Rel�quia estelar mais antiga
Uma estrela nanica e discreta na borda da Via Láctea reacendeu a esperança dos astrônomos de encontrar exemplares da primeira ninhada estelar nascida no Universo. O astro é o primo mais próximo já descoberto das estrelas pioneiras do cosmos. A descoberta
Por | Edição do dia 01/11/2002 - Matéria atualizada em 01/11/2002 às 00h00
Uma estrela nanica e discreta na borda da Via Láctea reacendeu a esperança dos astrônomos de encontrar exemplares da primeira ninhada estelar nascida no Universo. O astro é o primo mais próximo já descoberto das estrelas pioneiras do cosmos. A descoberta foi feita por cientistas da Alemanha, da Austrália, dos EUA e do Brasil, com o auxílio de um telescópio no Chile, e já derruba de cara a hipótese de que as primeiras estrelas do Universo só poderiam ter sido gigantescas e, portanto, de vida muito curta. Isso reforça a possibilidade de que os cientistas voltem a encontrar astros desse tipo no futuro, talvez chegando até a ver estrelas da tão procurada primeira geração. Em essência, uma estrela não passa de uma bola feita de hidrogênio acumulado a partir de uma nuvem de gás primordial. Quando sua gravidade se torna mais intensa, o processo de compactação do gás faz com que ela inicie fusão nuclear em seu interior, grudando átomos de hidrogênio para formar hélio. Quando uma estrela é grande o suficiente e o hidrogênio que alimenta a fusão acaba, ela começa a produzir elementos cada vez mais pesados e termina seu ciclo numa explosão, que espalha esses átomos pelo espaço. Os átomos pesados vão parar em outras nuvens gasosas e acabam incorporados a estrelas em vias de nascer. Por essa razão, quanto mais nova é uma estrela, mais elementos pesados devem estar em sua composição. Em contrapartida, a primeira geração de estrelas deveria ser totalmente formada por hidrogênio e hélio, sem elementos pesados. A estrela recém-estudada pelo grupo coordenado por Norbert Christlieb, do Observatório de Hamburgo, na Alemanha, tem cerca de 12 bilhões de anos, 80% da massa do Sol e concentração de ferro (um elemento pesado) equivalente a dois centésimos de milésimo da solar. A estrela menos enriquecida até então detectada tinha 20 vezes mais ferro. A descoberta está relatada ontem na revista Nature (www.nature.com) e vai abrir portas para um melhor entendimento da história da Via Láctea e do Universo. Esperamos encontrar outras estrelas como essa, diz Silvia Cristina Fernandes Rossi, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, uma das autoras. Em novembro mesmo estou indo ao Chile com uma lista de objetos para observação.