Economia
Aberta temporada para contrata��es

| NIVIANE RODRIGUES Repórter Igor Leonardo Gomes da Silva, 19, trabalhava como chefe de garçom, mas há quatro meses perdeu o emprego e ainda não conseguiu uma colocação no mercado de trabalho. A esperança do jovem agora é ser aprovado no teste de seleção para o cargo de promotor de vendas numa empresa de alimentos. Igor faz parte de uma legião de pessoas que diariamente estão se submetendo a uma disputada vaga para cargos diversos no mercado temporário de empregos, um contrato de trabalho que cresce com a aproximação das festas de fim de ano, quando as vendas no comércio aumentam e é preciso ampliar o quadro de funcionários para garantir o atendimento. Em Alagoas, a previsão é de que este ano sejam abertos entre 1.200 a 1.500 postos temporários no comércio e turismo, os dois setores que mais absorvem mão-de-obra temporária no Estado. Os números representam um percentual entre 10% a 15% a mais do que o registrado no mesmo período de 2004, considerado um ano de vacas magras para a economia brasileira. Naquele ano, segundo as empresas especializadas, foram gerados 800 empregos temporários em Alagoas. Sem crise Nem mesmo a crise política no País, com denúncias de corrupção surgindo quase que diariamente, deve afetar as vendas e a conseqüente oferta de empregos, segundo acreditam os gerentes de empresas especializadas na contratação de mão-de-obra temporária e os próprios lojistas. Na disputa pelas vagas, pessoas de todas as idades, principalmente os jovens na faixa etária entre 18 a 24 anos, lotam as empresas, que em média recebem entre 100 a 150 currículos por dia. O gerente da Gelre Contultoria de Trabalhos Temporários, considerada a maior do País, Regis Reyner Cansação Mota, revela que no Brasil os contratos temporários devem ficar entre 60 a 70 mil, sendo 40 mil só em São Paulo e o restante nos demais estados. Alagoas deve absorver entre 2% a 2,5% desse total, contratando uma média de 1.500 trabalhadores para o período do fim do ano. Devemos voltar ao bom período registrado em 2003, afirma. Na Gelre, no bairro do Farol, os currículos continuam chegando. Desses, entre 5% a 10% são absorvidos pelo mercado, de acordo com Régis Mota. Mas apenas um em cada grupo de quatro trabalhadores temporários consegue um emprego permanente após fim do breve contrato. ### Qualificação e experiência ficam em segundo plano O que é preciso para conquistar uma vaga num mercado tão disputado? O gerente da Gelre, Regis Mota, revela o segredo: disposição e vontade de trabalhar. Qualificação, segundo ele, não é o principal item no contrato temporário. A não ser para empregos de técnicos especializados. No caso do emprego temporário o que mais conta é a disposição para o trabalho, já que o contrato dura, no máximo, 90 dias, afirma. O processo de seleção é simples. Primeiro o candidato deixa o currículo na empresa, que faz uma triagem indicando em qual área o trabalhador pode ser aproveitado. Quando surge a vaga, uma equipe seleciona os candidatos cujo perfil mais se aproxima da exigência da empresa contratante. O candidato então é chamado para uma entrevista com dinâmica de grupo, podendo haver ou não a participação de um representante da empresa. É a contratante quem dá a palavra final sobre o escolhido. Convenções e Aeroporto O assistente comercial da Star, outra empresa instalada em Maceió especializada na contratação de terceirizados, Eduardo Maia, também está otimista. Para ele, a construção do Centro de Convenções e do Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares deve alavancar as contratações em caráter temporário este ano. A Star também recebe uma média de 100 currículos por dia e, desses, segundo Eduardo Maia, 12 são colocados no mercado toda semana. Na empresa, na última terça-feira, Anderson Henrique Vera Cruz, 22, aguardava no corredor a hora de entrevista com gerentes de uma empresa do ramo alimentício que está contratando temporários para o período de fim de ano. O otimismo tem que está em cima, afinal há quatro meses estou desempregado, diz o estudante que foi obrigado a deixar o curso superior de análise de sistemas para trabalhar. |NR ### Possível alta nas vendas impulsiona contratações O maior centro de lazer e compras de Alagoas, o Shopping Iguatemi deve abrir 300 vagas de emprego temporário este ano. A expectativa da superintendência é de um aumento de vendas em torno de 15% a 20% em relação ao mesmo período de 2004. O processo de seleção já começou e inclui, além das empresas especializadas, os próprios lojistas, que muitas vezes preferem fazer por conta própria a contratação do trabalhador. Os temporários, no entanto, só devem começar a trabalhar a partir da primeira quinzena