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PIB do Brasil desacelera com juro alto e sobe 0,1% no terceiro trimestre

IBGE aponta relativa estabilidade da economia com aperto da política monetária

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Indústria do plástico de Alagoas emprega quase cinco mil trabalhadores
Indústria do plástico de Alagoas emprega quase cinco mil trabalhadores | Foto: — Foto: Divulgação

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil continuou em desaceleração no terceiro trimestre deste ano, com leve avanço de 0,1% em relação aos três meses imediatamente anteriores, apontam dados divulgados nessa quinta (4) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Um dos motivos é a alta nos juros para conter a inflação.

O resultado indica uma relativa estabilidade da economia nacional, após elevação de 0,3% no segundo trimestre e de alta de 1,5% no primeiro.

A taxa de 0,1% ficou levemente abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,2%, de acordo com a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de -0,5% a 0,3%.

O PIB abriu o ano de 2025 com o impulso da safra recorde de grãos, mas passou a dar sinais de desaceleração após o empurrão do campo e com a permanência dos juros altos.

"Está ocorrendo de fato uma desaceleração. São vários fatores conjunturais e, com certeza, a política monetária contracionista está pesando de forma negativa", disse Claudia Dionísio, analista das Contas Trimestrais do IBGE.

"A taxa de juros mais alta compromete várias atividades da economia, umas menos sensíveis, outras mais", acrescentou a técnica.

O Banco Central iniciou em setembro de 2024 um ciclo de aumento na taxa básica de juros, levando a Selic para 15% ao ano. A taxa está nesse patamar desde junho de 2025.

Ao manter a Selic em 15%, o BC tenta esfriar a atividade econômica para baixar a inflação. Isso porque uma demanda mais contida tende a reduzir a pressão sobre os preços.

SERVIÇOS PERDEM RITMO, INDÚSTRIA ACELERA

O setor de serviços, que tem o maior peso no PIB, ficou praticamente estável no terceiro trimestre. Houve um leve avanço de 0,1% na comparação com os três meses imediatamente anteriores.

O resultado mostra uma perda de ritmo do setor. Os serviços haviam subido 0,3% no segundo trimestre e 1% no primeiro.

Já a indústria cresceu 0,8% de julho a setembro. Isso significa uma leve aceleração, já que o setor havia avançado menos no segundo trimestre (0,6%).

Conforme o IBGE, a alta de 0,8% na indústria foi puxada pelas indústrias extrativas (1,7%). Nessa atividade, o instituto destacou a influência da extração de petróleo e gás.

Ainda dentro da indústria, houve avanços menores na construção (1,3%) e nas indústrias de transformação (0,3%). Os dois ramos, que são mais afetados pelos juros, subiram após dois trimestres negativos.

A agropecuária, por sua vez, avançou 0,4% de julho a setembro. O aumento veio após queda nos três meses anteriores (-1,4%) e forte alta de janeiro a março (16,4%).

CONSUMO DESACELERA, INVESTIMENTO AVANÇA

Do lado da demanda por bens e serviços, o consumo das famílias avançou apenas 0,1% no terceiro trimestre. O componente, considerado um dos motores da economia, perdeu ritmo após dois trimestres consecutivos de alta de 0,6%.

Se de um lado os juros desafiaram o PIB nos últimos meses, de outro o mercado de trabalho seguiu mostrando sinais de força no Brasil.

O desemprego em queda e a renda em alta tendem a beneficiar o consumo, impedindo uma desaceleração ainda maior.

Já os investimentos produtivos na economia, medidos pela FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), tiveram crescimento de 0,9% de julho a setembro. A taxa recompõe parte da queda registrada nos três meses anteriores (-1,5%).

TARIFAÇO TEM EFEITO MENOR QUE O ESPERADO, DIZ IBGE

O terceiro trimestre também foi marcado pelo tarifaço do presidente Donald Trump a exportações brasileiras. A medida entrou em vigor em agosto, afetando embarques para os Estados Unidos.

Apesar disso, o PIB apontou alta de 3,3% nas exportações totais do Brasil no terceiro trimestre, em relação ao segundo. As importações subiram menos (0,3%).

Com o desempenho, o setor externo contribuiu para impedir uma freada ainda mais brusca da economia.

Segundo a coordenadora das Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, o impacto do tarifaço de Trump ficou concentrado em alguns setores e foi "bem menor" do que o esperado inicialmente.

Ainda de acordo a pesquisadora, parte dos exportadores conseguiu redirecionar as vendas para mercados alternativos, o que amenizou a situação.

"Não se pode dizer que não teve impacto. É óbvio que teve, mas foi mais localizado", disse Rebeca.

