Banco Central
BC mantém juros básicos em 15% ao ano pela terceira vez seguida
Decisão foi unânime entre os membros do Copom e era esperada pelo mercado financeiro


O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, nessa quarta-feira (5) segurar a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano pela terceira reunião seguida, apesar da pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por cortes.
O colegiado do BC adotou tom conservador, com diversos trechos idênticos à linguagem usada em setembro, e manteve a indefinição sobre o início dos cortes de juros à frente.
No comunicado, o comitê demonstrou mais convicção em seu plano ao afirmar que avalia como suficiente a estratégia de manter a taxa no nível atual por período "bastante prolongado" para a convergência da inflação à meta. Parte dos economistas acreditava que o Copom retiraria o advérbio "bastante" da frase, abrindo espaço para ajustes mais cedo, o que não ocorreu.
O Copom repetiu que o atual cenário, marcado por "elevada incerteza", exige cautela na condução da política de juros e reafirmou que seguirá vigilante, podendo ajustar seus próximos passos.
A manutenção dos juros no patamar de 15% ao ano era dada como certa pelos agentes do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrava às vésperas do anúncio que essa era a expectativa de todas as 31 instituições consultadas.
Um dia antes da decisão, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que, se fosse membro do colegiado do BC, votaria pela queda de juros. Na avaliação dele, o patamar da Selic hoje é insustentável e o momento atual permitiria a redução da taxa básica.
O discurso de Haddad ecoa uma cobrança sobre o BC feita pelo presidente Lula –responsável pela indicação de Gabriel Galípolo ao comando da autarquia.
A Selic está fixada atualmente em seu maior nível em quase duas décadas. O ciclo de alta de juros foi interrompido em julho após sete aumentos consecutivos. De setembro de 2024 a junho, a taxa básica acumulou elevação de 4,5 pontos percentuais –de 10,5% a 15% ao ano.
A decisão do Copom confirma o aumento da diferença entre os juros dos Estados Unidos e do Brasil. Na semana passada, o Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) reduziu a taxa em 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 3,75% e 4% ao ano. A diferença, portanto, foi a 11 pontos percentuais, levando em conta o limite superior americano.
Devido aos efeitos defasados da política de juros sobre a economia, o comitê já tem hoje a inflação do segundo trimestre de 2027 na mira.
No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para este ano caiu de 4,8% para 4,6%, enquanto para 2026 se manteve em 3,6%. Para o segundo trimestre de 2027, a estimativa ficou em 3,3%, mais próxima do centro da meta. No encontro de setembro, o BC estava olhando para o primeiro trimestre de 2027, quando tinha projeção de 3,4%.
O alvo central perseguido pelo BC é 3%. No modelo de meta contínua, o objetivo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto). O primeiro estouro do IPCA no novo formato ocorreu em junho.
O Copom sustentou a mensagem transmitida nos últimos meses sobre a necessidade de manter por um longo período a política de juros em um patamar alto o suficiente para moderar o crescimento da economia. Essa postura cautelosa ajudou no recuo das expectativas de inflação de médio prazo. No entanto, as projeções ainda seguem afastadas do centro da meta.
Segundo o último boletim Focus, os analistas estimam que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) termine 2026 em 4,2% e feche 2027 em 3,8%.
Ao analisar a conjuntura econômica, o colegiado do BC indicou que as expectativas de inflação seguem distantes da meta e as projeções, elevadas. Mostrou preocupação também com a força da atividade econômica e a pressão sobre os preços exercida pelo mercado de trabalho.
O colegiado do BC reconheceu a moderação no crescimento da economia brasileira nas últimas semanas, sob efeito dos juros altos, mas ressaltou que o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo. A taxa de desemprego do Brasil foi de 5,6% no trimestre até setembro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O indicador voltou a marcar o menor nível da série histórica iniciada em 2012.
Em relação à trajetória das contas públicas do país, se limitou a repetir o discurso utilizado anteriormente. "O comitê segue acompanhando os anúncios referentes à imposição de tarifas comerciais pelos EUA ao Brasil, e como os desenvolvimentos da política fiscal doméstica impactam a política monetária e os ativos financeiros, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza", disse.
Quanto ao ambiente externo, o Copom não reconheceu o alívio na tensão entre os governos dos Estados Unidos e do Brasil após o encontro de Lula com Donald Trump. A reunião ocorreu no dia 26 de outubro, na Malásia, e deu início a uma nova fase de negociações sobre o tarifaço.
O câmbio, por sua vez, tem se mostrado comportado nas últimas semanas, com o dólar global mais fraco. A cotação da moeda americana usada pelo Copom em seus cálculos foi de R$ 5,40 (a mesma de setembro).
O comitê não fez alterações no balanço de riscos para inflação, repetindo que os perigos, tanto de alta quanto de baixa, estão mais elevados do que o usual.
Entre os fatores que puxariam os preços para cima, destacou a chance de as expectativas de inflação seguirem distantes da meta por período mais prolongado e os possíveis impactos provocados por políticas econômicas dentro e fora do Brasil, como uma depreciação persistente do câmbio.
Mencionou também a possibilidade de maior resiliência na inflação de serviços em função de um hiato do produto mais positivo –quando a economia continua operando acima do seu potencial e sujeita a pressões inflacionárias.
Entre os vetores que afetariam os preços para baixo, reiterou a possibilidade de acentuada perda de força da atividade econômica doméstica e de desaceleração global mais forte devido a um choque de comércio. Citou novamente a chance de queda nos preços das commodities.
O Copom volta a se reunir nos dias 9 e 10 de dezembro, no último encontro do ano, que deve marcar a despedida dos diretores Diogo Guillen (Política Econômica) e Renato Gomes (Organização do Sistema Financeiro e de Resolução), indicados ao BC na gestão de Jair Bolsonaro (PL). A expectativa é que eles não sejam reconduzidos aos respectivos cargos.
