi puxado pelas altas nos serviços (4,2%) e na indústria (1,6%), que juntos representam cerca de 90% do indicador. Na contramão, a agropecuária recuou 1,7%, sob efeito da quebra da safra de soja. "Desses 2,9% de crescimento em 2022, os serviços foram responsáveis por 2,4 pontos percentuais. Além de ser o setor de maior peso, foi o que mais cresceu, o que demonstra como foi alta a sua contribuição na economia no ano", afirmou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. Ela destacou o crescimento dos serviços de transportes e do ramo de outros serviços. "Foi uma continuação da retomada da demanda pelos serviços após a pandemia de Covid-19. Em outros serviços, podemos destacar setores ligados ao turismo, como serviços de alimentação, serviços de alojamento e aluguel de carros", disse Palis. Pelo lado da demanda, o destaque veio do consumo das famílias. A alta foi de 4,3% no ano passado. Palis associou o avanço a fatores como demanda reprimida por serviços, poupança das famílias na pandemia e mercado de trabalho em retomada. O consumo, porém, também deu sinais de perda de ritmo no quarto trimestre. O indicador teve variação positiva de 0,3% frente aos três meses imediatamente anteriores. A alta havia sido maior, de 1%, no terceiro trimestre. Pelo lado da oferta, os serviços mostraram comportamento semelhante. O setor avançou apenas 0,2% no quarto trimestre, após alta de 0,9%. A indústria, por sua vez, recuou 0,3% de outubro a dezembro, depois da subida de 0,7% nos três meses anteriores. Já a agropecuária avançou 0,3% no quarto trimestre, após variação negativa de 0,5%.
FREIO EM 2023
Além dos juros elevados, o fôlego menor da economia global e a inflação persistente são apontadas como questões que devem inibir a atividade em 2023. A agropecuária, por sua vez, caminha para uma safra maior do que em 2022, o que tende a gerar alívio no PIB. "Os efeitos positivos da reabertura econômica já se esgotaram, as maiores economias do mundo também encontram dificuldade para crescer e os preços das commodities estão em queda. Em um ambiente de baixo crescimento global, fica difícil para a economia brasileira alcançar um desempenho mais robusto", afirmou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank. O banco prevê alta de 1% para o PIB de 2023. Segundo Moreno, esse desempenho "pode ser um pouco melhor" com o recorde esperado para a safra de grãos e os benefícios sociais que devem ser pagos pelo governo.