O PIB está no patamar recorde da série histórica do IBGE, iniciada em 1996. Totalizou R$ 3,2 trilhões no terceiro trimestre de 2025.

Na comparação com o mesmo período de 2024, a economia brasileira registrou expansão de 1,8%. O mercado projetava alta de 1,7%, conforme a Bloomberg.

O crescimento na comparação anual teve influência da agropecuária, que avançou 10,1%. A indústria teve alta de 1,7% e os serviços, de 1,3%.

O QUE VEM PELA FRENTE?

O economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, projeta um PIB estável no quarto trimestre, o que já garante um crescimento de 2,6% neste ano, e uma expansão de 1,5% em 2026, confirmando a expectativa de desaceleração gradual da economia.

"É um desempenho bastante saudável para a atividade econômica, principalmente com uma taxa Selic de 15%", afirma Sichel, que espera um corte da taxa básica de juros a partir de março.

Ele afirma ainda que é necessário verificar qual será o impacto no próximo ano do aumento da isenção do Imposto de Renda sobre a renda disponível e o consumo.

Na mediana, as previsões do mercado financeiro indicam crescimento de 2,16% para o PIB no acumulado de 2025, conforme o boletim Focus divulgado na segunda (1º) pelo BC. O Ministério da Fazenda, por sua vez, projeta alta de 2,2%, segundo revisão anunciada em novembro.

Ambas as estimativas sinalizam uma desaceleração ante 2024, quando o PIB cresceu 3,4%.

Para 2026, o mercado financeiro prevê avanço de 1,78%, de acordo com a mediana do Focus. O Ministério da Fazenda espera alta maior, de 2,4%.

Claudio Considera, pesquisador associado do FGV IBRE, afirma que os indicadores da instituição mostram que a demanda por bens e serviços segue acima da oferta há dez trimestres seguidos, fator que ajuda a pressionar a inflação.

Para ele, a economia brasileira deve continuar no caminho de um "pouso suave", com a taxa básica de juros contribuindo para desacelerar a atividade, mas, ao mesmo tempo, segurando a inflação, que aumenta o poder de compra dos trabalhadores.

"Você pode reclamar que a política monetária está muito restritiva, atrapalhando, mas essa mesma política monetária permite o aumento da renda real dos trabalhadores", afirma Considera.

O economista Arnaldo Lima, líder de Relações Institucionais da Polo Capital, afirma que o resultado do trimestre mostra de forma mais nítida a desaceleração em curso e reforça a expectativa de corte de juros em janeiro. "Os dados do IBGE confirmam que o processo de pouso suave está se consolidando."

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, afirma que a atividade está esfriando gradualmente, mas as medidas de estímulo anunciadas pelo governo devem evitar uma desaceleração maior da economia. Ela projeta que o PIB cresça 2% em 2025 e 1,7% em 2026.

"O mercado de trabalho aquecido e os estímulos promovidos pelo governo, como o aumento da isenção do Imposto de Renda, que passará a valer em 2026, devem manter a economia brasileira em expansão, ainda que em ritmo mais moderado."

André Valério, economista sênior do Inter, diz esperar a continuidade da tendência de acomodação do crescimento, com o PIB encerrando o ano com alta acumulada de 2,2%. "Ainda assim, vemos uma economia bastante robusta."

Analistas afirmam que uma das razões para o desempenho positivo do PIB nos últimos anos foi a adoção de políticas de estímulo à economia pelo governo Lula (PT).

Setores como o mercado financeiro costumam sinalizar preocupação com o quadro fiscal do país e cobram ações de ajuste nas contas públicas.

Há, contudo, dúvidas sobre a disposição do governo de abrir mão de medidas para incentivar a economia antes das eleições de 2026.

IBGE REVISA DADOS ANTERIORES

O IBGE fez revisões em dados anteriores do PIB. Na comparação com os três meses anteriores, o crescimento do segundo trimestre de 2025 foi revisado de 0,4% para 0,3%. Já a alta do primeiro trimestre passou de 1,3% para 1,5%.

"Com o final do ano se aproximando, já está claro que a desaceleração da economia é um fato", disse Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

"Entretanto, esse movimento não apareceu ainda em todos os indicadores, especialmente os de mercado

de trabalho", acrescentou.

Vale prevê PIB de 2,1% em 2025 e de 1,5% em 2026. Para o último trimestre deste ano, ele espera uma queda de 0,8% na comparação com os três meses anteriores.

"Esse cenário de enfraquecimento da economia será um desafio extra ao governo em ano eleitoral. Com a demanda doméstica em desaceleração e limites para novas políticas microeconômicas de estı́mulo, o desafio do governo será convencer a sociedade de que está no caminho certo na economia", afirmou Vale.

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