Esportes
Evolu��o: os frutos�do futebol de Alagoas

CYNARA CORREA * As mudanças que vêm sendo registradas nos últimos anos poderão se tornar um marco histórico no futebol de Alagoas. O estranho hábito de se torcer para times de outros Estados - tendo os seus próprios - estão com os dias contados. Uma nova mentalidade começa a ser implantada entre os segmentos esportivos e o resultado são times de qualidade e capacidade técnica que começam a mostrar bons resultados e conquistar reconhecimento a nível nacional. A evolução do futebol alagoano é comprovada em fatos registrados através da própria imprensa. No mês de fevereiro passado o jornal Folha de São Paulo confirmou, através de estatística, que os times de Alagoas passaram a ocupar um destaque em média 30% maior na mídia brasileira, comprovando, também, a ascensão do futebol alagoano principalmente no cenário do aguerrido meio esportivo do Nordeste onde, até dois anos atrás, apenas times de Pernambuco e Bahia ganhavam dimensão maior, se projetavam e projetavam seus jogadores. No mesmo mês, a revista IstoÉ destinou uma página inteira à boa campanha do ASA, de Arapiraca, na Copa do Brasil e enaltecendo basicamente a resposta que o Nordeste está dando às equipes do Sul, aquelas que acumulam títulos nacionais, sul-americanos e mundiais, e que passaram, nos últimos tempos, a se curvar diante da surpreendente campanha dos times cujas folhas de pagamento não ultrapassam a metade do salário de um dos seus jogadores. Outros exemplos práticos dessa mudança são o incremento da venda de camisas, bonés e brindes e, especialmente, se observa um antigo costume que havia sido extinto, que é a volta do uso de bandeiras nos carros. Com isso, retornaram, também as antigas carretas pelas cidades, nos dias de jogos. O precursor ? O que levou a esta mudança repentina e inesperada? O surgimento de um comportamento profissional por parte dos clubes alagoanos, a partir da mentalidade implantada pela nova diretoria do Clube de Regatas Brasil (CRB), à frente José Cabral, Darlan Brandão, Deves Brandão, Niradelson Salvador e Fernando Dacal, que há cerca de dois anos decidiu mudar a rotina retrógrada que limitava os times de Alagoas a uma realidade nada animadora, principalmente em termos de resultados. E a iniciativa, de imediato, começou a mostrar resultados positivos. O CRB foi pioneiro em Alagoas, a fundar uma empresa a SLB (Sportis e Licenciamento do Brasil), assim como os grandes clubes do futebol mundial possuem empresas para representar e administrar os negócios que envolvem a sua marca. O jogador Marquinhos Paraná, 24, que se projetou no CRB, foi emprestado recentemente ao Figueirense, de Santa Catarina, time de primeira divisão. Nas quatro vezes que jogou pela equipe catarinense até agora, Marquinhos tem sido o grande destaque da partida. O próprio jornal Diário Catarinense, do grupo RBS, teceu elogios não apenas à qualificação do atleta, como ao trabalho de valorização que vem sendo realizado pelo CRB. Nova mentalidade ? O jornalista Waldemir Rodrigues, um dos mais respeitados e premiados cronistas esportivos de Alagoas, diz que estas mudanças começaram a acontecer há cerca de dois anos, depois que uma nova mentalidade passou a ser implantada no CRB, que protagonizou boas campanhas pela série B do Campeonato Brasileiro. ?Há dois anos, o CRB chega perto de uma classificação atrás, disso, se observa uma grande mobilização de torcedores?, analisa. ?Além disso, o fato de o ASA ter vendido por duas vezes o Campeonato Estadual ajudou a acabar com a mesmice que acontecia até então, onde só CRB e CSA disputavam títulos?, endossa. Outro fato que, segundo Waldemir tem ajudado a aumentar o interesse pelos times locais, é o televisionamento ao vivo dos jogos das equipes de Alagoas. ?O bom desempenho do CRB no Brasil e também na Copa do Nordeste fez com que aumentasse o público presente aos estádios e, além disso, a valorização das equipes com o espaço que hoje é concedido pela Rede Globo sem dúvida está ajudando a mudar a realidade do futebol alagoano. ?A boa campanha do CRB a nível nacional, depois de uma mudança estrutural e de comportamento dentro do próprio clube e também do ASA no Estadual fez, por outro lado, com que a torcida do CSA também acordasse. Hoje, ele comparece mais aos jogos e, mais do que isso, incentiva e cobra dos seus dirigentes um maior investimento no elenco?, explica. Satisfação ? Outro cronista alagoano igualmente respeitado, Jorge Moraes, concorda que não existe como negar esta nova visão do futebol de Alagoas. ?O torcedor e a própria imprensa agora têm mais confiança em quem está dirigindo os clubes de futebol. Esses dirigentes até podem errar, mas temos certeza de que estão tentando fazer a coisa certa. Atualmente, eu me sinto bem melhor em falar do futebol de Alagoas?, confessa. ?De um modo geral, vejo hoje o nosso futebol muito bem, especialmente com os bons resultados obtidos pelo CRB na segunda divisão do futebol brasileiro?, conclui. Há 12 anos, Washington Oliveira vende bandeiras e camisas de futebol em frente ao Rei Pelé. Ele garante que nunca faturou tanto como nos últimos dois anos e, particularmente, está vendendo mais camisas do CRB e CSA do que antes. ?Os torcedores procuravam camisas do Flamengo, Vasco e como elas, assistiam aos jogos dos times daqui. De 2000 para cá, aumentou em mais de 50% a venda das camisas dos times de Alagoas e caiu a venda dos times de fora. Tanto que, em dia de jogo, eu só trago as camisas dos nossos times?, relata. Mudanças - De hábitos que refletem também mudanças de comportamento. Os torcedores hoje discutem muito mais a situação das equipes e dos jogadores da terra, até porque os times de Alagoas entram nos campeonatos para disputar os títulos e não apenas para marcar presença ou evitar o rebaixamento, como era costume. (*) é jornalista