Cultura da mangaba tenta sair do atraso

MÁRIO LIMA Editor de Economia A mangaba, fruto genuinamente nacional, tenta ganhar corpo através da economia, como produto que impulsiona as vendas da indústria de polpa congelada de frutas, sucos e sorvetes; mas ao mesmo tempo continua a sofrer ameaça constante de desaparecimento de sua cultura. Foi o que a Gazeta constatou no setor produtivo e entre cientistas, pesquisadores e especialistas. A produção e venda de mangaba in natura - alternativa de sobrevivência para as populações pobres nas regiões de maior incidência da fruta, os tabuleiros costeiros e a baixada litorânea do Nordeste, incluindo todo o litoral alagoano - está no tempo da ?idade da pedra?. ### Pesquisa diz que fruta sumiu no Litoral Norte Se no Litoral Sul de Alagoas ainda se encontram algumas ?ilhas? de mangabeiras nativas, na costa Norte do Estado restam pouquíssimos exemplares. Nessa região foi exatamente onde o trade turístico apostou todas as suas fichas durante os últimos dez anos. Pesquisa realizada nos estados nordestinos produtores de mangaba, realizada pelo engenheiro agrônomo Josué Franciso da Silva Júnior, mestre em Fruticultura Tropical pela Universidade Federal da Bahia e pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, revela um quadro nada animador para o futuro da cultura da mangaba. ### Mangaba processada puxa vendas de polpa e sorvete A venda de mangaba in natura e seu processamento industrial, apesar dos entraves na produção local, impulsionam hoje bons negócios, que envolvem a fabricação de polpas congeladas, sucos, sorvetes e picolés. O termômetro desse incremento da fruta como produto foi medido pela Gazeta por meio da maior empresa produtora e vendedora do setor no Estado, a Fika Frio, dos empresários Alberto e Cláudio Cabuz. ### Pequeno produtor fica sem tecnologia Em Alagoas, conforme apurou a Gazeta, não existem programas específicos, com foco na mangaba. Em conseqüência disto, os centros de produção natural da fruta ao longo da costa litorânea continuam intactos quanto a manejo, tecnologia de solo ou orientação ao pequeno produtor. E os gargalos continuam, indo desde a seleção de variedades até a comercialização. ### Bancos de germoplasma preservam mangabeiras Uma esperança, e uma segurança, para o futuro da espécie são os bancos de germoplasma, que tentam assegurar o patrimônio genético da mangabeira e, ao mesmo tempo, criar sementes selecionadas, em pomares experimentais, para reprodução em massa da árvore. Existem bons exemplos de bancos de germoplasma nos campi das universidades federais da Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. ### ?Alagoas já tem áreas de mangabeiras dizimadas? O engenheiro agrônomo graduado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com mestrado em Fruticultura Tropical e pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Josué Francisco da Silva Júnior, é um dos maiores especialistas em mangaba do Nordeste. Nesta entrevista, concendida à Gazeta, ele traça um panorama do atual momento e do futuro da cultura da mangaba no Nordeste e no Brasil. Confira. G - Quando se fala que a mangabeira está entre as 12 espécies frutíferas de altíssima prioridade para o Brasil, o que isto significa? Está aceso o sinal vermelho, a flora dessa fruta está em extinção mesmo? Josué Júnior - Não, essa lista de extinção se refere ao Ibama, e a mangaba não está em extinção. Essas 12 espécies frutíferas são aquelas que possuem o maior potencial para exploração comercial e para as quais os governos devem destinar maiores investimentos. Algumas das outras são araçá, pitanga, cajá, pequi, jabuticaba, jenipapo, umbu, umbu-cajá. ### Fruta cai no gosto popular e na inspiração dos escritores O nome da fruta mangaba vem do tupi-guarani e significa ?fruta boa de comer?. Seu gosto se divide entre o cítrico e o doce, mas quando está madura derrete na boca. Tem gente que acha a fruta estranha, há até quem não goste, mesmo considerando-se que no Sul ela ainda tenha fama de exótica. Aliás, é difícil explicar por que a saborosíssima mangaba ainda não se tornou uma fruta nacional. ///