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Esportes 22-09-2017 Estadio Rei Pele

Covid-19: o caos chegou também ao esporte e parou competições

Comentaristas, torcedores e dirigentes opinam sobre paralisação no futebol por causa do coronavírus

Por Fernanda Medeiros e Jean Nascimento | Edição do dia 21/03/2020 - Matéria atualizada em 21/03/2020 às 04h00

/22-09-2017 Estadio Rei Pele
/Maceió,11 de Setembro 2017
Especial Timaço da Gazeta, Antônio Torres.
Foto: Gilberto farias

Competições paradas, no futebol, no basquete, no voleibol, na Fórmula 1, em várias modalidades esportivas. No Brasil e em todo o mundo. A causa: a pandemia do coronavírus (Covid-19), que vem assolando o planeta e já matou mais de dez mil pessoas no mundo. Outras centenas estão infectadas. No Brasil, até essa sexta (20), o número chegava a 11 mortes. O medo de contrair o Covid-19 já fechou vários setores em todo o mundo: bares, restaurantes, academias, mercados, cinemas, teatros, parques, igrejas... Com o esporte não seria diferente.

A Fifa cancelou competições como Eurocopa, Copa América. A CBF suspendeu os Campeonatos Brasileiros, a Copa do Brasil. Copa do Nordeste e Estaduais também foram paralisados. Em Alagoas, do mesmo jeito: a Federação Alagoana de Futebol (FAF) suspendeu o Campeonato Alagoano e as competições da base.

A Gazeta de Alagoas ouviu cronistas esportivos, torcedores e dirigentes para saber o que eles pensam sobre essa paralisação nunca vista no meio esportivo. Quem são os maiores prejudicados?

Comentarista do Timaço da 98,3 FM, Jorge Moraes considera que é um momento delicado e não crê, pelas últimas informações oficiais, que haja uma solução rápida, mesmo com as medidas que estão sendo tomadas.

“O povo é terrível e não colabora muito para melhorar. Com isso, o futebol em Alagoas não vai voltar tão cedo. Acho até que esse campeonato não termina. Será passada uma borracha, não cai ninguém, não terá a 2ª divisão e, em 2021, voltam todos. Pode até acontecer também com a própria Copa do Nordeste. Acho complicado, mas é o que deve ser feito. Não ter jogos é ruim, mas pior é a situação, que deve se agravar em abril”.

Moraes sugere que CSA e CRB, nos bastidores, já deveriam estar contratando ou conversando com seus reforços para o futuro. “Mesmo que ninguém saiba qual será. Isso sem falar nos prejuízos financeiro e técnico dos clubes”, completou.

Antônio Torres, também comentarista do Timaço da 98,3 FM, lembrou que estamos vivenciando um problema inédito. “Eu tenho mais de 50 anos na crônica esportiva e nunca presenciei um fato como esse. Campeonatos paravam por questões jurídicas, mas por questões de saúde, para preservar vidas é a primeira vez”, afirmou.

Para ele, todos perdem com isso. “Estávamos na reta final da 1ª fase do Alagoano e, claro, é um transtorno, mas é uma questão de preservar vidas. E a a gente não pode ficar de fora desse contexto”, opinou. “Perdemos todos nós, mas os maiores prejudicados são os clubes pequenos porque não têm reserva financeira, à exceção do Coruripe, que participou da 1ª fase da Copa do Brasil e colocou uma verba em caixa. Mas os demais não têm outra fonte de renda. Esse segmento do futebol deve ser olhado com um pouco mais de atenção. A CBF publicou, semana passada, o lucro dela de quase R$ 1 bilhão. Então, uma entidade que promove o futebol brasileiro deveria olhar para esses clubes e as federações deveriam interferir, pedir apoio para eles”, disse.

Segundo ele, CSA e CRB têm uma expectativa para o 2º semestre, sobretudo com a participação de ambos na Série B. “Em relação ao Estadual, pela dimensão do problema, é bem provável que não seja concluído, porque seria alongar contratos de atletas e isso fica complicado”, lembrou.

Ele disse que quanto aos torcedores é cada um, individualmente, preservar sua saúde, mas que eles sentem falta do futebol. “Mas nós, comentaristas, repórteres, narradores, temos que nos preservar, principalmente nós que estamos na terceira idade. E também não podemos colocar a vida de outras pessoas em risco”. Ele citou, ainda, os ambulantes: “O pessoal da economia informal que fica no Rei Pelé, também vai ficar prejudicado com essa parada”.

