Tarifa
Vieira diz que conversa com Rubio foi 'muito produtiva' e confirma encontro de Lula e Trump
Data e local da reunião bilateral ainda serão definidos, diz chanceler


O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, disse nesta quinta-feira que o encontro com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, foi bastante produtivo e cordial. De acordo com o chanceler brasileiro, ficou mantida a intenção de um encontro bilateral entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o americano Donald Trump em breve, em data e local a ser definido.
Questionado se a reunião entre os presidentes deve ocorrer já na próxima semana durante a cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), Vieira não disse nem que sim e nem que não.
De acordo com o ministro, está mantida a intenção de que os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos EUA, Donald Trump, se encontrem em breve.
“Está mantido o objetivo de que os presidentes Lula e Trump se reúnam. Mas isso, obviamente, ainda vai ser definido pelas partes e, de acordo com a agenda dos presidentes, para um momento e local que sejam convenientes para ambos os lados”, declarou Vieira ao fazer declaração oficial à imprensa depois do encontro com o secretário Rubio.
Vieira destacou que o encontro foi “muito produtivo, num clima excelente de descontração e de troca de ideias e de posições de uma forma muito clara, muito objetiva”, disse.
Em sua declaração, Mauro Vieira disse que reiterou a posição do Brasil de necessidade de reversão das medidas impostas pela administração de Donald Trump.
“Reiterei a posição brasileira, transmitida diretamente pelo presidente Lula ao presidente Trump, na semana passada, sobre a necessidade de reversão das medidas adotadas pelo governo americano a partir de julho, o que vai demandar, evidentemente, um processo de negociação a ser iniciado nos próximos dias”, declarou o ministro de Relações Exteriores.
Segundo o chanceler brasileiro, representantes dos governos do Brasil e dos Estados Unidos já estão trabalhando na montagem de uma agenda de reuniões e Vieira disse que deve manter contatos diretos com o secretário Rubio nos próximos dias “para monitorar o avanço e estabelecer prazos para novos encontros”.
Vieira disse que esse foi um primeiro passo “auspicioso de um processo negociador, no qual trabalharemos para normalizar e abrir novos caminhos para as relações bilaterais”, declarou.
A declaração de Vieira foi feita na Embaixada do Brasil em Washington depois do encontro com o secretário Marco Rubio. Ao todo foi uma hora de conversa - sendo 20 minutos a portas fechadas e sem assessores. O principal item da pauta foi o fim das tarifas de até 50% aos produtos brasileiros e também às restrições impostas pelo governo americano a autoridades brasileiras.
Apesar de declarações prévias amistosas dos dois presidentes - Lula disse que não houve apenas “química” entre ele e seu colega americano, mas sim “uma indústria petroquímica”, enquanto Trump, ao lado do presidente argentino, Javier Milei voltou a lembrar da sua relação com o petista.
Participaram do encontro ampliado, que durou cerca de 40 minutos, pelo lado brasileiro, a embaixadora do Brasil nos EUA, Maria Luiza Viotti; os embaixadores Mauricio Carvalho Lyrio, que é Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores e Sherpa do Brasil no BRICS; Philip Fox-Drummond Gough, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros; e Joel Sampaio, chefe da Assessoria Especial de Comunicação Social.
Do lado americano, participaram o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, o secretário de Defesa Assistente , Michael Jensen, e assessores do Departamento de Estado dos Estados Unidos.
Relembre a crise
Em 9 de julho, Trump enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva informando que o Brasil seria taxado em 50%. Nela, ele relacionou as tarifas a questões políticas e cita apenas no fim do texto que é preciso "estabelecer condições justas de concorrência com seu país".
Na carta, Trump critica o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) e afirma que há "uma caça às bruxas" no país que deve "acabar imediatamente".
A medida foi recebida com críticas pelo governo brasileiro, que passou a enfatizar princípios de soberania e reciprocidade.
Trump passou a condicionar uma negociação comercial com o Brasil ao arquivamento do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Sanções foram aplicadas contra cidadãos brasileiros, entre os quais o ministro do STF, Alexandre de Moraes, e sua mulher, a advogada Viviane Barci de Moraes.
No começo de agosto entrou em vigor a tarifa extra de 40%, somando-se aos 10% anunciados em abril e elevando o total da tarifa para 50%. No entanto, o decreto estabelece uma longa lista de quase 700 exceções — entre os 4 mil itens que o Brasil exporta para os EUA — a essa tarifa adicional de 40%, entre elas aviões da Embraer, peças aeronáuticas (como turbinas, pneus e motores), suco de laranja, castanhas, vários insumos de madeira, celulose, ferro-gusa, minério de ferro, equipamentos elétricos e petróleo, que já vinha sendo retirado das listas de tarifas dos EUA para os países.
Por outro lado, café, cacau, carne e frutas, alguns dos principais itens da pauta de exportação brasileira, não estão na lista de exceções e devem ser tarifados. Dessa forma, o tarifaço de Trump, apesar do impacto menor que o esperado devido às exceções, tem ainda potencial de afetar substancialmente as exportações brasileiras.
Entretanto, após intensa negociação diplomática entre os dois países e pressão de empresas e setores que dependem da relação comercial entre ambos, Trump e Lula, em uma conversa de menos de um minuto na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, anunciaram que criaram uma iniciativa de diálogo para tratar do comércio entre as duas nações.
Após alegar “uma ótima química” no encontro de Nova York, Trump ligou para Lula no dia 6 de outubro. Em pouco mais de 30 minutos de conversa não trataram do caso judicial do ex-presidente Bolsonaro e acordaram um novo encontro presidencial, em breve, sem estabelecer data ou local.
Os dois presidentes ainda indicaram que seus chanceleres - Mauro Vieira e Marco Rubio - estariam à frente nas negociações.