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Dono do Banco Master criou conexões com a esquerda e a direita

Daniel Vorcaro patrocinou eventos com ministros e banqueiros e criou rede que inclui petistas e bolsonaristas

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No mundo político, Vorcaro seguiu à risca a cartilha que ensina em palestras
No mundo político, Vorcaro seguiu à risca a cartilha que ensina em palestras | Foto: Divulgação

O empresário Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, preso nesta terça-feira pela Polícia Federal, costumava citar uma cartilha com sete princípios para guiar seus negócios. Um deles é se arriscar sempre - “não tomar risco já é um risco” - e outro é escolher as pessoas “com quem se conectar nessa jornada”. No mundo político, Vorcaro seguiu à risca a cartilha que ensina em palestras. Começou a fazer parte dos principais círculos, patrocinou eventos com ministros e banqueiros e criou uma rede que inclui petistas e bolsonaristas.

No início do ano, as conexões no mercado financeiro e no mundo político levaram o BRB, o Banco de Brasília, estatal do Distrito Federal, a anunciar a compra de uma fatia do banco de Vorcaro. A oferta, negada pelo Banco Central e investigada pela PF, chamou a atenção das autoridades, que descobriram fraudes relacionadas à operação que culminaram, nesta terça-feira, com a prisão de Vorcaro, o afastamento do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, e a liquidação extrajudicial do Master. Procurado, o Master não se manifestou sobre os acontecimentos.

Uma das pessoas mais próximas a Vorcaro em Brasília é o senador Ciro Nogueira, presidente do PP e ex-ministro do governo Jair Bolsonaro (PL). De acordo com pessoas próximas ao parlamentar, Ciro foi ouvido antes de o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), dar aval à oferta de compra do Master pelo BRB, e era peça chave na negociação, com Ibaneis em busca de apoio para a eleição de 2026, quando pretende se candidatar ao Senado.

O grupo liderado por Ciro Nogueira, que inclui o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, ofereceu uma aliança para pavimentar a campanha do atual governador do DF em 2026.

Ciro Nogueira foi o padrinho da indicação de Alexandre Cordeiro, que era o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) à época que o negócio entre BRB e Master foi anunciado. O Cade seria um dos órgãos responsáveis por aprovar a venda do banco. Como o Estadão mostrou à época, o órgão, que tem como função preservar a concorrência, considerou a compra uma “operação simples”. Procurado, o senador não quis falar sobre o assunto. Ibaneis também não se manifestou.

O presidente do Banco Master participou e patrocinou eventos em que esteve ao lado de Ciro Nogueira, outros políticos e empresários. Os eventos eram organizados pelo grupo Esfera Brasil, que reúne empresários e a classe política no Brasil e no exterior.

Em um desses encontros, em outubro do ano passado, em Roma, Vorcaro deu uma palestra ao lado de Ciro e disse que o governo precisava enfrentar o buraco fiscal das contas públicas, mas defendeu apoio à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), expondo sua escolha de fazer acenos à esquerda e à direita.

“A gente tem pauta de costumes, que eu acho que elas sempre vão existir, sejam de direita ou de esquerda; mas, como empresários, como sociedade, a gente tem que apoiar o governo e ver o lado bom do que tem sido feito”, disse o empresário.

As conversas sobre a venda do Banco Master para o BRB começaram em novembro do ano passado, já incluindo Ibaneis Rocha. Em janeiro deste ano, o BRB iniciou uma auditoria nas contas do Master para ver se o negócio valia a pena. O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, disse que a compra seria estratégica para o Banco de Brasília, que entraria em mercados nos quais queria crescer, como o cartão de crédito privado e o banco digital, o Will Bank, que atende clientes de baixa renda.

Outro ex-ministro de Bolsonaro que se aproximou de Vorcaro foi Fábio Faria, que por algum tempo prestou serviço para o banco BTG Pactual. O banco comandado por André Esteves estudou fazer uma proposta pelo Banco Master, como mostrou o Estadão.

Vorcaro e Faria se conheceram em janeiro do ano passado, durante um almoço da Esfera em Brasília em homenagem ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, com Ciro Nogueira. Foi nesse período que o banqueiro intensificou suas viagens à capital federal. Faria não só manteve contato como também apresentou o empresário a outros políticos. Procurado, o ex-ministro não comentou a relação.

Pessoas próximas a Vorcaro o classificam como alguém afável e fácil de fazer amizades. O fato de ser um banqueiro novato na Faria Lima e nos círculos políticos, mas ter tido uma ascensão rápida nos negócios e nas rodinhas de líderes partidários e autoridades, ajudam a explicar um pouco dessa impressão. Ele era citado como “uma das pessoas mais queridas” em Brasília por interlocutores.

Ao mesmo tempo, o empresário nunca deixou passar despercebido um perfil de ostentar riqueza com festas, camarotes e viagens. O banqueiro afirmou ter comprado o Fasano Itaim como pessoa física, é investidor do Clube Atlético Mineiro e fez uma festa estimada em R$ 15 milhões para os 15 anos da filha, que viralizou nas redes sociais.

Aliados no entorno de Lula

As afinidades e os negócios não se restringem a bolsonaristas. Como o banqueiro disse no evento em Roma, ele não diferencia direita de esquerda.

Vorcaro passou a se juntar também com ministros e parlamentares aliados do presidente Lula. O Master contratou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega como consultores antes de os dois serem indicados para os cargos no governo e na Eletrobras, respectivamente.

O banco de Vorcaro criou um espécie de comitê consultivo com figuras da política, do mercado financeiro e do Judiciário. Mantega levou o empresário para conhecer pessoalmente o presidente Lula, em Brasília.

O círculo de amizades do banqueiro com aliados de Lula inclui ainda o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e os empresários mineiros Walfrido dos Mares Guia (das áreas de educação e saúde), ex-ministro de Lula, e Lucas Kallas (do setor de mineração) - Vorcaro também é de Minas Gerais.

O baiano Augusto Lima, sócio dele no banco - e que também foi preso na operação da PF nesta terça-feira -, por sua vez, é amigo do ministro da Casa Civil, Rui Costa, e do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

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