Coluna do Marlon
Liberdade de imprensa e o jogo da verdade
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A imprensa é, por essência, o espaço do desconforto. Sua missão não é agradar plateias nem alimentar fantasias — é investigar, confrontar e revelar o que se precisa saber, não apenas o que se deseja ouvir. E quando falamos de imprensa esportiva, falamos de um terreno onde paixão, poder e identidade coletiva se entrelaçam com intensidade.
A liberdade de imprensa é, antes de tudo, liberdade para existir com autonomia — tanto o veículo quanto o jornalista. É o direito de questionar um dirigente, analisar decisões técnicas, investigar contratos, expor fraudes e manipulações de resultados. Casos que só vieram à tona — e foram punidos — graças à atuação vigilante e persistente do jornalismo. O jornalista esportivo que não pode dizer o que vê não está exercendo sua função: está apenas encenando.
O filósofo John Stuart Mill já dizia que “a verdade não precisa ser protegida do erro — ela precisa ser confrontada por ele para continuar viva”. No esporte, essa verdade precisa ser tensionada a cada rodada, em cada coletiva, nas entrelinhas do discurso oficial e nos bastidores das federações. Onde a crítica é silenciada, o que se protege não é o jogo — é o poder.
Uma imprensa esportiva livre é condição indispensável para a transparência do esporte e a integridade da sociedade. Porque o futebol, esse espelho cultural que mobiliza milhões, revela muito do que somos, inclusive o quanto toleramos desvios em nome da paixão. Quando o jornalismo é obrigado a vestir uma camisa ou calar diante do erro, ele deixa de servir ao público para servir a interesses.
Talvez por isso a imprensa incomode tanto: porque, no fundo, ela ainda é um dos últimos espaços onde a verdade pode ser dita, mesmo quando machuca. E justamente por isso, precisa continuar falando. Porque num país onde a bola rola livre, o pensamento também precisa seguir livre — e vigilante.