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Nº 5824
Economia

Oito em cada 10 inadimplentes relatam problemas mentais e físicos

Segundo o Mapa da Inadimplência da Serasa, 40,26% da população adulta de Alagoas está inadimplente

Por Hebert Borges | Edição do dia 06/07/2024 - Matéria atualizada em 06/07/2024 às 04h00

Para Quitéria da Silva – nome fictício usado a pedido da personagem – todo barulho de moto perto de sua casa no começo do mês é o prenúncio da chegada do cobrador da prestação que ela deve do guarda-roupas. Tal acontecimento deixa a dona de casa de 52 anos, que mora no conjunto Maceió I, no bairro Cidade Universitária, ansiosa, com taquicardia, boca seca e sem fome. E não é por menos.

Ela não tem, mais uma vez, dinheiro para pagar a prestação. Todo esse contexto de cobrança e dívidas acumuladas têm deixado Quitéria doente física e mentalmente. A má notícia é que ela não está sozinha.

Pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) aponta que 82% dos inadimplentes admitem que sofreram algum tipo de efeito seja na saúde física ou mental após atrasar o pagamento das contas.

A situação é mais crítica se for levado em conta que, de acordo com o Mapa da Inadimplência e Negociação de Dívidas da Serasa, 40,26% da população adulta de Alagoas está inadimplente.

A condição de inadimplência se caracteriza quando a pessoa está com contas atrasadas há três meses ou mais. É o caso de dona Quitéria, que desde que o marido perdeu o emprego no começo do ano não conseguiu colocar as contas em dia. “Tenho que pagar água e energia, o que sobra faço a feira. Com o que estamos tirando hoje com os bicos do meu marido não dá pra pagar nada”, relata.

A dona de casa desabafa que muita gente acha que essa situação ocorre por falta de caráter e revela que sofre com o julgamento dos vizinhos. “Isso acaba com a pessoa. Eu não consigo dormir bem. Quando o cobrador vem aqui na porta todo mundo já sabe, fico envergonhada. Aí é aquela angústia que o corpo sente, né? Não consigo comer, a dor de cabeça vem porque a pressão aumenta”, afirma.

Os problemas vividos por Quitéria estão enumerados na pesquisa da CNDL, onde 66% dos inadimplentes relataram alterações no sono, 60% menos vontade de sair e socializar com outras pessoas e 51% alterações no apetite. Além do fato que, em praticamente todas as emoções investigadas, as mulheres têm destaque.

“A inadimplência traz impactos tanto no âmbito financeiro, como também na saúde emocional e física das pessoas. É importante que o consumidor que esteja nesta situação procure ajuda de amigos e familiares. Negociar dívidas e encontrar soluções demanda equilíbrio”, destaca o presidente da CNDL, José César da Costa.

Em Alagoas, segundo a Federação do Comércio do Estado de Alagoas (Fecomércio-AL), praticamente dobrou o número de famílias que não terão condições de pagar suas dívidas, saindo de 5,4% (maio/23) para 11% (maio/24). De acordo com a entidade, esse aumento nas contas em atraso pode estar relacionado à forma como se contrai a dívida, uma vez que o cartão de crédito foi o meio mais utilizado para 97% das famílias. Outros meios de aquisição de débitos foram o carnê, com 19%, e o cheque especial, com 0,5%.

Este cenário é visto com cautela pelos economistas, como explica Francisco Rosário. “O débito de alguém é crédito para outrem, e o crédito é fonte de investimentos e crescimento econômico. O problema é quando as dívidas não são pagas, gerando assim instabilidade e crises econômicas”, explica.

Para o restante do ano, o economista fala que a expectativa é pela redução da inadimplência, “principalmente devido à nova legislação federal que limita os juros do rotativo do cartão de crédito a 100%; fato que irá impactar positivamente na condição financeira de muitas famílias”, complementa.

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