IPCA
INFLAÇÃO EM 12 MESES É A MAIS BAIXA DESDE JANEIRO DE 2021, APONTA IBGE
Em março, o IPCA registrou alta de 0,71%, fazendo com que o acumulado de doze meses atingisse 4,65%

São Paulo, SP – O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador considerado a inflação oficial do país, subiu 0,71% em março, segundo dados divulgados nesta terça-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, o país passa a ter uma inflação acumulada de 4,65% na janela de 12 meses. É o menor valor para 12 meses desde janeiro de 2021. De acordo com o IBGE, a alta de março foi puxada pelo preço da gasolina. O indicador, contudo, desacelerou o ritmo de alta na comparação com fevereiro, quando havia subido 0,84%. Segundo o IBGE, esse movimento se deve à perda de força de produtos e serviços diversos, incluindo artigos de residência e alimentos. A variação de 0,71% ficou abaixo das expectativas de analistas consultados pela agência Bloomberg. A mediana das projeções era de alta de 0,77% em março. Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 8 tiveram alta de preços em março. O segmento dos transportes foi o destaque, com o maior impacto (0,43 ponto percentual) e a maior variação (2,11%). Nesse grupo, houve influência da gasolina, que subiu 8,33%. O combustível foi o subitem com o maior impacto individual em março (0,39 ponto percentual). O etanol também teve alta (3,20%). O mês passado marcou o retorno parcial da cobrança de tributos federais sobre os dois combustíveis. “Os resultados da gasolina e do etanol foram influenciados principalmente pelo retorno da cobrança de impostos federais no início do mês, estabelecido pela Medida Provisória 1.157/2023. Havia, portanto, a previsão do retorno da cobrança de Pis/Cofins sobre esses combustíveis a partir de 1º de março”, disse André Almeida, analista da pesquisa do IBGE. O único grupo em queda foi o de artigos de residência (-0,27%), que tinha subido em fevereiro (0,11%). O ramo foi puxado pela baixa nos preços dos itens de TV, som e informática (-1,77%), principalmente televisor (-2,15%) e computador pessoal (-1,08%). Os eletrodomésticos e equipamentos também recuaram (-0,23%). Do lado das altas, após os transportes, vieram saúde e cuidados pessoais (0,82%) e habitação (0,57%). Esses segmentos, contudo, desaceleraram ante o mês anterior —os avanços haviam sido maiores em fevereiro, de 1,26% e 0,82%. Outro grupo que perdeu força em março foi o de alimentação e bebidas, que tem o maior peso no cálculo do IPCA. A alta dos preços atingiu 0,05%, após 0,16% no mês anterior. Essa desaceleração foi influenciada pela queda da alimentação no domicílio (-0,14%). Trata-se do primeiro recuo em seis meses. “Pelo lado positivo, um dos destaques ficou por conta de alimentação e bebidas. O grupo possui o maior peso e avançou somente 0,05%. Esse valor é ainda mais significante considerando que a alimentação no domicílio, a mais essencial, teve deflação [queda]. Esse movimento de arrefecimento parece ser um ajuste gradual das cadeias produtivas globais desde o 2º semestre de 2022”, analisou o banco Original. Nos alimentos, houve queda nos preços da batata-inglesa (-12,80%) e do óleo de soja (-4,01%). Também foram registrados recuos da cebola (-7,23%), do tomate (-4,02%) e das carnes (-1,06%). Do lado das altas, destacam-se a cenoura (28,58%) e o ovo de galinha (7,64%).
André Almeida, do IBGE, indicou que um dos fatores para a trégua dos alimentos é a oferta maior de determinados produtos no mercado interno. As carnes, por exemplo, podem ter caído com o embargo a exportações brasileiras para a China e o período da quaresma, conforme o pesquisador. O centro da meta de inflação, que serve de referência para o BC (Banco Central), é de 3,25% em 2023. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%). Embora o IPCA tenha ficado abaixo do teto em abril, analistas esperam que o índice volte a ganhar força no segundo semestre, estourando a meta pelo terceiro ano consecutivo.
Na mediana, o mercado financeiro prevê inflação de 5,98% no acumulado até dezembro de 2023, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda (10). “Entendemos que a dinâmica do IPCA no ano terá 2 atos: arrefecendo até o 1º semestre, mas voltando a subir no segundo 2º semestre. Projetamos uma alta de 6,1% em 2023”, afirmou o banco Original. Neste início de governo, o BC virou alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O motivo foi o patamar dos juros no país. Em uma tentativa de conter a inflação, o BC manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano. Ao esfriar a demanda por bens e serviços, a medida busca frear os preços e ancorar as expectativas para o IPCA.