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INVESTIGAÇÕES SOBRE ORGANIZADAS MOSTRAM PRÁTICA DE VÁRIOS CRIMES
Delegado diz que há ‘criminalidade organizada’ e isso é suficiente para torcidas serem banidas do futebol


As investigações que apuraram a atuação das torcidas organizadas em Alagoas mostraram a prática de crimes que vão além de danos ao patrimônio ou ameaça. Na avaliação do diretor de Polícia Judiciária, delegado Lucimério Campos, há “criminalidade organizada” e isso, por si só, é suficiente para serem definitivamente banidas do futebol alagoano e evitar mais vítimas.
“Sobre o banimento das torcidas organizadas eu acredito que em Alagoas, falando principalmente das duas maiores, a Comando Alvirrubro, a antiga Comando Vermelho, que por si só o nome já fazia apologia a uma facção criminosa conhecida, e também a Mancha Azul que é a torcida organizada do CSA, elas hoje perderam completamente a relação com o desporto, com o futebol, hoje elas são verdadeiras organizações criminosas”, diz Campos.
Ele afirma que “as torcidas organizadas em Alagoas estão devotadas ao cometimento de diversos crimes e hoje não só crimes que já eram graves como depredação de patrimônio ou ameaça ou pichação ou dano. Mas, crimes contra a vida como a gente presenciou ao longo do ano”.
Desde o fim do ano passado, quando houve uma sequência de episódios envolvendo a explosão de artefatos que mutilaram pessoas e também a ameaça de existência de bombas em eventos de jogos da Copa do Mundo abertos ao público, a Secretaria da Segurança Pública designou Lucimério Campos para acompanhar as ocorrências de violência relacionadas às torcidas organizadas.
“Comecei a monitorar diversos casos e, assim, hoje o meu monitoramento reúne número de malfeitos alguns mais graves bem mais graves como a gente viu aí como o homicídio do torcedor Pedro Lúcio (em maio deste ano). A investigação confirmou que foi praticado por torcidas organizadas. No caso da Comando Alvirrubro teve o ataque que eles promoveram contra um advogado à porta de casa, porque ele estava com a camisa do time de futebol rival ao que essa torcida defende”, lembra o delegado.
Lucimério cita ainda a tentativa de homicídio mais recente contra o torcedor Symei Araújo (em agosto deste ano) promovida pela Mancha Azul, cujo presidente foi preso e continua até hoje.
ARTEFATOS EXPLOSIVOS
O diretor de Polícia Judiciária cita ainda as ocorrências envolvendo explosivos no fim de 2022. “As investigações comprovam que essa produção de artefatos explosivos que seria utilizada em guerras entre organizadas são uma praxe da torcida organizada como também o modus operandi de fazer locação de veículos e sair às ruas à caça de um rival para surrá-lo até deixá-lo desacordado e retirar a vestimenta porque é do time rival”, cita Campos.
Lucimério recorda do episódio ocorrido em Arapiraca no começo deste ano e também de um torcedor da parte alta de Maceió. “E outros tantos que se repetiram com esse modus operandi de procurar torcedores independente de serem, inclusive, de organizadas. Basta qualquer cidadão trajar a camisa do time do coração que passa a correr risco com a existência dessas organizadas com esses atos de verdadeiros bárbaros, vândalos. Eu acho que isso aí é motivo suficiente para que essas duas torcidas sejam definitivamente banidas do cenário do futebol alagoano”, explica.
O delegado destacou, durante a entrevista, que chamou atenção a produção dos explosivos e que ficou comprovado na investigação (já finalizada) sobre as duas ocorrências de mutilação na área 1º Distrito Policial de Maceió.
“Os envolvidos foram presos e estão denunciados por esses casos, em que esses artefatos foram produzidos por torcedores ligados ou na verdade por criminosos ligados a essas organizadas, porque não são torcedores, e que o pretexto do futebol é somente agredir o rival, é uma insanidade absurda em que eles produzem esses artefatos caseiros, muitos produzidos dentro das próprias sedes, como a investigação demonstrou, para poder usar em ataques ao rival”, afirma Campos.
Como muitas vezes não conseguem levar os artefatos no dia dos jogos, porque há um cordão de isolamento feito pela Polícia Militar, os torcedores ligados às organizações acabam escondendo em vários locais para que depois possam usar durante o percurso contra os rivais que encontram pelo caminho.
“Esse é um modo desesperado que ficou bem definido na investigação, só que muitas vezes eles não conseguem voltar ao ponto onde deixaram, ou seja, por conta da manutenção ali do isolamento pelas polícias, e acabam abandonando. Então, um trabalhador, um catador de reciclável, como foi o caso, que toca nisso aí desavisadamente, achando que é um mero pacote, pode se lesionar gravemente, como aconteceu”, conclui Lucimério Campos.