GRANDE CONQUISTA
Título invicto marca nova era do futebol feminino em Alagoas
Seleção Alagoana sagrou-se campeã da Copa Rainha Marta NE e novos talentos surgem na terra da jogadora de Dois Riachos


Grandes conquistas passam por diversos fatores. Claro que quando se tem o talento, a técnica e a garra necessária, se tem grande parte do que é necessário, mas tudo passa por um mentor. Alguém que organize as valências e esquematize o plano de forma que prevaleçam os talentos e os diferenciais, nesse caso, uma treinadora. O sucesso da Seleção Alagoana, campeã invicta da primeira edição da Copa Rainha Marta Nordeste, passa diretamente pelas mãos de Karla Santos, que há anos trabalha para fortalecer o futebol feminino no estado.
Em um cenário ainda marcado por poucas oportunidades, escassez de projetos de base e falta de investimentos, ela conseguiu transformar um grupo de meninas em uma equipe competitiva, madura e capaz de se impor diante das principais seleções da região.
Mais que resultados, o título simboliza uma virada de chave: mostra que Alagoas tem talento, tem potencial e tem meninas que estão dispostas a conciliar rotina de estudo e treinos para manter vivo o sonho de jogar futebol. E, ao centro disso tudo, está uma treinadora que enxerga a modalidade muito além do campo, como ferramenta de transformação, disciplina e esperança.
Para a treinadora, não foi apenas um título. Foi um marco. “A competição é de fundamental importância. Alavanca o calendário regional, amplia a seletividade e cria espaço real para a descoberta de novas atletas”, afirma. Segundo ela, o torneio elevou o nível de exigência e reacendeu o sonho de jovens que buscam um lugar no futebol. “Para estar entre as melhores, elas precisam estar em evidência em seus estados. A Copa abriu essa porta.”
Mas revelar talentos não é simples. Num estado que, apesar do título, carece de investimentos e visibilidade no futebol feminino A própria Karla admite admite: manter um time competitivo em Alagoas ainda esbarra na falta de projetos, na escassez de clubes dispostos a investir e no pouco incentivo ao futebol de base feminino.
"Ainda há uma escassez de clubes interessados em investir e dedicar tempo na construção do futebol de base para elas. Hoje, em Alagoas, podemos tirar ver alguns clubes que buscam continuidade em seus projetos, a grande surpresa é o clube Coruripe, que possui um projeto interessante para as meninas."
Entre as jovens que carregam esse sonho está Ana Lays, de 17 anos, um dos destaques da competição. No campo, ela mostra intensidade, força e técnica. Fora dele, vive uma rotina que representa a realidade de grande parte das atletas alagoanas: dividir o sonho com outras responsabilidades. Ana não vive apenas do futebol ela estuda, se organiza e tenta encaixar tudo em dias que, para ela, parecem ter menos horas do que o normal.
“Eu estudo. Consigo conciliar minha rotina com planejamento”, explica. Mas nem sempre foi simples manter esse equilíbrio. Em alguns momentos, a pressão do cotidiano, as dificuldades financeiras e a falta de oportunidades quase a fizeram desistir. “Já pensei em desistir por conta das dificuldades e barreiras que surgem no dia a dia, mas eu consegui superar toda a diversidade”, conta.
Natural de Maceió, Ana hoje é um expoente do talento alagoano, atualmente jogando nas categorias de base do Grêmio, num cenário na qual há uma maior visibilidade, entre os maiores clubes do país. Ainda assim, é um fator que não tem a força que deveria e a meio-campista ressalta que ainda espera ver um apoio maior às meninas que sonham em desempenhar seus talentos, com a atenção proporcional e merecida:
"Eu gostaria que tivesse mais apoio no futebol feminino, mais recursos, oportunidades e a acima de tudo, igualdade. Graças ao torneio (Copa Rainha Marta) as meninas tiveram mais visibilidade através das transmissões e isso pode levar a mais oportunidades e apoio para as jogadoras."
Para ela, a Copa Rainha Marta significou mais do que vitrine e resultado. Trouxe lições sobre disciplina, trabalho em equipe e, principalmente, resiliência — uma palavra que ela repete com propriedade. “Como pessoa, me ensinou a ter resiliência”, afirma.
E, mesmo diante das barreiras, ela mira longe. Seus próximos passos incluem continuar evoluindo tecnicamente, disputar competições nacionais ou até internacionais, e transformar sua trajetória em inspiração. “Quero melhorar minhas habilidades, participar de competições maiores e inspirar outras menininhas a realizar os sonhos delas nesse esporte.”

E, para Karla Santos, esse movimento que começa a surgir tem nome, origem e referência muito claras. No fim das contas, tudo passa por quem abriu o caminho e dá o nome a competição.
“Marta continua sendo inspiração e influência no meio do esporte”, afirma a treinadora. “Para nós, alagoanos, nossa Rainha deixou — e deixará — um legado na história e nos campos, que permeia por todos esses anos. É uma honra saber que a maior de todos os tempos é daqui.”
O título invicto, a visibilidade inédita e as histórias que emergem das chuteiras e dos cadernos dessas meninas formam apenas o primeiro capítulo de algo maior. A Copa Rainha Marta termina dentro de campo, mas segue viva na trajetória de atletas como Ana, na luta de treinadoras como Karla e no sonho de tantas outras meninas que agora, mais do que nunca, acreditam que podem escrever seu próprio futuro no futebol.
Há 39 anos, no muncípio de Dois Riachos, em Alagoas — Nascia a precursora do esporte, que abriu caminho para diversas meninas ao redor do mundo e permitiu que muitas delas pudessem se inspirar e tomar o futebol para si, num cenário majoritariamente masculino.
Em 2025, um torneio que leva o nome da Rainha, pode quem sabe trazer ainda mais olhares para o nosso estado, para outros talentos de Riacho Doce, Maceió ou qualquer outro município de Alagoas, outras "Martas" ou outras "Anas".