Torcedora do CSA, Djane Ramos dos Santos sempre vai com a família aos jogos do Azulão no Rei Pelé. Sobre esta paralisação, ela considera necessária e explica: “Amo futebol e sou uma torcedora assídua, mas esta medida se faz necessária. Diante deste cenário de pandemia, deixamos a nossa paixão nacional (o futebol) em segundo plano, pois este momento é hora de todos aderirmos à reclusão social em prol de um bem maior que é a nossa vida e de nosso semelhante”.

Leonardo Souza, torcedor do CRB, pensa como Djane e diz que a pausa é mais que necessária. “O Brasil está parando e, assim, o futebol deve parar também. O CRB deve fazer a sua parte fora dos campos, como está fazendo, disponibilizando o seu CT, para o Governo do Estado. São ações como esta que nos fazem acreditar que não é só futebol”, opinou.

Para os clubes alagoanos, o cenário é o pior possível. Segundo o presidente do Conselho Deliberativo do CSA, Raimundo Tavares, esta parada prejudica financeiramente e fisicamente o clube. “Prejudica todo um planejamento, toda uma programação. Infelizmente temos que conviver com este problema que não é único e exclusivo nosso, é mundial. E temos que ter precaução e todo cuidado para minimizá-lo. Prejudica muito”, disse Tavares.

Fisicamente, todas as equipes perdem. Tendo em vista, as atividades que vinham sendo realizadas pelo Azulão, a perda é enorme já que o time disputava o Alagoano e o Nordestão. “Prejudica muito, pois entendo que estávamos em um processo de evolução na parte física e, com a parada, perdemos tudo isso. Estamos refazendo toda a programação física conforme os cuidados necessários com os atletas e colaboradores do nosso CT, no aguardo de termos uma solução o mais rápido possível”, encerrou Tavares.

Procurado, o CRB não quis entrar no tema financeiro e disse apenas que a nota oficial emitida na última terça (17) reflete a posição do clube. Na nota, o Galo disse que paralisou as atividades do futebol profissional por seis dias e da base até o dia 2 de abril, “visando seguir orientações dos órgãos desportivos e de saúde municipal, estadual e federal, onde adotamos medidas preventivas, que contribuam na redução dos casos de transmissão do Covid-19”.

Apesar disso, os grandes clubes alagoanos não devem sentir o “baque” inicialmente, haja vista que receberam cotas de participação no Nordestão e Copa do Brasil. O Regatas, por exemplo, até agora soma R$ 2,6 milhões apenas pela participação nas três primeiras fases do certame nacional. Segundo o gestor em marketing esportivo Ricardo Lima, o impacto nos dois clubes só deverá acontecer mais na frente. “Neste momento temos que reajustar tudo, claro que agora quem vai sofrer a pancada maior são os clubes de menor aporte financeiro. Dificilmente os maiores terão a queda neste primeiro momento devido ao modo que podem buscar receitas”, disse o gestor.

Ele revela uma maneira de os clubes “driblarem” este momento difícil. “Grandes clubes brasileiros já pensam em formas de como atrair os sócios, pensando nos principais clubes de Alagoas, utilizando a imagem dos atletas aproximando da realidade que vivemos no Estado, falando sobre os cuidados e orientações, entre outras maneiras”, disse Lima.

Como bem disse ele, a realidade dos clubes do interior é dura. Todos os times da 1ª divisão do Estadual estão sofrendo. Em conversa com CEO, CSE, Murici e Jaciobá, o discurso é uniforme: “Temos prejuízos enormes com a paralisação do Alagoano, já que jogadores mantêm seus contratos, temos despesas no dia a dia que não foram suspensas. É uma situação muito complicada para nós do interior”.

Apesar da situação difícil, o vice jurídico e advogado do CSE, Zenício Neto, afirmou que o clube honrará com os compromissos até o fim do tempo vigente dos contratos, em 31 de março. “Estamos pensando em conversar com os atletas, fazer acordo, parcelar valores. Vamos tentar resolver”, disse o dirigente.

Realidade diferente dos outros três clubes do interior. O CEO, por exemplo, conta com gastos superiores à sua folha salarial. “Nossa folha gira em torno de 62 mil reais e nosso cálculo de prejuízo inicial é de 90 mil, pois esse valor sai e não entra”, revelou Henrique Martins, diretor financeiro do Tricolor. A situação é pior no Jaciobá, que não tem apoio da prefeitura e sobrevive de patrocínios e cotas da FAF. “Com a paralisação estamos perdendo em torno de 4 mil reais por semana.

A situação para os times do interior é a mais caótica possível. Fizemos uma programação e agora fica difícil”, disse Xiribi, presidente do Jaciobá.

* Sob supervisão da editoria de Esportes.

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