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Líder de torcida organizada e destinada ao CRB: conheça Renally Luna
Em busca de espaço e voz para as mulheres, ela coloca o feminismo como essencial para a vivência na bancada
Por debora rodrigues | Edição do dia 07/03/2020 - Matéria atualizada em 07/03/2020 às 06h00
“Sou realizada como mulher e torcedora, porque o CRB existe”, Renally Luna, de 23 anos, profissional de educação física e apaixonada pelo Galo. Ela será a primeira personagem da série especial produzida pela Gazeta de Alagoas no mês da mulher.
Filha de quem já jogou no CRB, mas que, segundo ela, não ingressou para a equipe profissional, Renally conheceu a paixão pelo clube há 10 anos.
Sem incentivo dos pais para frequentar o Estádio Rei Pelé, foi carregada ao maior palco esportivo do estado pelo tio e primas. No começo de sua trajetória, ela não entendia nada de técnica ou tática, mas isso foi mudando com o passar do tempo.
“Conforme fui acompanhando o clube de perto, minha paixão foi crescendo. Fazia o possível e o impossível pra não perder os jogos em casa, porque ainda não tinha a autonomia de viajar pra fora”.
Apesar da falta de incentivo do seu progenitor, Renally começou a “entender” mais sobre o esporte com o próprio pai. Ela também contou que fazer educação física foi essencial, pois começou a estudar futebol em uma matéria ministrada no curso.
“Não demorou muito pra eu entender que o CRB foi meu amor a primeira vista, encontrei uma paixão que se espera pouco em troca, um sentimento sincero e verdadeiro. Ver a torcida vibrando, apoiando o clube os 90 minutos e cobrando melhorias me deixava alucinada e totalmente encantada. E então eu aprendi que ser alvirrubra era o meu destino”.
A paixão pela massa vermelha e branca levou Renally a ingressar na torcida organizada. Hoje, ela é diretoria do Pavilhão Feminino. Mas, apesar dos momentos bons, ela afirmou que é desgastante lidar com membros do sexo masculino no seu dia a dia, porque acaba ouvindo coisas desagradáveis e piadas ofensivas.
“Uma coisa que me deixa intrigada é a gestão específica da torcida. Normalmente, a mulher é responsável pelo feminino. É difícil ver mulher responsável pela gestão de materiais, como diretora-geral ou presidente. Isso nunca aconteceu na minha torcida. É como se isso ferisse o ego deles [homens]”.
Renally também comentou que, em algumas ocasiões, as mulheres são proibidas de ir em determinados jogos do CRB, porque, segundo membros da torcida, elas não ‘aguentariam a pressão’. "Já passei por muitas situações constrangedoras, mas a que mais me perturba é o fato de tirarem nosso direito de acompanhar o nosso clube em certos jogos", falou.
As meninas da torcida também sofre com a invalidação de suas falas. Segundo Renally, elas acabam sendo classificadas como “chatas”, porque reivindicam o direito de participar de debates.
E foi pensando nisso que ela, em conjunto com suas companheiras de bancada, estão colocando em prática a realização de uma roda de conversas com alguns homens sobre o papel da mulher dentro da torcida e no futebol como um todo.
“Eles nunca vão entender tudo, porque já é algo imposto, é cultural. Temos que trabalhar um pouco mais para conseguir mudar as coisas, não vai ser da noite para o dia. Mas queremos colocar um ponto de interrogação na cabeça deles, tentar fazer eles se questionarem”.
Assim como Renally, inúmeras mulheres lutam todos os dias para quebrar barreiras e fazerem o amam: torcer. Casos como o dela servem para instigar e questionar outras companheiras, além de ligar o alerta de homens que praticam atos machistas em suas atitudes, seja em torcida organizada, na bancada ou nas atitudes cotidianas.