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Nº 5759
Economia

Produtor alega preju�zo de meio milh�o

| Maikel Marques Repórter Dois Riachos - Três semanas depois do início do funcionamento da barreira sanitária do governo de Pernambuco em Bom Conselho, divisa com Palmeira dos Índios, criadores de gado de todo o Sertão já contabilizam prejuízos superio

Por | Edição do dia 26/03/2006 - Matéria atualizada em 26/03/2006 às 00h00

| Maikel Marques Repórter Dois Riachos - Três semanas depois do início do funcionamento da barreira sanitária do governo de Pernambuco em Bom Conselho, divisa com Palmeira dos Índios, criadores de gado de todo o Sertão já contabilizam prejuízos superiores a R$ 500 mil depois do “sumiço” dos pernambucanos. Segundo os criadores alagoanos, os compradores de Pernambuco chegavam com o “bolso cheio de dinheiro vivo” para comprar animais expostos pelos produtores alagoanos na tradicional feira do gado de Dois Riachos, que movimenta a região às quartas-feiras. O sumiço dos pernambucanos - principais compradores de bovinos, caprinos e eqüinos em Alagoas - é conseqüência da mudança de classificação do Estado de Pernambuco em relação ao combate à febre aftosa. Depois de criar sua Agência de Defesa Agropecuária (Adagro) três anos atrás e de receber, ano passado, vistoria técnica do Ministério da Agricultura, o Estado vizinho mudou de “zona de risco desconhecido” para “zona de risco médio” quanto ao combate à doença. A mudança de classificação impôs o isolamento do agronegócio alagoano no cenário nordestino. Por determinação do governo federal, desde o início deste mês Pernambuco só pode permitir o ingresso em seu território de animais alagoanos cujos compradores concordem em submetê-los à quarentena no território pernambucano. Só depois da avaliação da saúde do animal por quinze dias é que o negócio pode ser concretizado. “Essa norma inviabilizou por completo a venda de animais de Alagoas para Pernambuco. Desde o início do mês, não se emite nenhuma guia de transporte de animal do nosso Sertão para o Estado vizinho. Esse comércio parou de vez”, observa Rutival Nunes, secretário de Agricultura de Dois Riachos. Segundo o secretário, cada feira movimenta, “em dinheiro vivo”, mais de R$ 1 milhão na compra e venda de animais para engorda ou abate. “Fizemos os cálculos com os vendedores e estimamos que esse fluxo financeiro caiu pela metade. O dinheiro dos pernambucanos sumiu de vez porque eles não podem cruzar a divisa para comprar nossos animais. Antes do fechamento da barreira, mais de 15 caminhões abarrotados de animais saíam de Dois Riachos para o interior de Pernambuco. Essa movimentação acabou faz três semanas. Infelizmente”, reforça o secretário. ### AL quer mudar de classificação ainda este ano O diretor-geral da Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (Adeal), Hibernon Cavalcante, confirma a redução no volume de negócios na região, mas, segundo ele, a queda não seria tão acentuada - diminuição de 50% nas vendas, como alega o secretário de Agricultura de Dois Riachos, Rutival Nunes. “Houve redução, mas não foi apenas nas feiras livres de Alagoas. Nos municípios de Pernambuco também há registro de diminuição. Já que o corretor ou comprador de gado vinha adquirir animais em Alagoas para revender em Pernambuco”, diz. Segundo Cavalcante, os animais vendidos nestas feiras são os chamados de ‘sem raça melhorada’, que, de acordo com ele, são comercializados por pequenos criadores e não por aquele produtor que investe em animais de qualidade. Em pé de igualdade No entanto, Cavalcante destaca que o comércio deve ser normalizado quando Alagoas conseguir o mesmo estágio de classificação de risco para febre aftosa que Pernambuco obteve. “Alagoas pretende conseguir isso ainda este ano e assumiu um compromisso com o Ministério da Agricultura. Mas dependemos de alguns fatores. Como o engajamento de produtores, profissionais da área e do próprio governo, que ao criar a Adeal em janeiro deste ano já demonstrou seu interesse”, diz o diretor-geral da Adeal. Dinheiro vivo A ausência do “dinheiro vivo” - característica da feira onde não se utiliza cheque ou cartão de crédito - também pode ser a explicação para a queda no preço médio da arroba [15 quilos], base de cálculo do valor de um animal mestiço. “A arroba caiu de R$ 70 para R$ 55 em média”, atesta Francisco Alves, o “Nego Aparecido”, criador