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A saga de uma família chamada CSA

WELLINGTON SANTOS FERNANDA MEDEIROS Repórteres Se a grande massa do CSA nos últimos tempos não tem tido motivos para sorrir e que façam valer o tradicional lema União e Força, que sempre caracterizou o clube do Mutange, principalmente depois do racha e do turbilhão de encrencas deflagradas por dirigentes de duas correntes antagônicas, em busca de poder dentro do time de maior torcida de Alagoas, aos velhos e bons azulinos ainda resta a alegria de um passado de glórias, um tempo em que a palavra de ordem era fabricar craques e ídolos dentro de casa. E isso era um fenômeno natural. E por falar em casa, a palavra se encaixa como uma luva para uma família que nasceu, cresceu e que ainda respira um oxigênio chamado CSA. Essa família é a dos Santos Ângelo, ou simplesmente a família de quatro irmãos craques como Manuelzinho (o Mané Caranguejo), Jorge Siri, Peu e Chico. Isso sem contar que os pais, funcionários do clube por muitos anos, deram início a essa bela história, em 1945, e que até hoje a terceira geração da família mantém acesa a chama da fumaça azul. Para se ter uma idéia desse laço de sangue azul, entre a família e o CSA, como denominou certa vez um cronista, a casa que deu origem à cumplicidade de afeto está situada defronte do velho campo do Mutange, sede do clube, e reúne ainda os filhos e netos de dona Maria, a matriarca, numa verdadeira festa, como nos velhos tempos. Ao todo são 11 irmãos e mais um primo - Duda, criado pela família e também considerado irmão. Desse total, os famosos somam quatro, todos com histórias de alegrias, glórias, tristezas, movidas por muita emoção, vividas dentro do CSA. São eles: Manoel Antônio Ângelo, 59, o Mané Caranguejo ou Manuelzinho; Jorge Antônio dos Santos, 51, o Jorginho Siri; Júlio dos Santos Ângelo, 45, o Peu; e Francisco dos Santos Ângelo, 37, o Chico. E ainda tem, de quebra, Sebastião dos Santos Ângelo, o Bau, 40, que até hoje é funcionário do CSA. Amor pelo clube Cada um deles tem suas peculiaridades, opiniões e características, mas todos nutrem um mesmo sentimento no futebol: o amor pelo CSA, um amor que foi passando de geração a geração e hoje chegou aos filhos, netos, primos e sobrinhos de cada um. A saga da família de Peu, o filho mais famoso de dona Maria dos Santos Ângelo, 76, campeão mundial pelo Flamengo em 1981 na época de ouro do clube, começou quando ela e o marido, Antônio Ângelo Miguel [já falecido] foram trabalhar no Estádio Gustavo Paiva, no Mutange, o campo do CSA. Isso foi em 1945. Cheguei lá bem novinha, com 19 anos de idade, recorda a matriarca da família Santos Ângelo. Dona Maria trabalhava como lavadeira no clube e seu Antônio era vigia e administrador do campo. Morávamos lá e criamos os nossos filhos lá, declara dona Maria, com certa dificuldade no falar e também no andar. Além de Peu, Mané Caranguejo, Jorge Siri, Chico e Bau, são filhos de dona Maria: Cícero, Celúzia, Selma, Irene, Célia e Celeste, essas duas últimas já falecidas. ### Siri: Os políticos inflacionaram o CSA Dos irmãos Santos Ângelo, Jorge Siri foi o que teve a carreira mais sólida e estável na era pós-futebol. Hoje ele é advogado, professor de História e Geografia numa escola do município e professa sua fé como pastor evangélico. Mas antes de exercer as funções burocráticas e conhecer Jesus e o caminho do paraíso, como costuma falar, Jorge Siri fez da vida de seus marcadores em campo um verdadeiro inferno. Na época de jogador, ele era um veloz e hábil ponteiro-direito que deixou muitas saudades na torcida do CSA. Iniciei no juvenil em 1971. Depois fui para o juvenil do inimigo em 72, recorda-se o hoje pastor, ao brincar que o inimigo era justamente o maior rival do CSA: o CRB. Naquela época, como a rivalidade no futebol era mais aflorada, soou como um verdadeiro sacrilégio essa transferência, completa. Mas Siri logo retornaria ao seu ninho em 73, para ficar até 1976. Nessa época do CSA tive a oportunidade de jogar com jogadores consagrados do Brasil, como o Ferreti e o Ney Conceição, ambos do glorioso Botafogo, recorda o craque, que se confessou ser além de CSA, torcedor do Botafogo. Siri lembra que seu maior momento de alegria no CSA foi na segunda volta ao Mutange, de 78 a 83, já que em 77, ele foi para o Ferroviário. Nesses anos o CSA armou grandes times. Meus jogos inesquecíveis foram contra o Joinville-SC em 1981, quando enfrentamos esse adversário duas vezes. Na primeira perdemos de virada lá, por 2x1. Tínhamos que vencer de qualquer maneira em Maceió, e vencemos por 2x1, da mesma forma. Isso valeu a ida para a final da Taça de Prata contra o Campo Grande-RJ. Mas depois perdemos e fomos vice-campeões, recorda. Outro grande momento, ressalta, foi um gol feito quando jogou pelo CRB em 83 contra o ASA. Meu gol foi escolhido o mais bonito do Fantástico. Foi um chute de fora da área, no ângulo. Siri diz que seu grande marcador era o implacável lateral-esquerdo Carlinhos do Pontal, do CRB. Esse era barra, o cara batia pra dedeu!, lembra. Críticas Indagado sobre a atual situação do CSA, Siri não esconde seus sentimentos. A derrocada do CSA começou quando os políticos inflacionaram o clube depois da metade dos anos 80. Eles tinham interesses políticos, como acontece hoje, e daí trouxeram muitos medalhões, a barra pesou financeiramente e deixaram o fracasso assolar o clube, ressalta. Mas o CSA é muito grande e estou torcendo para isso mudar. |WS/FM