Esportes
Em nova fase, objetivo de Guga � a longo prazo

Os golpes acompanhados por gritos que soam como gemidos do fundo da quadra não deixam dúvida: Gustavo Kuerten está de volta. Aos 28 anos, Guga também saiu da casa da mãe. Crê que atingiu a maturidade para saber o que é melhor para sua vida. Queria tomar decisões e até mesmo de sentir o peso delas, sejam boas ou ruins, disse Guga ontem, seis meses após sua segunda cirurgia no quadril, na primeira entrevista após a separação de Larri. Após o rompimento com o técnico Larri Passos, seu segundo pai, o catarinense quer mais tempo para relaxar e aproveitar outros interesses, como o surfe. - Quais são seus objetivos para esta temporada? - Meu principal objetivo é me livrar dos problemas no quadril. A maior conquista seria ter certeza absoluta de que vou poder jogar mais três ou quatro anos, de uma maneira relaxada e tranqüila. A partir daí, é dar tempo ao tempo que os resultados vão começar a vir. - Então você não pensa em que fases quer chegar aos torneios? Minha meta é chegar bem a Roland Garros. Estou fazendo todo o possível para alcançar este objetivo, mas não estou arriscando nada. Talvez eu pudesse chegar lá um pouco melhor este ano, mas não vou exagerar porque vejo que posso jogar mais algumas vezes o Aberto da França. Não é aquele caso em que é a última Olimpíada ou Copa do Mundo do atleta, quando o cara tem que dar tudo e saber esta é minha última chance. Meu objetivo maior é a longo prazo. - Você ainda está com alguma limitação física ou sente dores? - Meus problemas agora são mais em termos de volume de jogo. Se eu entrar no circuito agora e jogar uma partida dura atrás da outra, com certeza ainda vou sentir bastante cansaço e isso vai comprometer minha performance. Mas a maior diferença está nesta fase final, de lapidação de movimentos de coordenação, velocidade, explosão, reação, pernas para um lado e outro. Isso tudo faz sete meses que eu não treino e vou ter que ganhar agora, nas próximas semanas. Mas pelo menos não tenho mais o que me impeça de treinar. Hoje em dia não posso fazer treinos tão longos, mas posso ir medindo a carga de exercícios e me habituando com ela aos poucos. - Você tem motivação para voltar às quadras depois de tanto tempo parado? - Estou bem motivado. Acredito que minha recuperação vai influenciar muito. A curto prazo, todo o dia que eu saio daqui como hoje (quarta-feira, jogando bem, vendo que cresci e no final não saí esgotado nem com dor na perna, fico mais motivado. A longo prazo, o final do ano será de grandes parâmetros para mim. Vou saber se vai ser um ano muito sacrificante ou não, se consegui me livrar de tudo e jogar tranqüilo. Isso aí é que vai dar a definição para eu saber até como programar a minha carreira daqui para frente. - Como é treinar sem o técnico Larri Passos depois de 15 anos juntos? - No treino não chego a sentir tanta diferença. Para mim, vai ser mais estranho na hora dos jogos, das viagens. Eu estava acostumado a viajar com ele. Ele me motivava muito e me conhecia bastante, sabia até aonde eu podia ir. Só que também ao longo dos anos eu fui entendendo mais o meu corpo. A influência do Larri vai estar sempre presente no meu estilo de jogo, na minha personalidade. - Por que vocês romperam então? Queria tomar decisões e principalmente sentir o peso delas, sejam boas ou ruins, mas também ficar um pouco mais à vontade. Queira ou não, com o Larri era uma relação de segundo pai. Existe muito respeito, além de amizade e carinho, e acho que chega um momento na vida em que você vai querendo desbravar coisas novas, quer mais liberdades em todos os termos. Não é que eu esteja buscando um outro treinador, novas técnicas ou solução para algum tipo de coisa que eu vi pela frente. Para mim, ele era um cara por quem eu tinha tanto respeito no dia-a-dia que às vezes eu ficava... como posso dizer?... é difícil explicar. Eu deixava ele tomar as decisões sempre, e eu estava sempre bem porque ia deixando ele tomar as decisões, mas sentia cada vez mais vontade de fazer um pouco mais esse papel. Ver o que iria acontecer se fosse eu que tivesse que decidir. Acho que a hora foi chegando, a gente foi conversando, não foi de uma hora para outra. Acredito que o Larri tem potencial para ajudar muita gente ainda. Ele é um cara que pode fazer crescer muitos outros jogadores e eu me sinto capaz de caminhar com meus próprios pés. Isso vai me ajudar muito para a vida toda.