loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
sexta-feira, 28/03/2025 | Ano | Nº 5933
Maceió, AL
24° Tempo
Home > Economia

Economia

Sem emprego, jovens est�o de volta � escola

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp

Rio de Janeiro – O mercado de trabalho perdeu, em uma década, um terço de uma força de trabalho frágil, barata e cuja existência denota uma perversidade social. De 1993 a 2003, a massa de adolescentes entre 15 e 17 anos que trabalhava caiu de 44,5% para 29,1%. Desses, a maioria trocou o turno de serviço pelo tempo de aula, indica a Síntese de Indicadores Sociais de 2003, divulgada na última quinta-feira pelo IBGE. O universo dos jovens que têm nas atividades estudantis sua única obrigação passou de 40,7% para 60,9% no período, uma elevação de 50%. É o caso de Leonardo de Souza. Aos 17 anos, em 2002, ele abandonou os estudos na sétima série do ensino fundamental para trabalhar como office-boy de uma loja de roupas infantis. Morador de uma comunidade carente do Alto da Boa Vista, pretendia reforçar o orçamento doméstico com o salário mínimo que recebia. Seu plano de ingressar no serviço militar não deu certo, porque não foi selecionado. Oito meses depois, ele retomou os estudos de onde parou. “Para quem não tem estudo, encontrar trabalho é muito difícil. Voltei a estudar em uma escola municipal, mas vi que o pessoal era muito bagunceiro e eu não estava aprendendo nada. Resolvi não perder mais tempo e concluí o ensino fundamental no supletivo”, explica. Hoje, Leonardo estuda em um Centro de Ensino Supletivo do governo do Estado na Tijuca. A freqüência não é obrigatória e não existem aulas formais. A predominância é de adultos em busca do estudo perdido. O aluno usa apostilas e tira dúvidas pessoalmente com professores de plantão. No Centro, existem salas de estudo e de provas, que são marcadas à medida que o aluno se sente preparado para fazê-las. O sonho do jovem é trabalhar na área de mecânica. “Para isso, vou continuar estudando em cursos técnicos, mas já poderei trabalhar. Minha mãe me pressiona para arrumar um emprego, mas preciso terminar o ensino médio antes”, comentou. A orientadora educacional da unidade, Sandra Grimming, diz que a motivação maior desses jovens ainda não é o ingresso na universidade, mas a exigência do mercado de trabalho. “Simplesmente não há empregos para ele sem essa condição mínima. Mas podemos detectar um interesse pequeno, porém crescente, em obter base para entrar no ensino superior e na carreira pública”, destaca. A técnica do IBGE Bárbara Cobo aponta na legislação uma causa para esse movimento de volta aos bancos escolares. “A Lei de Diretrizes e Bases, de 1996, dissociou ensinos médio e técnico, que, até então, podiam ser feitos em 4 anos e agora têm de ser feitos um de cada vez”, explica. “A criação de políticas como a compensação financeira às famílias pela permanência na escola tem o efeito de uma onda, mantendo o adolescente na escola mesmo quando ele perde o benefício, depois dos 15 anos. A aprovação automática, adotada em vários estados, também motivou a permanência na escola. É um dado a ser comemorado, mas a qualidade da educação que esses jovens recebem pode deixar a desejar”, pondera o economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas. /// Trabalho não garante renda Se o ingresso precoce no mercado de trabalho é determinado pelas necessidades materiais da família, a renda gerada por 5 milhões de brasileiros entre 5 e 17 anos não lhes garante uma condição de vida melhor. O trabalho dessa mão-de-obra não assegura, na média, uma renda melhor para essas famílias. Dos ocupados menores de 18 anos, 48,5% possuem renda familiar per capita inferior a meio salário. Essa faixa corresponde a 44,2% entre os não ocupados. E as conseqüências se refletem na defasagem escolar na faixa entre 5 e 17 anos, que é elevada. Pelos dados do IBGE, 66,7% deles estão em uma serie escolar que não condiz com sua idade. Para o futuro, Marcelo Neri prevê a presença cada vez maior do jovem na escola. O economista afirma que o papel da pré-escola – cuja procura cresceu na Síntese do IBGE, é fundamental nesse propósito. “O percentual de 68% de crianças entre 4 e 6 anos já na escola é impressionante e muito positivo”. Mas, num primeiro momento, o avanço da economia pode provocar um retrocesso nesse sentido. “Na época do plano cruzado, era elevado o percentual de trabalho infantil. O aquecimento da economia, com maior oferta de emprego, pode atrair novamente os jovens”, avalia o economista. Nordeste: lanterninha Na análise dos dados regionais do IBGE, a síntese revela que se manteve o fosso entre o Nordeste e os demais estados do País. O rendimento dos trabalhadores da região representa 50% do que ganham os moradores do Sudeste e 59% da média nacional, proporções que se mantiveram entre 1993 e 2003. A precariedade do mercado nordestino se revela em outros indicadores. No País, 10% dos trabalhadores recebem até meio salário mínimo. O Nordeste é a única região com taxa superior, chegando a dobrá-la. Em 2003, a média nacional de salário era de R$ 726,60, enquanto na região os rendimentos mensais dos trabalhadores chegava a R$ 430.

Relacionadas