
No CSA em 1999, Arnon e Souza relembram o vice da Conmebol
Ex-presidente azulino e ex-jogador revelam histórias sobre o feito inédito conquistado pelo clube
Por Fernanda Medeiros | Edição do dia 25/10/2023 - Matéria atualizada em 25/10/2023 às 04h00


O Fortaleza se igualou ao CSA, ao ser outro nordestino a chegar a uma final continental. O Azulão foi à decisão da Copa Conmebol, em 1999, e foi vice-campeão. Em 2023, por sua vez, o Fortaleza chegou à final da Copa Sul-Americana e vai tentar alcançar um feito ainda mais histórico: levantar o troféu de campeão, no próximo sábado (28), contra a LDU, de Quito.
A tarefa será árdua para o Leão, assim como foi para o CSA naquele ano, quando os azulinos não tiveram moleza. Ao contrário, foi uma verdadeira maratona até a grande decisão da agora extinta competição. Para uma equipe com poucos recursos, o CSA só jogou o torneio porque outros três times desistiram: Vitória, Sport e Bahia.
Presidente do CSA à época, Arnon de Mello, deu entrevista à ESPN e relembrou a saga que o Azulão viveu naquele ano. "O CSA foi chamado por ter sido o 4º colocado da Copa do Nordeste. Era a última edição da Conmebol. Então, não haveria premiação para quem vencesse e não tinha nenhuma ajuda de custo, de passagem, hospedagem. Enfim, ficava tudo por conta dos clubes que participassem”, relembrou Arnon de Mello.
Aos 23 anos, Arnon tinha acabado de assumir o CSA, que passava por uma grave crise financeira. "Fui candidato único [a presidente] e eleito por unanimidade. O clube não estava em uma boa situação financeira. A gente quase não tinha patrocínio, era muito pouco. E o que tinha, muitas vezes era levado para os acordos judiciais que haviam. A gente ia para cada conselheiro e pedia: ‘você consegue pagar duas passagens?’. Chegava para outro e falava: ‘você paga mais uma?’. E assim a gente chegou lá”, disse.
Otávio Quadros era o técnico do CSA, que tinha um elenco com muitos jovens da base, entre eles, o meia Souza, campeão mundial pelo São Paulo. “Eu costumo dizer que foi uma preparação para tudo aquilo que eu vivi depois. Meu primeiro jogo sul-americano foi pelo CSA”, disse Souza, também à ESPN.
Após vencer o Vila Nova na estreia, por 2 a 0, gols de Missinho e Mazinho, o Tigre devolveu o resultado, na volta, mas o CSA venceu nos pênaltis, por 4 a 3. Em seguida, o time alagoano fez o primeiro jogo fora do Brasil de sua história: contra o Estudiantes, da Venezuela, e muito jogadores sequer tinham passaporte.
“O time todo dormiu dentro do aeroporto, de uma noite para a outra. Dormimos, literalmente, no chão do aeroporto. Quando fomos para a Venezuela, não tinha conexão para todo mundo. Foi uma parte para a Colômbia, depois vieram de carro. Outra parte foi pela Venezuela. Foi uma confusão danada”, contou Arnon de Mello.
Apesar dos problemas, o CSA se classificou. Depois eliminou o São Raimundo, antes de encarar o Talleres da Argentina na final. No primeiro jogo, em Maceió-AL, o Rei Pelé ficou lotado e comemorou a vitória por 4 a 2, com três gols de Missinho, que faleceu em 2019. Mas, no duelo de volta, os brasileiros encontraram um clima hostil na Argentina. “Eu lembro que nós chegamos, descemos, fomos até o estádio também para fazer o reconhecimento e eles não deixaram usar chuteiras. Foi um clima de guerra”, disse Souza.
“Ninguém da CBF foi nos acompanhando, nem da Federação local. Então, assim, a gente ficou um pouco sem suporte lá na Argentina. Mas isso não é desculpa porque, realmente, futebol é dentro de campo e a gente acabou perdendo, mas, ainda assim, foi uma bela partida”, emendou Arnon.
Logo no começo do jogo, com uma atuação questionável do árbitro paraguaio Ricardo Grance, o Azulão teve o volante Fábio Magrão expulso injustamente. Com um a menos, a situação ficou difícil. Aos 39 minutos do 1º tempo, Silva fez 1 a 0 para os argentinos. No 2º tempo, o artilheiro Dario Gingena fez o segundo gol para eles, aos 30 minutos. Para fechar o placar e ficar com o troféu, Maidana fez o 3 a 0, aos 45 minutos.
“FOI UM TÍTULO NA HISTÓRIA DO CSA”
Apesar do vice-campeonato, Arnon de Mello considera que foi um título importante para os azulinos. “Não foi um título, mas nós consideramos quase como um título na história do CSA”, afirmou.
Souza também pensa da mesma forma: “Acho que disputar uma final de um campeonato internacional, da forma que foi, sem estrutura, com meio mundo de jogador da base, só nos dá orgulho. Eu tenho muito orgulho de ter deixado o meu nome marcado na história do CSA”.