ALAGOANA
Brígida Cirilo diz como ajuda a quebrar tabus na arbitragem
Assistente Fifa, ela cita árbitra Edina Alves, de São Paulo, e comenta desafios


Dar os primeiros toques na bola e seguir carreira no esporte mais popular do mundo é o sonho de muitos garotos. E quando a opção é atuar na arbitragem? Aí vira raridade, quase exceção.
No caso da alagoana Brígida Cirilo, a segunda alternativa foi a escolhida. Com pouco mais de 20 anos, a assistente recebeu incentivo de um amigo, contou com o apoio da mãe, iniciou a carreira, quebrou tabus e, atualmente, integra o quadro da Fifa.
Em entrevista à Gazeta de Alagoas, Brígida revelou como tudo começou: “A arbitragem entrou na minha vida quando eu cursava Educação Física. Um amigo se inscreveu e me convidou. Ele disse: ‘Você se encaixa muito bem, vai gostar do curso’. Na turma seguinte, ele me convidou novamente e eu me inscrevi. Dentro do curso, já me apaixonei por todas as dimensões que é a arbitragem”.
Além do incentivo do amigo, a assistente disse que teve um apoio especial vindo da própria casa. “Desde pequena, minha mãe sempre me apoiou no esporte. Ela não teve a oportunidade de praticar os esportes que gostava, por ser filha mulher, naquela época o machismo era muito maior que hoje, então tudo o que eu queria fazer ela sempre me incentivava. E com a arbitragem não foi diferente. Ela sempre queria que eu fosse árbitro central e dizia: ‘Ah, estudar tanto e ficar do lado (risos)’. Aí eu explicava a ela a minha identificação pela assistência e ela sempre me apoiou”.
Cinco anos após começar a carreira pela Federação Alagoana, a assistente passou a integrar o quadro da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A consagração veio em 2021, quando Brígida recebeu o escudo da Fifa. Até chegar ao ponto máximo da arbitragem, a alagoana assegura que precisou combater estigmas, o principal deles foi o machismo. Ela citou como referência a árbitra Edina Alves Batista, da Federação Paulista de Futebol (FPF).
“Muitos tabus já foram quebrados, mas a caminhada ainda é longa. Para nós mulheres, é sempre mais difícil. Um universo totalmente masculino, para a gente ingressar é difícil, mas já quebramos muitos tabus. Tem aí a nossa representante maior: a árbitra central Edina (Alves Batista), que apita jogos da Série A, e aí já abre espaço para outras árbitras”.
Na opinião de Brígida, o que falta são oportunidades para a classe feminina: “Na verdade, o que precisa mesmo é dar oportunidade. Porque nos sentimos preparadas para qualquer desafio. Mas a gente sabe que nesse universo masculino tem que sempre mostrar do que é capaz. Isso, às vezes, cansa, mas nós somos incansáveis, não desistimos. Até porque outras meninas chegarão. Então, a caminhada é longa, mas prazerosa”.
Experiente na função, a assistente apontou os maiores desafios para as mulheres na arbitragem: “O maior desafio é sempre a gente estar mostrando do que é capaz. Em cada oportunidade, a gente está mostrando que é capaz de exercer aquela função independente do sexo. Esse é o maior desafio das mulheres no futebol”.
E lembrou ‘causos’ quando estava atuando à beira dos campos. “Logo no início da carreira, a gente trabalhava em vários torneios de base, amadores, até pela própria federação, eu fui a um torneio do Dia dos Pais e trabalhando no campo, local aberto, levei uma mordida de cachorro (risos). Mas consegui terminar o jogo. Após a partida, fui direto para o hospital, mas foi tudo tranquilo”.
“Outro fato também aconteceu agora recente. Fui trabalhar no jogo do Palmeiras e peguei a bandeira do meu colega, o outro assistente. Aí, na primeira sinalização que fui fazer voou pano, voou cabo, só fiquei com mecanismo manual na mão. Mas foi bem engraçado”, prosseguiu.
A experiente assistente alagoana deu dicas para quem quer ingressar na arbitragem de futebol:
“Para quem quer ser árbitro, assistente é se dedicar, ter amor à profissão, ao futebol, esse espírito de fazer justiça à modalidade. É este incentivo que eu dou. O maior de tudo é se dedicar aos treinos, aos estudos, à preparação realmente”.