Economia
Coringa diversifica e busca expans�o

PATRYCIA MONTEIRO Editora de Economia Na feira livre de Arapiraca, no final dos anos 60, o comércio do fumo era rústico, artesanal. Comumente o consumidor chegava para o comerciante e pedia um naco do produto para fazer seu cigarrinho de palha. Com a sensibilidade típica dos grandes empreendedores, José Alexandre dos Santos percebeu que seus clientes costumavam levar o produtos para esmigalhar em casa e colocar na seda. Daí surgiu a idéia de triturar seu fumo in natura para facilitar o ritual da clientela. Foi assim que nasceu o grupo Coringa ? um dos maiores de Alagoas ? e foi com essa filosofia de trabalho empresarial, calcada nas necessidades que os clientes as vezes nem sabem que têm, que ele cresceu e diversificou. Um reflexo disso é que hoje o carro-chefe dos produtos Coringa nem é mais o fumo. Atualmente os derivados de milho dominam o faturamento do grupo que, no ano passado, foi de R$ 70 milhões. De tudo que as Indústrias Reunidas Coringa vende, 45% corresponde aos derivados de milho, 22% são produtos de café, 20% são embalagens plásticas e o fumo detém apenas 6% de participação. O restante é dividido entre os novos produtos à base de arroz, além dos condimentos. ?Desde 2000 para cá, houve essa inversão nas vendas dos produtos do grupo. Atribuímos essa mudança à diminuição do consumo de fumo de um modo geral por causa das campanhas anti-tabagistas?, diz Sérgio Murilo Pinheiro, gerente de Marketing do grupo Coringa. De acordo com o executivo, o grupo mantém a unidade de beneficiamento de fumo em nome da tradição do município de Arapiraca, que já foi o maior produtor do Brasil, e também por causa do uso intensivo de mão-de-obra. ?No que depender de nós, queremos dar incentivos constantes à população?, afirma. ?É da terra, é da gente!? Embora os principais produtos do grupo demandem matéria-prima de outros estados, o Coringa tem absorvido o máximo a produção alagoana. Só para se ter uma idéia, todo milho de Arapiraca, que não é comprado pela concorrência, o grupo absorve. Seis milhões de quilos do grão são processados industrialmente pelo grupo Coringa por mês, sendo que o milho alagoano é insuficiente, só dá para 30 dias. Então boa parte da matéria-prima vem da Bahia, de Goiás, Mato Grosso e Paraná. O grupo bem que tentou dar um incentivo à diversificação da cultura de fumo, comprando uma colheitadeira para mecanizar esta etapa da produção entre os produtores de Arapiraca e garantindo a compra, mas a tradição falou mais forte. Por outro lado, todo o arroz produzido no Estado, nos municípios de Igreja Nova e Penedo está sendo adquirido pelo Coringa há cerca de três meses, quando foi lançado o Flocão de Arroz. São cerca de 200 toneladas mensais. A nova unidade industrial requisitou R$ 1milhão em investimentos, gerando 50 novos postos de trabalho. ?Até o final do ano vamos lançar novos produtos derivados de arroz e vamos entrar no mercados de pratos prontos?, afirma Pinheiro, de modo reticente, tentando manter o sigilo, mencionando apenas que com a entrada no mercado pratos prontos o grupo alagoano vai competir com gigantes do mercado como a Nestlé. ### Grupo espera faturamento 20% maior Está nos planos do grupo Coringa expandir para as regiões Sul e Sudeste do País. Para tanto, o conglomerado já está investindo cerca de R$ 2 milhões na aquisição de novos equipamentos, na modernização de algumas máquinas e na ampliação física da fábrica propriamente dita. Mas, o grande desafio está comercialização. ?Nosso departamento comercial está preparando uma nova estratégia logística para fazermos distribuição, inicialmente, dos nossos derivados de milho?, diz Sérgio Murilo Pinheiro, gerente do grupo Coringa. Pode ser um desafio, mas o grupo tem na experiência um trunfo para se dar bem na empreitada. Afinal, atualmente os produtos da marca Coringa há muito extrapolaram as fronteiras do Estado. Eles estão presentes em todo Nordeste, no Norte e também na região Centro-Oeste. Em Alagoas, as principais redes de supermercados dispõe de produtos Coringa, entre elas o Via Box, o Bompreço e o Unicompras. Café E no que depender da persistência, o grupo vai longe. Pois, mesmo com a forte concorrência entre as torrefações de café, o Coringa é um dos que se mantém firmes em Alagoas. Houve uma época em que haviam onze fábricas aqui no Estado. Hoje, restam apenas três: a AFA, a MC e o Coringa. Sendo que, nesta linha de produtos, o grupo ainda conseguiu inovar produzindo o café solúvel Coringa que concorre com o Nescafé, por exemplo. ?A matéria-prima vem do Paraná, Minas Gerais e Espírito Santo?, enumera Pinheiro, mencionando que o produto solúvel tem produção terceirizada. As embalagens de plástico surgiram meio que por acaso. No primeiro momento, o conglomerado pensou em produzir embalagens para seus próprios produtos que, atualmente abocanham 50% da produção. Mas, logo os plásticos viraram um bom negócio e hoje são comercializados para grandes grupos como o Tércio Wanderley (Açúcar Coruripe) e Carlos Lyra (Fábrica da Pedra e Açúcar Caeté). ?Toda matéria-prima deste segmento de negócio vem do pólo de Camaçari?, conta Sérgio Murilo Pinheiro. Com o slogan ?É da terra, é da gente!?, o conglomeradose mantém investindo em Alagoas. São seis fábricas ? milho, corantes, café, plásticos, arroz e fumo ? que geram 600 empregos diretos. Para aumentar sua participação no mercado de alimentos, o grupo Coringa não doura a pílula. Ele aposta em veiculação de propaganda na TV, na participação de programas televisivos, no corpo a corpo nos pontos de vendas e na divulgação de receitas elaboradas com ingredientes que fazem parte de sua linha de produtos. No momento, o grupo está selecionando receitas para fazer um livro. ?Este ano, estamos prevendo um incremento de 20% nas nossas vendas graças aos novos produtos e aos lançamentos previstos?, diz Pinheiro, mencionando que as vendas cresceram 10% ano passado em relação a 2003.