de Olivença e freqüentador da feira há duas décadas. “Estamos no pior momento. Está ruim para comprador e vendedor”, afirma. A falta de comprador externo e a conseqüente diminuição do fluxo de dinheiro produz cenas jamais vistas na feira de Dois Riachos: animais de grande porte ficam encalhados mesmo sendo ofertados a preços reduzidos e atrativos. “Essa vaca vale uns R$ 1.200. Hoje, estou pedindo R$ 900 e não encontro nenhum comprador. Vou levá-la de volta ao curral. Não tenho outra saída”, disse, com desânimo, um criador de Dois Riachos. VA/MM ### Animal sem guia de vacinação é abatido Técnicos da Secretaria de Estado da Agricultura responsáveis pelo posto de fiscalização da origem dos animais expostos na feira confirmam: há quinze dias não se emite qualquer guia de transporte animal (GTA) para comprador de Pernambuco. “Veja o talão de 50 folhas. Está intacto. Não utilizei uma folhinha sequer. Tudo é conseqüência do isolamento de Alagoas”, explicou Antônio Marcelino, agente administrativo do governo. A cobrança da taxa municipal de utilização dos 85 currais espalhados pela feira - e utilizados para exposição de animais - também sofre “drástica” queda. “Não chega a R$ 500 a arrecadação por cada feira”, confirma o funcionário de plantão. A baixa arrecadação municipal seria um dos fatores pelos quais hoje em dia está “praticamente impossível” - diz o secretário de Dois Riachos, Rutival Nunes - a reforma do velho curral que já, caindo aos pedaços, está prestes a completar seu vigésimo aniversário. O rigoroso controle dos técnicos do governo do Estado no que se refere à exigência das guias de vacinação dos animais a serem expostos têm mantido distantes produtores que costumavam “empurrar” animais de origem duvidosa aos clientes da feira. “Até o roubo de animais na região diminuiu”, observa outro técnico da Secretaria Estadual de Agricultura. O rigor na fiscalização do outro lado da divisa, em Bom Conselho, também vem sendo seguido à risca. A reportagem da Gazeta visitou o posto da Agência de Defesa Agropecuária de Pernambuco (Adagro) e apurou que a ordem é “rechaçar com o abate” qualquer animal levado a Pernambuco sem autorização do governo daquele Estado. “Nenhum animal de Alagoas tem autorização para entrar em Pernambuco. E se o animal não tiver guia de vacinação, será abatido imediatamente”, atesta o veterinário José Márcio Ferreira, plantonista da Adagro na tarde da última quarta-feira. MM ### Alagoas faz levantamento sanitário de rebanho leiteiro Os produtos de origem animal de Alagoas que não possuem o Selo de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura também estão sendo barrados nos dois corredores sanitários instalados nas divisas entre Alagoas e Pernambuco. De acordo com o veterinário da Agência de Defesa Agropecuária de Pernambuco (Adagro), José Márcio Ferreira, “nenhum derivado de leite produzido em Alagoas entra em Pernambuco. E também alertamos para a fiscalização volante na zona rural”, completa o veterinário. Mesmo assim, segundo apurou a Gazeta, o comércio de queijo de coalho continuaria sendo feito de forma clandestina pela zona rural. Com relação ao leite cru, o diretor-geral da Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (Adeal), Hibernon Cavalcante, disse que Pernambuco exigiu um levantamento da situação sanitária das vacas leiteiras do Estado para rastrear zoonoses como brucelose e turbeculose. “Estamos trabalhando para concluir esse levantamento e atestar a sanidade dos animais. A Adeal já fez a certificação de algumas vacas. Mas o plano nacional de erradicação destas zoonoses determina que este tipo de exame deve ser feito por veterinários particulares e em Alagoas apenas 13 são habilitados para fazer os exames. Estamos inscrevendo outros para concluir o mais rapidamente o levantamento”, afirma. Parmalat Para continuar fornecendo leite para municípios pernambucanos, a multinacional Parmalat está pasteurizando parte de sua produção na fábrica da São Domingos, em União dos Palmares, e retornando com o leite pelo corredor sanitário de Bom Conselho. A medida provoca uma acréscimo de até oito centavos por cada litro de leite pasteurizado, mas este valor estaria sendo bancado pela empresa e não estaria sendo repassado para os produtores. Alguns fornecedores alagoanos da Parmalat já pasteurizam toda sua produção. VA/MM

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