COLUNA DO MARLON
A Solidão dos Campeões
....


Campeonatos nacionais chegando ao fim e vale encarar uma verdade que muita gente evita. Num torneio com vinte clubes, só existe um campeão. Um. O resto inteiro lida com frustração, cobrança e a eterna sensação de que faltou algo. O futebol, que parece festa coletiva, é um palco que esconde desertos pessoais bem mais duros do que mostram as imagens na TV.
A torcida vibra, o estádio treme, a transmissão cria a ilusão de pertencimento. Só que, atrás desse carnaval de emoções, há uma solidão que cresce a cada temporada. Atletas carregam a expectativa absurda de serem infalíveis. Técnicos vivem com o relógio da demissão marcando cada minuto. Torcedores, atrás de avatares, despejam frustrações como se o outro lado da tela fosse um inimigo e não um ser humano. Todo mundo cercado de gente, mas cada um preso na própria ilha.
A era das redes sociais deixou tudo mais cru. O jogador idolatrado à tarde, que erra à noite, volta para o quarto de hotel com o celular explodindo de ataques e o coração implodindo de vergonha. O técnico que ajustou o time passa a madrugada revisando detalhes que ninguém percebeu. O torcedor que diz amar o clube fala como se emoção alheia fosse descartável. Virou rotina. Cada gesto é analisado, cada frase vira sentença, cada tropeço se transforma em massacre.
No fundo, o esporte apenas espelha o país. O brilho convive com o medo de falhar. A cobrança empurra a intimidade para o limite. O jogo vira um teste permanente de resistência emocional. E a solidão dos campeões é a mais intrigante. O vencedor está rodeado, mas quase sempre prisioneiro da obrigação de repetir o que conquistou. Ganhou, mas não pode respirar. Venceu, mas não pode errar.
O convite desta coluna é simples, mas não é fácil. Olhar o esporte com menos voracidade e mais humanidade. Entender que a grandeza dos campeões nasce da força e também das rachaduras. Reconhecer que, por trás de cada vitória ou derrota, existe alguém tentando seguir em pé, mesmo carregando o peso de ser observado o tempo inteiro.
