COLUNA DO MARLON
O corpo fala. O futebol insiste em não ouvir
....


O futebol moderno acelerou. O calendário cobra intensidade, explosão e decisão sem intervalo. A fisiologia pede outra coisa, pede pausa. Quando essas duas forças se chocam, a conta nunca atrasa, vem em forma de lesão, cirurgia, carreira encurtada. O torcedor enxerga o estalo. Quem trabalha com rendimento sabe que o colapso começa antes, no sono mal feito, na carga ignorada, na refeição apressada depois de mais um voo.
E aí aparece o senso comum, aquele velho "ah, ganham milhões". Como se salário blindasse tendão. Como se fibra muscular aceitasse negociação. Não aceita. O corpo não entende contrato, entende limite.
Nesse cenário, o CRB de 2025 virou um caso que deveria ser estudado. Enquanto clubes lotavam departamentos médicos, o time terminou o ano com apenas oito lesões e nenhuma ruptura muscular, com 98 por cento de disponibilidade do elenco. Isso não nasce de sorte. Nasce de um sistema.
O preparador físico Fabrício Pimenta controla a carga e define o caminho. O fisiologista Felipe Irala mede, ajusta e antecipa riscos. O fisioterapeuta Bruno Almeida recupera e devolve o atleta pronto. E o treinador Eduardo Barroca, estudioso, entende que sem respeitar os processos nada sustenta desempenho. Técnico que ignora fisiologia perde jogador antes de perder partida.
O futebol vive uma contradição, quer correr como nunca, mas finge que o corpo aguenta tudo. Só que o corpo não joga no faz de conta. O corpo não participa de narrativa. O corpo vence pela simples regra da vida, funciona até onde é respeitado.
E quando não é, ele fala. O futebol é que segue fingindo que não escuta.
