Economia
Controle de aftosa vai multar pecuarista

PATRYCIA MONTEIRO Editora de Economia Os pecuaristas alagoanos que não vacinaram seus animais ou que não declararam a vacinação devidamente vão ser punidos em breve. É que a Lei de Defesa Animal, sancionada no dia 1º de julho, está em fase de regulamentação e deve entrar em vigor no mês de agosto. E, de acordo com a nova lei, a negligência por parte dos criadores de bovinos e bubalinos está passível de multa. Segundo Hibernon Cavalcanti, diretor de Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura (Seagri), a medida visa sobretudo elevar a classificação de Alagoas em relação à erradicação da aftosa no País. Apesar do Estado nunca ter registrado casos de contaminação, ele é considerado zona de risco desconhecido pelo Ministério da Agricultura é a pior classificação existente. O primeiro passo foi dado quando comercializamos as vacinas contra aftosa em Alagoas. Aqui foram vendidas 846 mil doses. Mas na hora da declaração, apenas 567 mil cabeças de gado foram declaradas vacinadas, conta Cavalcanti. A diferença entre vacinas vendidas e gado declarado vacinado trouxe um inconveniente à conquista de uma nova classificação no ministério. É que, de acordo com a exigência do governo federal e de organismos internacionais, é necessário que pelo menos 80% do rebanho do Estado fosse vacinado. O número declarado de animais deixou Alagoas abaixo da meta, com cerca de 63% de vacinação. Para Hibernon Cavalcanti, os produtores locais precisam ser conscientizados sobre a importância da declaração. O fato de termos a pior classificação em relação à aftosa inibe a realização de bons negócios por parte dos produtores que ficam restritos a comercializar seus produtos nos estados cuja a classificação seja igual a de Alagoas, explica o diretor da Seagri. CENÁRIO NACIONAL Atualmente, no Brasil, apenas as regiões Norte e Nordeste ainda permanecem em zonas de risco desconhecido de aftosa. As regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste já são consideradas Zonas livres de aftosa graças à vacinação. Na região Nordeste, Bahia e Sergipe deram um banho nos conterrâneos. Desde 2001, esses estados são considerados livres da aftosa, podendo comercializar seus produtos com as demais regiões livres. Essa mudança de classificação em Sergipe e Bahia foram fruto, sobretudo, de campanhas maciças de vacinação que aumentaram a cobertura vacinal, além da criação de uma Agência de Defesa Animal que aumentou o controle sobre a entrada e saída de animais nas fronteiras dos estados e a fiscalização da vigilância sanitária. ### Estado tem até 2007 para estar livre Embora não tenha a mesma expressividade financeira dos negócios do setor sucroalcooleiro, a atividade pecuária ocupa uma extensão de área maior do que o cultivo de cana-de-açúcar em Alagoas. Segundo dados da Secretaria de Agricultura (Seagri), a criação de gado ocupa cerca de 893 mil hectares de terra, enquanto os canaviais 410 hectares. Segundo o diretor da Seagri, Hibernon Cavalcanti, nas regiões do Estado onde a comercialização de produtos e animais são mais intensas a declaração vacinal obteve êxito, ficando acima de 90%. Isso ocorreu nos arredores de Palmeira dos Índios, Batalha e Arapiraca. Entretanto, nas regiões de Girau do Ponciano, Traipu, Mata Grande e nos litorais Norte e Sul, a média de declaração ficou abaixo das expectativas. De acordo com o pecuarista alagoano, Álvaro Vasconcelos, de fato falta um pouco mais de conscientização por parte dos criadores de gado do Estado. Todos estamos sendo prejudicados com essa classificação de zona de risco deconhecido por parte do ministério. Em breve ficaremos ilhados, afirma, mencionando que outros estados nordestinos têm avançado no processo de obtenção de classificações melhores em relação à aftosa. De fato, o Maranhão, por exemplo, já é considerado uma região de médio risco da aftosa. Na prática, isto significa que o Estado pode comercializar seus animais para outras regiões livres, desde que o gado fique sob quarentena e seja submetido a exames de sangue. Ao que tudo indica, até o fim do ano que vem, Pernambuco será considerado uma zona livre de aftosa. Lá já existe uma Agência de Defesa Animal e o Estado tem avançado muito na sua vacinação. Com isso, vamos perder o único mercado que nos restava desde que a Bahia e Sergipe se fecharam para nós, conta Vasconcelos. O pecuarista vê com bons olhos a criação da Agência de Defesa Animal de Alagoas. Será uma ação positiva, tendo em vista que a própria Secretaria de Agricultura é cheia de atribuições, já que é responsável pela distribuição de sementes entre os produtores, coordena o Programa do Leite e ainda presta assistência técnica no campo. A Agência estará focada na questão da defesa animal melhorando o controle e a fiscalização sanitária, afirma. Vale ressaltar que essa sintonia entre Estado e criadores é imprescindível para encerrar a novela da aftosa no Estado. Isso sem mencionar que existe uma pressão nacional e até internacional que exige que todo hemisfério esteja livre até 2007. |PM ### Mas, afinal de contas, o que é aftosa? A febre aftosa dificilmente causa enfermidades no ser humano, que apresenta suas próprias defesas imunológicas contra o vírus. A aftosa é causada por sete vírus altamente contagiosos que podem ser disseminados no contato com animais, além do contato com o solo e água contaminadas. O vento pode também transportar o vírus em um raio de 90 quilômetros de distância. Apesar de não causar mal ao homem, o mal da aftosa é extremamente prejudicial aos criadores de gado, tendo em vista que os animais emagrecem e produzem menos leite. Os animais não vacinados podem até morrer por causa da febre aftosa. No mundo, são consideradas áreas livres de aftosa a América Central, a América do Norte, a Europa Ocidental, Japão, Nova Zelândia, Austrália, Argentina, Uruguai e Chile. Nesses países, sobretudo nos Estados Unidos e na União Européia, as regras de importação de carne são extremamente rígidas. Açúcar Essas barreiras sanitárias, inclusive, podem não se restringir à exportação de carne em si, atingindo outros produtos agrícolas como açúcar. Com o fim das barreiras tarifárias, um dos mecanismos que pode ser utilizado por países que queiram brecar a alta competitividade brasileira na exportação de produtos agrícolas, são as barreiras sanitárias, diz Hibernon Cavalcanti, diretor da Secretaria da Agricultura. Por isso, é tão importante buscar a classificação de zona livre. Para evitar que questões sanitárias como estas prejudiquem o desempenho brasileiro e alagoano nas exportações de produtos como açúcar sejam prejudicados daqui para frente, alerta Cavalcanti. |PM