Economia
Fam�lias sem-terra invadem esta��o de pesquisa

SEVERINO CARVALHO Sucursal União dos Palmares A Estação Experimental de Pesquisa Sementeira, em União dos Palmares, administrada pela quase extinta Empresa de Pesquisa Agropecuária de Alagoas (Epeal), continua, desde o dia 14 de julho último, invadida por 65 famílias de trabalhadores rurais que se intitulam sem terra. O mato que toma conta dos cercados, dando ao lugar a impressão de abandono, foi o chamariz para a invasão. As terras da Sementeira estão improdutivas. Nos cercados, só existe o pasto nativo e muito mato, afirma um dos coordenadores do grupo, Cícero Adalto Ribeiro. Os animais considerados de alto padrão genético pela entidade sofrem as conseqüências da péssima qualidade do pasto. Aqui só existem 23 rezes, mas já foram leiloadas a um fazendeiro de Quebrangulo. O viveiro de mudas que funciona é de propriedade particular, acrescentou Adalto Ribeiro. Enquanto o marasmo toma conta das atividades de pesquisas agrícolas na Zona da Mata alagoana, a menos de 15 km da unidade, os produtores de laranja lima do município de Santana do Mundaú amargam prejuízos com pragas que atingem os laranjais, entre elas, o Minador. A fazenda Sementeira, com cerca de 195 hectares, pertence à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mas é administrada pelo governo do Estado em sistema de comodato. Os trabalhos de pesquisa ficam a cargo da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Pesca e Desenvolvimento Rural (Seap). Antes da reforma administrativa do Estado, a unidade estava sendo gerida pela Epeal, em processo de incorporação à Companhia Alagoana de Recursos Humanos e Patrimoniais (Carhp). Vários galpões da estação estão em ruínas, destruídos pelas enchentes do Rio Mundaú, que passa nas terras da estação. Nos fundos do escritório da Sementeira, a carcaça de um veículo Fiat Uno é corroída, pouco a pouco, pela ferrugem. Acredito que o carro pertencia à Emater. Ele foi deixado ali porque não compensava leiloar, explicou o gerente da Regional Zumbi da Seap, em União dos Palmares, Eduardo Loureiro. Nativos O sistema de irrigação dos campos também enferruja sob o mato vigente. Mas o cenário começa a se modificar. Os invasores iniciaram a aragem da terra para o plantio de sementes. Mais de 20 hectares já foram arados, garante o secretário municipal de Agricultura, José Vieira. Ele tem dado apoio ao grupo de trabalhadores, que receberam lonas para montar as barracas e alimentação. Até o próprio prefeito de União dos Palmares, José Pedrosa concorda com a desapropriação da área. É um contra-senso o governo pregar a reforma agrária e manter uma fazenda improdutiva como a Sementeira, afirmou Pedrosa. O secretário de Agricultura e o coordenador do grupo de invasores garantem que todas as 65 famílias são de trabalhadores rurais de União dos Palmares, que não possuem terra para trabalhar. Sem bandeira, eles não fazem parte de movimentos sociais organizados como o MST, mas esperam que o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desaproprie a área para fins de reforma agrária.