“Sou azulina desde quando eu nem existia. Vem do meu pai este amor pelo futebol pelo CSA. Eu digo até que é genético”. Assim se denomina Fernandja Campos, torcedora e apaixonada pelo Azulão. Ele é fundadora da torcida ‘Azulcrinadas’, que demonstra amor pelo clube do coração ao mesmo tempo em que luta por mais representatividade feminina nas instituições.
Em entrevista para a Gazeta de Alagoas, Fernandja falou sobre como surgiu a ideia de criar uma torcida para mulheres e também como tenta driblar o machismo no futebol, um meio majoritariamente masculino.
“A ideia de criar a ‘Azulcrinadas’ foi, mais ou menos, sem um planejamento prévio. Foi como resultado de participar de grupos que tinham homens também e eu começava a perceber que, por ser tão ligada ao time e dar opiniões sobre vários aspectos, às vezes,acontecia de algum tirar piada e dizer que estava falando besteira. Um dia pensei “se nós estamos num grupo desse, por que não fazer um só com mulheres?”. Falei com umas amigas e deu certo”.
Ela conta que no início, apenas dez mulheres faziam parte da torcida. Agora, com dois anos de existência, a ‘Azulcrinadas’ tem 65 integrantes, que são de vários bairros de Maceió e de outros municípios do Estado, e com idade dos 16 a 60 anos.
“No grupo conversamos sobre tudo relacionado ao CSA e também sobre coisas que emanam empatia. Elas sempre declaram que se sentem bem no ‘Azulcrinadas’, porque perceberam que a opinião delas começou a valer, mesmo com algumas divergências, que são raras, mas que acontecem, pois estamos num meio com pessoas que pensam diferente”, disse.
A mulheres também passaram a cobrar melhorias nas dependências do Estádio Rei Pelé,para que haja mais segurança para todas. A principal queixa de Fernandja é em relação à estrutura dos banheiros do palco esportivo. Ela conta que sempre há um receio em ir sozinha, já que não há iluminação adequada e até os vasos sanitários deixam a desejar.
“A gente levanta a bandeira de luta em busca de melhorias dentro do estádio para nós mulheres, porque os banheiros, por exemplo, são muito arcaicos. Alguns ainda são com aqueles buracos no chão e as mulheres precisam ficar numa posição muito desconfortável”.
Recentemente, em uma live realizada no Instagram da torcida, o presidente do CSA, Rafael Tenório, chegou comentar que estuda a criação de um Conselho Deliberativo feminino. Sobre isso, Fernandja afirmou que é um grande passo, mas que espera também que as mulheres possam participar das decisões ativamente.
“Acredito que essa falta de representação deixa uma lacuna muito grande. A partir do momento que mulheres fazem parte da torcida, que são sócias, vão ao estádio, compram camisa e ajudam na receita do clube, precisam estar também participando nas decisões. Além do Conselho feminino, a gente vai lutar também para que o Conselho geral seja misto, composto de homens e mulheres”.
Fernandja conta que a ‘Azulcrinadas’ tem conseguido ganhar seu espaço. Ela afirmou que o marketing do clube mantém contato com algumas páginas destinadas ao CSA e que a dela é a única de torcida feminina a estar nesse meio. Além dos projetos envolvendo o Azulão, a ‘Azulcrinadas’ realiza ações sociais através do amor pelo clube.
“A gente realiza ações sociais, conseguimos levar um menino deficiente visual para o estádio, ele entrou com os jogadores em campo.Fora outras ações, com abrigos, moradores de rua. A gente sempre usa o amor pelo CSA, o amor que temos uma pelas outras, para ajudar outras pessoas”.
A torcida cativou não só as mulheres, mas também os homens que torcem para o CSA e acompanham páginas do time do coração. Por isso Fernandja e as integrantes pensaram em um grupo para os companheiros de bancada, que agora tem a supervisão delas, mas que deve seguir os passos separadamente em breve.
“Nós vimos que 51% de seguidores na nossa página é masculino, embora seja um conteúdo de mulheres, mas a gente acaba focando mais no CSA do que em nós. Há três meses, baseado nesse dado, criamos o ‘Azulcrinados’. Tem um grupo criado para homens, mas com a mesma vibe do nosso”, finalizou.
E assim caminham as ‘Azulcrinadas’: pregando inclusão e representatividade,cuidando umas das outras e buscando melhorias nos espaços que recebem também as apaixonadas pelo CSA.
* Sob supervisão da editoria de Esportes.