Um costarriquenho de Macei� na rota da Sele��o
Ary Cunha - Alexandre Guimarães gosta de sol e praia. Nascido em Maceió e filho de um médico sanitarista, ele se encantou com as paisagens e o povo da Costa Rica na adolescência e lá vem escrevendo sua história no futebol. Depois de participar como jog
Por | Edição do dia 31/03/2002 - Matéria atualizada em 31/03/2002 às 00h00
Ary Cunha - Alexandre Guimarães gosta de sol e praia. Nascido em Maceió e filho de um médico sanitarista, ele se encantou com as paisagens e o povo da Costa Rica na adolescência e lá vem escrevendo sua história no futebol. Depois de participar como jogador da Copa de 90, na Itália, é o técnico da seleção costarriquenha, adversário do Brasil no grupo C. Em entrevista por telefone, Guimarães só mostrou uma curiosidade que não diz respeito ao time de Felipão. - O calor está forte no Rio? - Você assistiu em Cuiabá ao amistoso entre Brasil e Islândia. Deu para tirar algumas conclusões? GUIMARÃES: As conclusões que pude tirar foram mais no aspecto individual do que no coletivo. Observei alguns jogadores que o Felipão quer incluir no grupo para a Copa. Não sabia praticamente nada sobre Kaká, Kleberson, Anderson Polga, Gilberto Silva e França. Daquele time, só conhecia o Marcos, o Edilson e o Belletti. - A disparidade entre Brasil e Costa Rica continua tão grande como na Copa de 90? Não me atreveria a fazer essa comparação. O que posso dizer é que a Copa de 90 foi ótima para a Costa Rica, fez com que nosso futebol evoluísse. Nossos jogadores passaram a atuar em clubes do exterior, os técnicos e preparadores físicos se aprimoraram e passamos a dar valor às divisões De base. Estamos colhendo agora os frutos da Copa de 90. Fomos eleitos pela Fifa como a equipe de maior crescimento no ranking. Temos jogadores atuando na Europa, como o Wanchope; e o Ronald Gómez, na Grécia. A Costa Rica não tem mais aquele medo de enfrentar seleções de tradição e grandes competições. - Você acha que o criticado 3-5-2 de Lazaroni pode dar certo no Brasil com Felipão? Qualquer esquema para ser bem-sucedido precisa de tempo de trabalho. Tenho visto muitos times brasileiros jogando dessa forma e ele já não causa a estranheza de 1990, quando o Lazaroni foi duramente criticado. Como o 3-5-2 vem sendo bem aceito, acho que o Felipão poderá usá-lo sem problemas. - Você acredita em zebra no Grupo C ou considera que uma das vagas já é do Brasil? Pelo peso que o Brasil tem, seus jogadores e comissão técnica, só uma zebra enorme faria com que não se classificasse no nosso grupo. Acho tão certa a classificação do Brasil que estou feliz de enfrentá-lo no último jogo, quando já estará com a vaga. Mas de nada adiantará nosso otimismo se não formos bem contra China e Turquia. Tivemos que pensar primeiramente neles. - Mesmo sem time definido a dois meses da Copa, o Brasil é favorito? O Felipão já tem o time para a Copa. Ele apenas está escolhendo alguns nomes para preencher sua lista. Alguns setores ainda não estão com todos os nomes decididos, mas o importante é que ele dispõe de grandes jogadores para fazer sua escolha. Respeito muito o trabalho do Felipão. Para mim, o Brasil sempre será um dos protagonistas numa copa do Mundo. Mas não há dúvidas de que no momento, como até os brasileiros reconhecem, França e Argentina são favoritos. - Você apontaria alguma surpresa para o Mundial? Todo mundo espera que Portugal faça uma boa Copa. Outra que também pode surpreender e tem um campeonato de altíssimo nível é a Espanha. Mas a história das Copas não reserva muitas surpresas para as fases finais. Tradicionalmente, os convidados para a festa decisiva são quase sempre os mesmos. - Qual a meta da Costa Rica nesta Copa do Mundo? Temos uma referência que foi a Copa de 90 e tivemos uma participação muito boa. Éramos estreantes em Mundiais e ganhamos dois jogos (Suécia e Escócia). O povo da Costa Rica está otimista e quer que tenhamos um desempenho igual ou melhor. O time esteve muito bem em 2001, sendo o melhor nas eliminatórias da Concacaf, derrotando México e Honduras fora de casa, e tendo o ataque mais positivo e a defesa menos vazada. Tudo isso cria uma expectativa enorme. - O que acha dos outros adversários, Turquia e China? Caímos num grupo muito diferente futebolística e culturalmente. Esses dois aspectos marcam muito na hora do jogo. A China jamais esteve numa Copa e pode sentir alguma dificuldade. Por outro lado, jogará como se estivesse em casa. Já a Turquia tem jogadores de alto nível e um futebol que vem ganhando projeção na Europa. O Galatasaray mostra a evolução dos turcos. São seleções muito difíceis. O grupo C pode parecer fácil para o Brasil, mas para nós com certeza não é. - Se Romário jogasse na Costa Rica, você o convocaria? Prefiro não entrar nesse assunto. Já tenho minhas obrigações na Costa Rica. Cada país tem os seus ídolos. O Medford disputou a Copa de 90 e faz parte do nosso grupo. Mas não gosto de falar sobre quem deve estar em outras seleções. Deixa essa para o Felipão. - E a volta de Ronaldo à Seleção? Tenho acompanhado o esforço dele. Se estiver realmente recuperado, Ronaldo poderá ser um diferencial a favor do Brasil na Copa. - Você tem planos de dirigir um clube brasileiro um dia? Por enquanto, meus planos estão todos voltados para a Copa do Mundo. Depois dela, só penso em ser feliz. Tenho apenas 42 anos, não há razão para pressa. Quando estudo uma proposta de trabalho, penso também num bom lugar para viver. A Costa Rica é um ótimo e o futebol daqui melhorou muito. Como no Brasil, alguns clubes pagam em dia, outros não. Mas não temos CPIs investigando o esporte. Nossa liderança é aceita por todos os setores. (Transcrito do jornal O GLOBO, edição de 24 de março).