Tost�o se superou em lance antol�gico

Kobe, Japão - Tom Jobim dizia que o prazo era sua grande musa inspiradora. Tostão diria que a substituição foi a sua. Em 1970, na Copa do México, durante o jogo Brasil e Inglaterra, ao ver que ia ser sacado do time pelo técnico Zagallo, ele reuniu todas as suas forças e fez uma das jogadas mais sensa-cionais da história do futebol. A memória daquele lance, que acabou resultando no gol de Jairzinho, o único da partida, volta agora com o novo confronto entre os dois países – e a revelação deste detalhe inédito por Tostão. Tostão, que está trabalhando como comentarista na Copa no Japão, contou ontem que o jogo estava muito difícil, quando viu o atacante Roberto Miranda, do Botafogo, seu reserva, se aquecendo para entrar em campo. “Percebi que logo seria substituído e não teria mais muito tempo de jogo”, diz Tostão. Foi quando recebeu a bola na ponta esquerda. “Eu precisava me superar naquela bola, podia ser meu último momento na Copa do Mundo”. Fundamental Tostão lembra o lance, capítulo fundamental em qualquer antologia de futebol, com emoção. “No primeiro momento daquela jogada eu fui com tanta gana que podia até ter sido marcado falta”, revela. O juiz, no entanto, não deu nada. Tostão, então, continua com a posse da bola e abre espaço com o braço - uma cotovelada, na verdade - sobre o zagueiro inglês Bobby Moore, num lance duvidoso e viril. Em seguida, evoluindo com a bola como se abrisse um compasso, tabela com as pernas de um adversário - já são quatro que o cercam - e, sem olhar para a área, centra. “Se eu não tivesse visto o Roberto se preparando para me substituir, certamente nada disso teria acontecido”, continua Tostão. A bola lançada pelo atacante mineiro vai parar no centro da área, exatamente nos pés de Pelé. Este domina a bola com os pés e a fixa no chão. Novamente sem olhar (“ele tinha uma visão periférica espetacular”, ressalta Tostão), Pelé dá um toquinho para a direita de onde vem avançando, célere, fazendo jus ao apelido de Furacão da Copa, o ponta Jairzinho. De primeira, na corrida, Jair enche o pé e manda a bola para o fundo das redes do goleiro Banks. Imediatamente após o gol, antes ainda de ser dada nova saída, Tostão é substituído. Roberto já havia assinado a súmula e não era possível voltar atrás. “A angústia de sair de campo num jogo importante daqueles me inspirou, fez com que eu me superasse e partisse pra cima dos ingleses com tudo”, diz Tostão. “A pressão sobre o psicológico às vezes funciona de um jeito positivo e criativo”.