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Nº 5859
Esportes

APOSTANDO NA EXPERIÊNCIA

A cada ano, clubes de Alagoas recrutam atletas que fazem parte do ‘folclórico’ futebol estadual

Por MAURÍCIO MANOEL. ESTAGIÁRIO | Edição do dia 25/01/2020 - Matéria atualizada em 25/01/2020 às 06h00

Jacobina, Rambo, Cal, Ivanzinho, Sinval, Joaninha, Reinaldo Alagoano e Etinho. Lembrou de alguma partida, lance ou momento ao ler os nomes dos jogadores acima? Certamente sim. A cada temporada, o Campeonato Alagoano apresenta, ou melhor, reapresenta figurinhas carimbadas que facilmente ativam a memória afetiva do torcedor. 

Em 2020, o Estadual conta novamente com o folclore destas peças importantes para o pulmão do futebol alagoano, presente nos campos do interior de Alagoas. Nos alambrados do José Gomes da Costa, em Murici; Coaracy da Mata Fonseca, em Arapiraca; Edson Matias, em Olho d’Água das Flores; Juca Sampaio, em Palmeira dos Índios; e Gerson Amaral, em Coruripe, facilmente encontra-se torcedores que carregam um carinho imenso por esta ligação quase familiar entre jogador, clube e torcida.

A Gazeta de Alagoas esteve em Murici, no dia 12 de janeiro, e acompanhou de perto a afinidade do torcedor alviverde com o Verdão da Mata. Entre xingamentos e elogios, um dos jogadores se sobressaía no quesito aplausos: Sinval. Inquieto em campo, o zagueiro gesticulava para ajustar a linha de defesa, berrava para avançar a marcação, vibrava a cada bola rechaçada. No confronto contra o ASA, pela Copa Alagoas, o placar acabou em 3x0 para o time arapiraquense, porém, a posição do xerife continuou inabalável.

Aos 38 anos, Sinval tem história para dar e vender. Desde o início dos anos 2000, ele já defendeu clubes pelo Campeonato Alagoano em 17 temporadas, sendo os últimos cinco anos atuando pelo Murici. A curiosidade fica por conta do seguinte: ele decidiu se aposentar em 2019, mas voltou para 2020 após o pedido especial de um amigo.

“Meu amigo irmão conversou comigo, disse que queria muito que eu voltasse, aí aceitei mais esse desafio. Quero fazer uma competição bonita”, falou o capitão.

Na Copa Alagoas, o Murici não conseguiu chegar à final e perdeu a oportunidade de disputar diretamente a vaga no Campeonato Brasileiro da Série D em 2021. No entanto, Sinval pontuou que a competição tinha importância também para encaixar a equipe, entrosar o elenco e chegar com mais poder no Estadual.

“Para o começo de temporada, buscar o entrosamento é sempre bom. Deu para avaliar alguns jogadores que chegaram. Na Copa, a equipe mostrou ser forte, mas pecamos muito e quem erra menos sai com a vitória. O Estadual é outra competição, mais difícil, onde o jogo é mais dinâmico. O Murici está trabalhando para brigar forte para alcançar os objetivos da equipe”, salientou. 

Em dezembro de 2019, Sinval perdeu o amigo Dias, vítima de um infarto. Ex-goleiro do Murici, Dias levantou a taça de campeão alagoano em 2010 ao lado do defensor. A direção do clube tem feito algumas homenagens para o ex-jogador, como faixas e camisas nas entradas dos jogos. Mas Sinval vai além e promete que a disputa do Estadual neste ano é, sim, in memoriam ao “parceiro”.

“Dias foi um grande goleiro, uma referência no Murici. Ele faz falta em qualquer time. Sei que onde ele estiver vai estar torcendo por nós, e vamos, sim, dedicar as vitórias a ele, que foi o cara que honrou a camisa do Murici. Dias foi um amigo e irmão que eu tinha. Na bola, foram mais de 16 anos jogando juntos”, lembrou, emocionado. 

Este é o último ano do zagueiro Sinval como jogador de futebol. Após o término do Campeonato Alagoano, ele vai pendurar a chuteira e ocupar algum posto na comissão técnica permanente do Murici.

  

EXPERIÊNCIA CONTA, SIM

O Campeonato Alagoano desta temporada ultrapassa os 28 anos de idade. Este número não é maior porque alguns clubes fizeram um peneirão para selecionar atletas jovens para compôr o elenco, como o Coruripe, por exemplo. Nisso, abre margem para os mais experientes segurarem a barra e aconselharem os que estão inciando a caminhada agora.

Nesse contexto surge Reinaldo Alagoano, centroavante do ASA. O atleta de maior nome do elenco arapiraquense, o centroavante revelou que utiliza da “rodagem” para aconselhar os mais novos, que nem sempre gostam de escutar e levar os puxões de orelha.

