ECONOMIA
Brasil quer suco de laranja e café e Embraer fora do tarifaço
Alternativas serão propostas aos EUA caso novas taxas entrem em vigor no dia 1º


Nas conversas que mantém com representantes de comércio dos EUA, o governo brasileiro vai propor excluir alguns itens, como suco de laranja e café, do tarifaço de 50%. Essa é uma das alternativas que serão colocadas à mesa, se não for possível prorrogar a entrada em vigor da tarifa na sexta-feira (1º), para todos os produtos brasileiros, segundo fontes próximas dos setores que acompanham a movimentação das autoridades brasileiras. O governo também tem a intenção que os aviões da Embraer fiquem fora do tarifaço.
Nessa terça-feira (29), o secretário do Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, afirmou em entrevista à CNBC que os EUA avaliam isentar de tarifas alimentos e outros recursos naturais que não são produzidos no território americano. Ele citou café e cacau, mas não menção específica ao Brasil.
O suco de laranja e o café são produtos que vão sofrer enorme impacto se o tarifaço for de fato implementado. Para o setor de suco de laranja, o cálculo é de um prejuízo de até R$ 4,3 bilhões se a tarifa de 50% não for suspensa. O Brasil é atualmente o maior produtor e exportador de suco de laranja do planeta, vendendo 95% de sua produção para o exterior. Desse volume, 42% têm os Estados Unidos como destino.
A tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras de suco de laranja para os Estados Unidos pode gerar impacto anual de até US$ 792 milhões (R$ 4,3 bilhões). A estimativa de impacto de US$ 792 milhões considera a aplicação acumulada da nova tarifa de 50% com a alíquota adicional de 10%, anunciada em abril.
O valor representa um aumento de cerca de 456% em relação aos impostos pagos na safra 2024/25, que somaram US$ 142,4 milhões, segundo a Associação Nacional das Indústrias Exportadoras de Sucos Cítricos (CitrusBR), com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
O cálculo considera o desempenho da safra encerrada em 30 de junho e inclui as tarifas de acesso ao mercado americano. Na safra 2024/25, os Estados Unidos foram o segundo principal destino do suco brasileiro, com 41,7% de participação, atrás apenas da Europa. Foram exportadas 307.673 toneladas, o equivalente a cerca de 85 milhões de caixas de 40,8 quilos, com receita total de US$ 1,31 bilhão.
No caso do café, o Brasil é o principal fornecedor da bebida aos EUA, que comprou 17% de todo o café brasileiro exportado entre janeiro e maio deste ano. A questão é que, se o produto brasileiro for taxado em 50%, dificilmente outro país poderá suprir toda a demanda dos EUA — e o café ficará mais caro para os americanos.
Além de suco de laranja e café, há intenção do governo de que os aviões da Embraer também fiquem fora do tarifaço. O presidente da empresa, Francisco Gomes Neto, está nos EUA, mostrando que o país também perderá se os produtos da empresa foram sobretaxados. A fabricante de aviões tem uma unidade naquele país com 3 mil funcionários, além de US$ 3 bilhões em ativos.
Outro trunfo da Embraer é que até 2030 existe um potencial de compra de US$ 21 bilhões em equipamentos de fornecedores dos EUA, que vão compor os aviões que serão exportados para todo o mundo. Os EUA representam 45% de mercado de seus jatos comerciais e 70% dos jatos executivos.