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Nº 5811
Esportes

Rivaldo: o jogador certo no lugar errado

São Paulo - Achar pessoas que questionem o talento de Rivaldo é tão difícil quanto encontrar aqueles que estejam satisfeitos com o desempenho dele na Seleção. Uma das coisas que mais aborrecem Rivaldo é o velho papo de que na Seleção Brasileira ele não

Por | Edição do dia 12/05/2002 - Matéria atualizada em 12/05/2002 às 00h00

São Paulo - Achar pessoas que questionem o talento de Rivaldo é tão difícil quanto encontrar aqueles que estejam satisfeitos com o desempenho dele na Seleção. Uma das coisas que mais aborrecem Rivaldo é o velho papo de que na Seleção Brasileira ele não rende o mesmo que no Barcelona. Seu argumento contra isso é simples e desconcertante: ele também joga mal pelo Barça. Poucos vêem, é verdade, pois nos gols da rodada só aparecem os lampejos de craque do meia. Nunca são mostrados os passes errados e as bolas perdidas no meio-campo que tanto irritam os torcedores brasileiros quando ele está vestido de amarelo. “Estou muito cansado disso. É que não vêem o que se passa lá, mas às vezes jogo mal também, sou criticado. Não dá para manter o alto nível em todas as partidas. Mas sou um jogador que pode decidir a qualquer momento”, diz Rivaldo. Se dependesse exclusivamente da vontade dele, melhor seria trabalhar no ostracismo, sem elogios nem contestações. O meia do Barcelona não fica à vontade com o assédio e a pressão que recebe na Seleção, as entrevistas parecem ser um martírio por conta de sua timidez. Boa parte desse assédio se deve ao fato de que, após o declínio na carreira de Romário e as seguidas contusões de Ronaldo, sobrou para Rivaldo o papel de craque brasileiro. Quando chegou ao Barcelona, justamente para substituir o Fenômeno, negociado com a Internazionale de Milão, ele enfrentou o mesmo desafio. E deu conta. A torcida ficou desconfiada na apresentação do meia, que, tímido e caladão, se limitou a dizer que não aceitava comparações. Em apenas 60 dias, porém, poucos se lembravam de Ronaldo. Em três meses, Rivaldo já era artilheiro do time. Em oito, estava consagrado: marcou 21 gols na temporada 1997/98 e liderou o Barcelona na conquista do Campeonato Espanhol, feito que o Fenômeno não conseguiu enquanto esteve no Nou Camp. O melhor Em 1999, seria eleito pela Fifa o melhor jogador do mundo, superando o inglês Beckham e o argentino Batistuta. Isso sem precisar usar de marketing pessoal, bajular jornalistas, freqüentar festas ou namorar mulheres famosas para superar rivais mais badalados. O prêmio da Fifa veio no ano em que Rivaldo novamente foi comandante e artilheiro do Barcelona na conquista do bicampeonato espanhol. Na Seleção, o meia também faturaria um bi em 1999, o da Copa América, onde foi o maior destaque do time. Era o ápice de uma trajetória iniciada em 1991, quando o pernambucano Rivaldo Victor Borba Ferreira despontou no Santa Cruz. Um ano depois, ele fez um excelente Campeonato Paulista pelo Mogi Mirim, o que acabou rendendo a oportunidade de um empréstimo para o Corinthians na temporada seguinte. Em 1994, o Palmeiras deu uma rasteira no rival e levou o meia para o Parque Antártica. Foi o começo da extraordinária valorização do jogador. O Palmeiras pagou 2,4 milhões de dólares por ele. Quatro anos depois, vendeu-o ao La Coruña por 9 milhões de dólares. O Barcelona, por sua vez, desembolsou 29,6 milhões de dólares em 1997. Hoje por menos de 50 milhões ele não deixa o Nou Camp. Na Seleção, no entanto, Rivaldo só tem se desvalorizado desde a sensacional exibição num amistoso contra a Argentina em Porto Alegre, em 1999. Na vitória de 4 x 2 do Brasil, ele fez três gols e agradou a todos, mas por pouco tempo. Nas Eliminatórias voltou a freqüentar a lista negra de muitos torcedores e jornalistas. “Na Seleção você chega direto para jogar, se for mal, te crucificam. Nem sempre as coisas acontecem da maneira que a gente quer”, diz, rebatendo as velhas críticas que recebe desde as Olimpíadas de Atlanta, em 1996: quando aparece no meio-campo, costuma prender demais a bola e propiciar perigosos contra-ataques para os adversários; quando se manda para frente, participa pouco do jogo. Desses defeitos todos lembram, poucos recordam, porém, que Rivaldo foi artilheiro do Brasil nas Eliminatórias (ao lado de Romário) com oito gols e que decidiu jogos importantes, como na vitória por 3 x 2 sobre o Equador, no Morumbi, quando fez dois dos gols brasileiros sem ligar para as vaias dos paulistas. É por isso que entra técnico, sai técnico da Seleção e o meia do Barcelona continua no time. Até aí, nenhuma novidade. Qualquer treinador do planeta conta com Rivaldo para a Copa, inclusive Luiz Felipe Scolari. O desafio é saber como posicioná-lo em campo para extrair o que ele tem de melhor, a precisão nos chutes, os dribles em direção ao gol e um certo faro de artilheiro. Como armador da equipe, ele deixa a desejar por não ser o jogador cerebral que a função exige e por prender a bola em demasia. Como atacante fixo é marcado com facilidade. Felipão pode estar perto de encontrar a solução final para o dilema ao colocá-lo ao lado de Ronaldinho Gaúcho, com ambos se revezando em várias funções durante o jogo. Não definir um único lugar em campo talvez seja o melhor jeito de não errar mais ao colocar Rivaldo no time. Porque, apesar das críticas, ele é o homem certo. Ah, isso é.

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