ANÁLISE
Um time de Série B? Por que o CRB não consegue o acesso?
Em 2026, Galo disputará a Segundona pela 36ª vez, sua 11ª participação consecutiva


O ano muda, mas o roteiro é semelhante para o CRB. Em 2026, o Galo disputará a Série B pela 36ª vez — a 11ª consecutiva — consolidado como um tradicional participante da Segundona, mas ainda sem conseguir transformar campanhas competitivas em retorno à elite do futebol brasileiro. Entre temporadas de euforia e de sobrevivência, o time segue preso ao mesmo ciclo: brilha em alguns aspectos, mas não consegue dar o salto necessário para integrar o grupo dos principais clubes do País.
Em 2025, o CRB foi o único representante do Nordeste na Série B e fez uma campanha considerada sólida. A edição, porém, foi vista como “mais acessível” se comparada a anos anteriores. Mesmo assim, o time mais uma vez ficou no quase: aproximou-se do G4 em várias rodadas, mas terminou “morrendo na praia”.
O grande diferencial da temporada foi o desempenho no Rei Pelé. Em casa, o Galo teve números superiores aos de qualquer outro time da competição, somando 42 pontos, sete a mais que o Coritiba, campeão da Série B.
VISITANTE VULNERÁVEL
Se o Rei Pelé foi uma fortaleza, os jogos fora de casa representaram o principal obstáculo. Como visitante, o CRB somou só 14 pontos — desempenho inferior até ao do Paysandu, lanterna da edição. A discrepância explica por que o acesso nunca esteve realmente consolidado.
Para visualizar a queda, basta comparar: enquanto são 42 pontos conquistados em casa, longe de Alagoas o time conseguiu menos de um terço desse total. A irregularidade foi determinante para manter o time no meio da tabela e distanciado da elite.
Nos últimos cinco anos, a melhor chance de acesso foi em 2021, quando o CRB terminou com 60 pontos. Naquele ano, a equipe teve desempenho como visitante superior ao do Botafogo-RJ, que foi o campeão. Em 2025, o cenário foi o oposto.
MATEMÁTICA
O professor Gilcione Nonato Costa, do Departamento de Matemática do Instituto de Ciências Exatas da UFMG, analisou a campanha regatiana e apontou o que seria necessário para o time garantir o acesso: “Em geral, a pontuação de 64 pontos garante a classificação para a Série A. Os times que lutam contra a queda têm fraco desempenho como mandantes, enquanto os que sobem são regulares dentro e fora de casa. Se o CRB repetisse a campanha em casa e conquistasse cerca de 22 pontos como visitante, chegaria aos 64 pontos, pontuação ideal”.
A matemática, nesse caso, escancara a realidade: o CRB não tem problemas estruturais como mandante, mas um grande deficit fora de casa.
A temporada de 2024 foi marcada por extremos. O torcedor viveu um ano de emoções intensas: o CRB foi tricampeão estadual, chegou à final do Nordestão, mas por pouco não foi rebaixado na Série B, escapando apenas na penúltima rodada, ao vencer o Santos, por 2x0, na Vila Belmiro.
PERDEU FÔLEGO
A avaliação recorrente é de que o elenco não tinha profundidade para disputar simultaneamente a Série B e a Copa do Nordeste. Em 2025, a eliminação precoce da competição regional aliviou o calendário, mas o time chegou às oitavas de final da Copa do Brasil e voltou a enfrentar desgastes e perda de fôlego.
Entre os dois jogos contra o Santos, na 3ª fase, o Regatas disputou três na Série B e somou só cinco pontos dos 12 possíveis. Caso tivesse vencido todos, teria terminado com 63 pontos, um a mais que Chapecoense e Remo, que fecharam o G4.
ANSELMO
Outro ponto sensível foi a saída de Anselmo Ramon, artilheiro e referência ofensiva do clube, que foi para o Goiás e deu lugar a Breno Herculano. Também chegaram ao Galo Mikael e Facundo Barceló.
Herculano vestiu a camisa 9 e começou bem, fazendo três gols em seis partidas e herdando da torcida o apelido de “Padrasto”, já que Anselmo era tratado como “pai”. Mas o encanto durou pouco: com uma sequência de nove jogos sem marcar, o atacante perdeu espaço e apoio da torcida. Mikael, contratado como aposta, demorou a entrar em forma, foi titular na reta final, mas não conseguiu igualar o nível do antigo camisa 9. Facundo Barceló também não engrenou.
A diferença de produtividade foi gritante. Mesmo deixando o CRB antes do início da Série B, Anselmo Ramon marcou mais gols pelo clube em 2025 do que Mikael e Herculano — ambos com seis gols no ano. Na Série B, pelo Goiás, Ramon anotou dez gols, enquanto Mikael fez seis e Herculano, cinco.
* Sob supervisão da Editoria
