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Estudo tenta explicar a riqueza dos ricos

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| André Deak Agência Brasil Brasília - Durante anos, grande parte das pesquisas sobre desigualdade dedicou-se a estudar os motivos da pobreza. O economista Marcelo Medeiros faz parte de um grupo, ainda pequeno, que estuda a outra ponta da pirâmide social: os ricos. Segundo ele, essas pesquisas seriam a porta de entrada para a redistribuição de renda no Brasil – que, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas (ONU), é o oitavo País mais socialmente desigual no mundo, na comparação de 177 países. “É óbvio que para resolver a desigualdade será preciso ter redistribuição, tirar de um grupo e dar para o outro. Mas não pode ser uma distribuição Hobin Hood, irresponsável. Não pode simplesmente sair taxando os ricos, criar impostos. Então, é preciso conhecer melhor esse grupo, para saber como ele pode ser melhor taxado”, diz Medeiros. A pesquisa de Medeiros, que recebeu o prêmio de melhor tese do Brasil pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), foi publicada em 1999. Pelos cálculos atuais do economista, seria rica a família que recebe cerca de R$ 3.500 per capita. Ou seja, uma casal que ganhe R$ 7 mil, ou um casal com duas crianças que some R$ 14 mil ao final do mês. A definição é controversa, e muitas pessoas recusam-se a admitir que são ricas. “Existem estudos no mundo sobre auto-classificação na hierarquia social, e as pessoas usam eufemismos. Por exemplo: sou classe média baixa ou sou classe média alta. Raramente dizem sou pobre ou sou rico”, diz o economista. Por que os ricos são ricos, afinal? O trabalho de Medeiros aponta alguns caminhos, mas principalmente descarta grandes mitos populares. Pobreza (ou riqueza) não está ligada ao tamanho da família, ao volume de trabalho ou à educação. “As explicações clássicas não valem. Os ricos trabalham duro, mas isso não é suficiente para explicar a riqueza. Nem o número de filhos. A educação também não é o passaporte para entrar no mundo dos ricos. É provavelmente condição necessária, mas não é suficiente. E é mais fácil ser rico no Sudeste que no Nordeste”. Juros altos A taxa básica de juros do Brasil, de 19,75% ao ano – uma das maiores do mundo – seria um dos mecanismos que perpetuam a desigualdade social no País, acredita Medeiros. “Quando o governo aumenta os juros, ele ajuda quem tem dinheiro no banco”, diz. Medeiros defende que uma das maneiras de se iniciar a redistribuição de renda seria aplicar taxar específicas aos ricos. “É muito mais sensato taxar operações não-produtivas do que setores que estão acelerando a economia”, afirma. Medeiros desenvolveu estudos sobre os ricos, buscando facilitar futuros trabalhos sobre a desigualdade. De acordo com seu último levantamento, de 1998, 1% da população total em 1998 (162 milhões) era dona de metade de todo o patrimônio declarado à Receita Federal. De acordo com a análise do professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade de Cambridge, Flávio Comim, “a máquina estatal foi orientada no Brasil para o benefício dos ricos, não dos pobres”. Comentando o trabalho de Medeiros, ele acrescenta que a moral da história contada por Medeiros é clara: “É preciso tornar o Estado brasileiro menos ‘pró-rico’ e mais ‘pró-pobre’”.

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