de novembro, para atender as pessoas que antecipam as compras de Natal. O superintendente do shopping, Robson Rodas, diz que o percentual de contratações temporárias é considerado suficiente. A expectativa do superintendente é que o faturamento do shopping passe de R$ 35 milhões mensais para R$ 50 milhões no período das festas de Natal. Cerca de 17% desse faturamento vai para o Estado em ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), afirma Robson Rodas. Ele também avalia que a crise política brasileira não deva afetar as vendas e a conseqüente contratação de mão-de-obra. De fato, todas essas denúncias mexem com o País e deixam o consumidor receoso; com medo de gastar. Mas a economia não se abalou porque felizmente a sociedade, as instituições de classe e os empresários amadureceram. São eles o suporte da economia brasileira, afirma. Nos últimos cinco anos, segundo Robson Rodas, o Iguatemi vem registrando um crescimento em torno de 20% nas vendas a cada ano e a tendência, de acordo com o superintendente, é melhorar. Tanto é que ele anuncia a instalação de cinco grandes lojas no shopping até 2006. Das seis âncoras existentes atualmente, passaremos para nove, diz. Atualmente existem 167 lojas no Iguatemi que há quinze anos, desde que foi instalado, emprega quase 3 mil pessoas. Já o presidente da Associação dos Lojistas do Shopping Iguatemi (Alsim), Antônio Accioly Marciel, diz que as contratações temporárias fazem frente às vendas e devem crescer em torno de 20% em relação a 2004. Ele revela que ainda não houve um aumento no número de currículos entregues na associação, o que só deve ocorrer na segunda quinzena de outubro. Em média recebemos 20 currículos por dia e 100 por semana. É possível que, a partir da segunda quinzena de outubro, esses números aumentem, afirma. Buraco do ano Para o empresário, setembro foi considerado o buraco do ano. Os motivos, segundo diz, não têm uma explicação concreta, no entanto, acredito que as pessoas devem ter guardado dinheiro, se preparando para as compras de fim de ano. Ao contrário do que acredita o superintendente do shopping, a previsão de Antônio Accioly é de um aumento em torno de 8% nas vendas este ano em relação a 2004. Mas o empresário revela que no primeiro mês de instalação do sistema de cobrança do estacionamento, em agosto, houve uma queda nas vendas, cujo percentual os lojistas não sabem precisar. A direção do shopping garante que as vendas não sofreram abalo, mas, desde que as pessoas começaram a pagar para estacionar, o movimento caiu, diz o empresário para quem a cobrança é um procedimento absolutamente normal, que ocorre em quase todos os shoppings do País. O que defendemos é uma mudança no percurso dos veículos que ficou mais longo com a colocação das cancelas, afirma. Sem qualificação No setor turístico, a expectativa também é de aumento em torno de 20% nas contratações de trabalhadores temporários, mas o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares e Similares, José Renaldo de Abreu, reclama da não-destinação de recursos federais do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para a qualificação profissional. A área de turismo exige qualificação profissional, no entanto, desde o início do atual governo federal, Alagoas não é contemplada com recursos para qualificar trabalhadores o que deve prejudicar a contratação temporária este ano, afirma o sindicalista, que também aposta no Centro de Convenções e no Aeroporto Internacional como geradores de empregos, inclusive temporários. Os currículos entregues no sindicato estão sendo enviados aos departamentos de recursos humanos dos hotéis para a seleção. ### Empregados temporários têm direitos De olho no cumprimento da legislação que trata das contratações temporárias, o delegado regional do Trabalho em Alagoas, Ricardo Coelho, anuncia fiscalizações para combater possíveis ilegalidades. O trabalho, realizado todos os anos, deve envolver 20 fiscais da DRT que percorrerão comércio, shoppings, supermercados e indústria. A fiscalização começa em novembro e prossegue até dezembro, período em que as contratações temporárias permanecem. Nosso objetivo é coibir abusos, como a presença de trabalhadores sem carteira assinada, diz o delegado Ricardo Coelho. Direitos iguais Isso porque, segundo ele, o trabalhador temporário possui vínculo empregatício, que garante os mesmos direitos trabalhistas de um funcionário efetivo, ou seja, carteira assinada, jornada de 44 horas de serviço semanal e hora extra quando essa jornada é ultrapassada, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), proporcionais ao período trabalhado, comissão, décimo terceiro salário e férias. Os únicos direitos que os temporários