“Eu e Gideão [goleiro] somos os mais velhos, e a gente tenta aconselhar, conversar com o grupo. Às vezes os mais novos não gostam de escutar, mas tentamos passar algumas coisas durante os jogos. Foi com esta mescla que conseguimos conquistar a Copa”, disse. De fato, esta mistura deu certo e o ASA conseguiu faturar a Copa Alagoas e, consequentemente, a vaga na Série D de 2021.

Sem defender um clube alagoano desde 2016, o centroavante Reinaldo Alagoano chega para a temporada com uma missão de carinho no ASA, de Arapiraca. Declaradamente torcedor alvinegro, o goleador retornou a Alagoas para recolocar o Fantasma no cenário nacional. E conseguiu. 

“Estava há alguns anos sem atuar no Estado e, por ser torcedor do ASA, eu não pensei duas vezes em voltar. Isso por causa da vontade de dar calendário ao ASA, reerguer o ASA mais uma vez. Isso foi o que mais me motivou”, disse. 

Aos 33 anos, Reinaldo já vestiu as camisas de Corinthians-AL, CRB, ASA, Santa Rita, CSA e Zumbi. Mesmo tendo percorrido todas essas praças, o jogador mantém uma boa relação com os torcedores. “É muito bom a gente chegar e ser respeitado, lógico que existe a rivalidade por ter jogado em rivais alagoanos, mas é bom a gente ser reconhecido pelo torcedor. Eles pedem para tirar foto, fica naquela resenha comigo, é um privilégio para mim como atleta”.

Apesar de ter alcançado o primeiro objetivo do ano – ser campeão da Copa Alagoas e carimbar vaga na Série D de 2021 –, o ASA almeja voltar a brigar com os rivais CRB e CSA na disputa do Alagoano. Segundo Reinaldo, vontade e disposição não vão faltar. “Muita gente diz que o ASA veio apenas para passear, mas não é bem assim. Por onde passei sempre briguei por títulos e agora não será diferente. Vamos virar a chave para surpreender aqueles que não acreditam”.



“NOS ATALHOS E NA RAÇA”

A experiência de um jogador de futebol é facilmente detectada quando a bola chega nos pés do boleiro. Às vezes, a redonda nem precisa chegar, e o atleta já conhece o atalho do campo e rapidamente aproveita. Ou então, com ela dominada, parte para cima e duela no corpo a corpo, na raça. Assim se denomina Souza, que no auge dos seus 40 anos, vai defender o Murici nesta temporada. 

Recém-chegado ao futebol alagoano depois de 18 anos distante, Souza deixa claro que não é mais um menino, mas também faz questão de frisar que está ansioso em voltar a jogar profissionalmente. O boleiro não entra em campo desde o dia 23 de fevereiro de 2019, na derrota para do Bagé para o Lajeadense, por 2×0, pela 2ª Divisão do Gauchão. 

E olhe que Souza estava pronto para pendurar as chuteiras, mas resolveu levar um amigo para treinar no Verdão, essa semana, e acabou ficando. “Murici é um lugar onde eu sempre frequentei, muito tempo atrás eu disse e prometi que ainda jogaria aqui antes de parar. Eu já estava pensando em parar, sim, vim trazer um amigo aqui e acabei ficando”, relatou.

A primeira fase do Campeonato Alagoano tem apenas sete jogos para cada equipe, ou seja, é considerada uma competição de tiro curto. Por isso mesmo que Souza não vai aguardar estar 100% fisicamente para entrar em campo.

“Fisicamente ainda não estou no ideal. Eu tenho certeza que o tempo parado não vai ser o problema. Sei que não vai dar tempo condicionar meu corpo pra depois jogar, até porque o campeonato é curto. Vai ter que ser na raça”, declarou o multicampeão pelo São Paulo.

O meio-campista Souza não foi regularizado na CBF para a estreia do Murici contra o CRB, neste domingo (26), no Estádio Rei Pelé. A expectativa fica por conta do confronto com o Coruripe, pela segunda rodada do Estadual, no José Gomes da Costa, no dia 2 de fevereiro.

Natural da capital alagoana, Maceió, Souza foi revelado pelo CSA e atuou pelo clube marujo em 1998 e 1999, antes de se transferir para o Botafogo-RJ e rodar o Brasil e ser campeão na Europa. Foi no São Paulo que viveu o auge da carreira ao ser campeão da Libertadores e Mundial, em 2005. Pelo Tricolor paulista ainda foi bicampeão brasileiro em 2006 e 2007. No Paris Saint-Germain, na temporada 2007/08 conquistou o Taça da Liga Francesa. MM 

* Sob supervisão da editoria de Esportes.

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Cria do CSA, Souza está de volta ao futebol alagoano - Foto: Jailson Colácio/Ascom Murici
 

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