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Nº 5814
Economia

Tapando buracos, fam�lia consegue p�o e querosene

São José da Tapera - Quando o dia amanhece, eles ganham a estrada – literalmente. A família Soares, pai e filhos menores, fatura o extra tapando com areia os buracos na rodovia. Quando a noite chega ele confere a féria dos filhos: três reais para uma j

Por | Edição do dia 19/05/2002 - Matéria atualizada em 19/05/2002 às 00h00

São José da Tapera - Quando o dia amanhece, eles ganham a estrada – literalmente. A família Soares, pai e filhos menores, fatura o extra tapando com areia os buracos na rodovia. Quando a noite chega ele confere a féria dos filhos: três reais para uma jornada de trabalho que começa às 6 horas e vai até 17 horas; não é muito, mas garante o pão e o querosene que ilumina a casa de taipa sem reboco. Os buracos na pista, que irritam os motoristas, fazem a festa dessa família de alagoanos incluída no percentual calculado pelo IBGE, de 31%, para contar os que sobrevivem fora do mercado formal de empregos no Estado. José Soares, o pai, tem 33 anos, mora numa propriedade à margem da rodovia e trabalha como bóia-fria na agricultura – quando há serviço. Também planta de meia – metade para ele, metade para o dono da terra – mas está difícil encontrar terra boa para lavoura. “Hoje o fazendeiro só quer criar gado. Ninguém quer arrendar terra, a não ser para plantar palma ou capim”, disse resignado. Água da chuva É difícil acreditar que possa existir alguma família sobrevivendo dos buracos da pista, que são tapados e reabertos quando o motorista se vai. O filho mais novo de José Soares tem apenas sete anos; raquítico, mal consegue segurar a pá com a qual transporta a areia para encher os buracos na rodovia, mas sua presença é indispensável – é o que atrai a clientela, comovida com o espectro de gente maltrapilha e extremamente carente. Os números frios que mostram a estatística do censo do IBGE podem ser comprovados por quem se aventura em viagens ao interior do Estado. Lá, a situação é ainda pior. No município de Cacimbinhas, por exemplo, até mesmo quem é considerado como classe média sofre com o desemprego e o caos econômico. José Dantas, dono do caminhão-pipa MUC 1823, sobrevive vendendo água da chuva que ele retira do açude para abastecer a zona rural, cobrando frete de 200 reais por viagem. “A gente tem de se virar com o que pode e com o que tem à disposição. Aqui não tem mercadoria para transportar e meu caminhão é velho, não agüenta uma viagem para São Paulo. Tenho de me virar por aqui mesmo”, explica. O pior é que não existe perspectiva de melhoria, o que pode ser compreendido na definição do economista Fernando Lyra, na entrevista à TV GAZETA: “Em Alagoas, a partir de São Miguel dos Campos, há um vazio econômico”.

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