não possuem é o aviso prévio e a multa de 40% de FGTS quando da dispensa sem justa causa. Além disso, o temporário também recebe vale-transporte e pode solicitar um registro formal na parte de anotações que conta na hora da aposentadoria. Quando é contratado por uma empresa especializada em terceirização, caberá a ela assinar a carteira do trabalhador e garantir a ele todas as conquistas trabalhistas. O delegado diz que, apesar de legal, a contratação temporária só deve ocorrer quando a empresa comprova a real necessidade e ainda assim para um período que não pode exceder os 90 dias. Irregularidades No ano passado, a fiscalização da DRT flagrou vários casos em que a lei estava sendo burlada por empresas, como relata o delegado Ricardo Coelho. Cinqüenta por cento dos casos referiam-se ao não pagamento de hora extra. Ou seja, o trabalhador extrapolava as 44 horas semanais de trabalho e não recebia nada além da remuneração estabelecida inicialmente, diz o delegado. Outros 20% de ilegalidade referiam-se a não assinatura da carteira de trabalho. Mas, segundo Ricardo Coelho, essa situação só foi registrada por empresas que contratam por conta própria os temporários. No caso das especializadas, a lei estava sendo devidamente cumprida. Quando uma empresa é flagrada burlando a lei, o fiscal da DRT notifica o infrator e dá um prazo normalmente de dez dias para que sane a irregularidade e cumpra a lei. Se isso não ocorrer, é aplicada multa. A maior dificuldade da DRT continua sendo a falta de pessoal para realizar o trabalho de campo. De acordo com o delegado Ricardo Coelho existe atualmente 26 fiscais para atender Maceió, quando o necessário para fazer o trabalho efetivo de fiscalização seria pelo menos 50. De lingerie a café Enquanto a DRT se prepara para a fiscalização nas empresas especializadas em contratação de mão-de-obra terceirizada, a corrida em busca de uma vaga no mercado de trabalho continua, mesmo que seja temporário. Carla Patrícia Araújo, 24, trabalhava confeccionando lingerie, mas acabou desistindo porque não conseguia disputar com as lojas. Sem renda, ela espalhou currículo nas empresas na tentativa de encontrar um emprego antes do fim do ano. A jovem acabou dando sorte e na última terça-feira conquistou o tão esperada vaga. O currículo dela foi selecionado em meio a vários outros numa seleção realizada pela Star. O trabalho temporário é para função de demonstradora de café em um supermercado da capital. Pelo trabalho, Carla Patrícia vai ganhar o salário mínimo, mas demonstra satisfação, já que está sem renda há três meses. Trabalhar com lingerie não dava certo; era muito trabalho e pouco lucro, afirma. ### Vaga de Papai Noel é garantia de boa remuneração Festa de Natal é emprego garantido para uma figura símbolo da época: o Papai Noel. Neste período, quem costuma fazer a alegria da criançada, fatura alto com apresentações em festas e shopping centers. Jailson Alves Basil, 34, virou Papai Noel há sete anos. Há três, foi descoberto num teste de seleção de uma empresa contratada pelo Shopping Iguatemi para escolha do Papai Noel. Desde então, o trabalho temporário tem sido sua grande fonte de renda. Jailson é marceneiro e quando consegue um emprego fixo costuma receber R$ 600 por mês. Quando não tem emprego, ele trabalha como autônomo, fabricando móveis. Renda extra No shopping, como Papai Noel, sua renda mensal é de R$ 900. Como vai trabalhar durante 45 dias, calcula que deva receber cerca de R$ 1.500. Os convites para se apresentar em festas de escolas e em residências durante a noite de Natal acabam garantindo a Jailson um rendimento em torno de R$ 2.500 até o fim de dezembro. É com o dinheiro extra que ele paga as dívidas e garante a sobrevivência dele, da esposa e dois filhos durante três meses, aproximadamente. O trabalho no shopping é realizado a semana toda, sem folgas. São seis horas de serviço com pequenos intervalos para descanso e lanche, que também é pago pelo shopping. Jailson recebe vale-transporte e diz que, apesar da jornada, vale a pena. Tudo começou quando recebi um convite de amigos para me vestir como Papai Noel em uma escola. Daí, os convites foram surgindo e não parei mais; comecei a gostar do que fazia e percebia que ia dar certo, conta. Jailson estava desempregado quando viu um anúncio em jornal convocando candidatos a Papai Noel para uma seleção. Fui aprovado e o pessoal do shopping me convidou para uma conversa. Queriam saber qual o papel de um Papai Noel. Disse que acima de tudo é passar para as crianças a fantasia do Natal. É assim que as crianças nos vêem e é assim que deve ser nosso trabalho, afirma Jailson que mora numa casa pequena no Conjunto Parque das Américas, no Benedito Bentes. |NR