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Nº 5812
Esportes

Futebol carioca chega ao fundo do po�o

Rio de Janeiro - O futebol carioca foi quem mais cedeu jogadores para Copas e é popular no País inteiro; o Flamengo é o mais querido - único pentacampeão nacional; e o Maracanã, o templo do futebol. Tudo bem na Cidade Maravilhosa? Pelo contrário: jamais o

Por | Edição do dia 19/05/2002 - Matéria atualizada em 19/05/2002 às 00h00

Rio de Janeiro - O futebol carioca foi quem mais cedeu jogadores para Copas e é popular no País inteiro; o Flamengo é o mais querido - único pentacampeão nacional; e o Maracanã, o templo do futebol. Tudo bem na Cidade Maravilhosa? Pelo contrário: jamais os clubes do Rio atravessaram crise dramática como a atual. O momento é tão ruim que só um atleta - Juninho (e mesmo assim o Juninho Paulista) - foi convocado para o Mundial. A crise no futebol carioca não é de hoje - começou no início da década de 90 - e está diretamente ligada ao desempenho de Eduardo Viana, o Caixa d’ Água, no comando da Federação do Rio. O cartola assumiu a entidade em 1984 e, aos poucos, foi implantando sua política de terra arrasada. Mas ele não é o único dirigente responsável pela situação caótica do futebol carioca. Os presidentes dos principais clubes do Rio também são culpados. Roberto Dinamite e Zico, ídolos eternos das torcidas de Vasco e Flamengo, as maiores da cidade, concordam com essa teoria. “A situação é difícil porque ninguém sabe exatamente como cada clube está. Eu como vascaíno não sei o que se passa no Vasco. O Zico no Flamengo é a mesma coisa. A vaidade dos cartolas tem levado o futebol carioca a uma situação delicada. Se isto não  mudar, será difícil recuperar a  hegemonia nacional”, comenta Dinamite. Melhor CT Zico emendou de primeira, com um exemplo atual: “Nenhum grande do Rio possui um centro de treinamento como o do meu clube, o CFZ. O pior é  que o Flamengo tem um terreno enorme no Recreio dos Bandeirantes (zona oeste da cidade) que está abandonado. Pedi para  administrar o local durante dez anos e depois repassá-lo ao clube e eles não aceitaram”, disparou o Galinho. Os senadores que promoveram a CPI do Futebol pensam como Zico e Dinamite, mas não ficam por aí. Para os parlamentares, os presidentes de Flamengo e Vasco, Edmundo Silva e Eurico Miranda, respectivamente, estão em dívida com a lei. O primeiro pode ser preso, por conta de uma dívida do Rubro-negro com o Corinthians. O outro está prestes a ter o mandato de deputado federal cassado por má conduta. Para outros dirigentes, porém, o futebol carioca é azul da cor do mar. É assim que pensa David Fischel, presidente do Fluminense. “Não estamos no fundo do poço e há um exagero nas críticas que recebemos. O Fluminense, por exemplo, estava a um minuto de se classificar para a semifinal do Rio-São Paulo. Se isso acontecesse, o que diriam? Mas temos que tomar providências para melhorar as coisas, que realmente não andam boas”, admite. O futebol vai mal. No entanto, quem vai sofrer de verdade as conseqüências serão os atletas dos esportes olímpicos. Os presidentes dos grandes clubes do Rio, em recente reunião, decidiram que o parco dinheiro dos clubes não será tão desviado para o basquete, remo, atletismo, natação e outras modalidades. Segundo o presidente do Botafogo, Mauro Ney Palmeiro, o poder público não colabora com o esforço dos cariocas: “Ao contrário do que acontece no resto do Brasil, aqui os grandes clubes investem em quase todos os esportes. E não há nenhum tipo de isenção fiscal, pois não reconhecem nossa função social. A solução que encontramos é acabar com essa política”, afirmou, se solidarizando com os rivais: “Por que a CPI só investigou Flamengo e Vasco? Será que não há irregularidade em Minas, São Paulo e nos outros Estados?”, questiona. Caso de polícia A gestão do presidente Edmundo Silva no Flamengo é repleta de escândalos. Em três anos e meio, as denúncias contra o cartola foram tantas que ele acabou cercado pela polícia. Literalmente. Com um mandado de prisão em mãos, a oficial de Justiça Sônia Helena da Silva foi à Gávea nessa terça-feira para levar Edmundo Silva algemado. Assustado, o dirigente fugiu. Dessa vez, é acusado de ser depositário infiel, por ter negociado o atacante Reinaldo ao São Paulo. O jogador está penhorado em favor do Corinthians porque o Fla não pagou uma dívida de US$ 2,250 milhões, por conta da compra do passe de Edílson. Antes disso, Edmundo foi um dos principais alvos da CPI do Senado, que o denunciou ao Ministério Público por crimes de apropriação indébita, falso testemunho, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e crime contra a ordem tributária. Várias negociações suspeitas foram levantadas. Enfraquecido politicamente e desgastado emocionalmente, Edmundo enfrenta um processo de impeachment articulado pelo ex-presidente Márcio Braga. Mercado inflacionário Para o técnico do Vasco, Evaristo de Macedo, um dos motivos da crise que afeta o futebol carioca foi a iniciativa da Parmalat, no começo dos anos 90, de investir no futebol brasileiro. Ao promover uma co-gestão no futebol do Palmeiras, a multinacional italiana teria inflacionado o mercado, obrigando os clubes do Rio a gastarem o que não tinham para se manterem competitivos. “Fora de campo, o futebol carioca entrou num conflito para o qual não estava preparado. Começou com a Parmalat contratando jogadores caros e com altos salários. Isso fez com que os clubes do Rio seguissem o caminho, mas não tinham estrutura financeira para fazer o mesmo tipo de investimento”, conta. Evaristo vai mais além: “A ISL injetou bastante dinheiro no Flamengo, mas houve má administração. No caso do Vasco, a diretoria investiu o dinheiro da parceria com o Nations Bank em diversas modalidades esportivas. Apostou nisso e os patrocinadores não apareceram”, observa o técnico, que não faz coro com os mais pessimistas: “Tecnicamente, a crise não é bem assim. Não existe isso de fundo do poço. Vasco e Fluminense fizeram boas campanhas no Rio-São Paulo e na Copa do Brasil e o futebol carioca não fica a dever nada ao paulista”. Será?

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